Capítulo 5
Giovanni Matteo Barletta
Foi mais difícil do que imaginei me controlar ontem, tive que me segurar para não forçar a barra e beijá-la. Podia jurar que ela havia flertado comigo à noite toda, mas parecia com receio em ir adiante.
Diferente das mulheres que me aliviam a noite eu me importei com ela a ponto de vê-la fechar os olhos implorando por mais contato e não findar nossa proximidade.
O jogo com ela é intenso e diferente do que estou acostumado.
Fui para casa de pau duro, tive que me aliviar em um banho gelado porque não sentia nenhuma vontade de ir até o club “Piaceri Notturni ” para foder uma puta bem gostoso, sem contar que os olhos dela estão gravados em minha mente.
Eu jurava que iria descartar nossa parceria no momento que ela começasse a negociar, mas foi ao contrário, o profissionalismo e a forma que soube me convencer de que ela era a melhor opção me fizeram fazê-la passar em um teste e ela foi muito melhor do que imaginei.
Nunca me arrependi das minhas escolhas, mas a pior parte é ter que fingir que minhas meninas não são minhas e sim uma obrigação que tive que arcar quando meu irmão e minha cunhada morreram.
Por sorte, Matteo conhecia um bom falsificador que ajudou na minha história e minhas princesas não entendem ainda que todos os sacrifícios que faço é para mantê-las segura.
Um dia irei contar tudo e quem sabe elas possam me perdoar, mas agora elas precisam ser crianças e entender apenas coisas de crianças.
Estou aguardando Genny me ligar, fiz pedidos desnecessários para ela ontem, não havia necessidade de oferecer a proteção dos meus homens nem a fazer trocar de endereço, mas uma casa com fácil acesso poderia nos proporcionar uma privacidade que não teríamos com ela no seu quarto. Aguardo apenas que ela diga sim para tudo e então começamos hoje com nosso “contrato”.
Nunca dei apelido antes e eu mal a conheço, nem mesmo para minha esposa fiz isso.
Estou sentado na minha sala separando os pedidos dos clientes, quero que ela chegue, que possa me mostrar como trabalha e se é tão boa quanto dizem.
Quero uma amostra do produto.
O nome dela pisca na tela, é uma mensagem e não uma ligação, infelizmente não ouvirei sua doce voz.
Chamo meu motorista e peço que vá buscá-la, não sei bem o motivo, mas estou ansioso para vê-la novamente.
Batidas na porta retiram minha concentração da tela do celular.
— Giovanni.
Olho para Matteo e autorizo que entre.
Ele fecha a porta assim que passa por ela.
— Bom dia, meu amigo, o que o traz aqui a esta hora?
Ele se senta na poltrona à minha frente.
— Vai contratar uma mulher para o lugar do Lucca? — Ele é direto.
Muitos dos soldados possuem certo repudio a lideranças femininas, no nosso clã a mulher tem papel exclusivo do lar, cuidando dos nossos filhos.
Minha mulher só aparecia em eventos e jamais atuaria ao meu lado.
— Talvez, ela será nossa fornecedora principal, foi a única que me impressionou até o momento, diferente dos que visitei ao decorrer da semana e nenhum deles se igualava ao Lucca. Ela ao contrário dele se sobressai.
Ele revira os olhos e bate com o punho na mesa.
— Quer virar uma piada? Uma mulher?
Ele realmente está furioso e nem há motivo para isso, pois devemos levar o clã para a contemporaneidade e tirá-la das trevas do passado.
— Esqueceu já o que uma mulher fez na sua vida? — pergunta e sei bem de quem ele fala.
— Não esqueci, mas ela não é a Pietra que está morta. Não acredito que ela irá dormir com o chefe apenas para subir na hierarquia, uma das cláusulas dela é nada de relações pessoais.
Ele parece desconfiado e não só dela.
— Não, ela não é aquela prostitua que tentou armar contra você dormindo com o Capo da máfia inimiga, mas percebi pela foto que ela faz seu tipo. Sei que gosta de morenas e ela pode mexer com a sua cabeça. Acorda, Giovanni, mulher não serve para liderar muito menos para negociar.
Ele é meu amigo e sabe bem quem eu sou tudo que aconteceu.
— Sou seu amigo, seu braço direito no que precisar e faço tudo que for necessário para manter minhas afilhadas em segurança.
Ele é o único do clã que sabe a verdade sobre minhas meninas, e ele não deve dizer isso aqui.
— Matteo, chega, sabe que há muitas pessoas querendo nos destruir e estamos no radar de muitas agências de inteligência desde que expandimos nosso negócio. Eles só não nos pegaram ainda porque somos espertos e temos advogados, laranjas, e claro, uma boa rede de tecnologia. Nossos hackers são os melhores!
Isso é verdade, achei Enrico na “Deep Web”, ele é bom no que faz e nos tirou de muitas ciladas por assim dizer. Foi ele que pesquisou mais sobre Genny e o negócio dela antes de ir vê-la, embora nem ele tenha descoberto sobre a aposentadoria do signor Santiago.
— Você sempre confiou em mim e agora vai me questionar?
Ele é meu amigo, mas ali eu sou o chefe e ele deve lealdade a mim, seja lá qual for a minha decisão.
Ele parece pensar na resposta, abre e fecha a boca muitas vezes, respira fundo e diz:
— Desculpa, Giovanni, mas não posso não ficar preocupado? Como vai saber se ela é realmente o que diz ser e se é tão boa assim?
Sorrio para sua pergunta.
— Minha única preocupação é que pare de pensar com a razão e comece a pensar com a cabeça de baixo.
Reviro os olhos com a sua suposição.
— Eu sou homem e tenho minhas necessidades, mas jamais colocaria a famiglia em uma posição que a colocasse em risco.
Ele se serve de uma bebida e me encara ainda desconfiado.
— Eu te conheço há muito mais tempo que qualquer outro, sei dos sacrifícios que teve que fazer para tornar o que nós somos hoje perante o mundo, mas não posso temer que abrir brechas a famiglia, não possa trazer um traidor em nosso meio. Como irá garantir isso, Giovanni? Eu tenho duas lindas afilhadas que precisam do pai.
Eu não posso tirar a razão dele de desconfiar de tudo, mas se até Enrico confirmou quem ela é, não posso me dar o luxo de perder a única qualificada em fazer o que preciso para derrotar meus inimigos.
— Fiz um teste ontem e ela passou. Hoje pedirei que me mostre o quão boa é e traga uma mercadoria específica de um cliente nosso, aquele que nem o Lucca estava conseguindo. E se ela for tão boa como dizem vai ter que engolir as palavras ditas. Quero respeito absoluto com ela, entendido?
Ele não fica feliz com o que digo, mas concorda com um leve aceno.
— Sabe quem eu sou, não sabe? Algum dia desses seis anos juntos já teve motivo para desconfiar de mim?
Ele balança a cabeça em negativa.
— Quero o mesmo que você para este clã, e sabe todos os sacrifícios que fiz para chegarmos aonde estamos.
— Se ela demonstrar que é de confiança eu a respeitarei, porque me ordenou, signor. — Ele se levanta.
Antes que possa dizer algo, batidas na porta nos interrompem e autorizo a entrada.
Todos sabem que odeio ser interrompido.
A porta é aberta e Alessandro aparece.
— Desculpa, signor, mas há uma moça dizendo que têm horário e mesmo que pareça ser um erro ela me fez vir para avisá-lo.
Eu me levanto e aviso.
— Peça para que entre.
Ele olha assustado e parece apavorado apenas por realmente ser verdade.
Sim, poucas mulheres vem ao quartel, eu nunca trouxe prostitutas para cá.
— Há algo errado?
Ele parece nervoso e me responde com a voz baixa.
— Não, sottocapo, entre senhorita.
Noto que quando entra na sala sua expressão não está nada amigável, parece até desconfortável.
— Está acontecendo algo que devo saber, Alessandro?
Ele nega balançando a cabeça.
Vejo como ela olha para ele e revira os olhos.
— Não, Sottocapo, foi apenas um mal-entendido com os homens.
Estreito os olhos e acredito que entendo onde ele quer chegar.
Olho para ela e percebo que está muito bem apresentável com calça jeans na cor preta e regata social em um tom azul-claro que combina com os adornos dourados com pedras azuis.
— Saia, depois conversaremos.
Ele pede licença e se retira.
— Signorina Genevieve este é Matteo, um velho amigo e braço esquerdo do clã, na minha ausência ele será seu contato direto.
— Bom dia, prazer em conhecê-lo. — Ela estende a mão e ele não a cumprimenta, não é esse tipo de situação que quero.
— Bom dia, continuo a pensare che sia un errore avere questa donna qui, non sa niente della mafia e tanto meno capisce la nostra lingua, si sta innamorando del labbro di una puttana. — diz e sei que está irritado com minha posição e opinião.
— Sabe, enquanto entrava aqui eu ouvi palavras bem feias a meu respeito, mas meretrice é um eufemismo comparado ao que já fui chamada ao longo dos anos que trabalho com meu avô — diz e parece suavizar sua expressão.
Posso jurar que noto um sorriso um tanto malicioso em seus lábios.
— Non è peggio per gli uomini pensare che solo perché sono straniero, non capisco e parlo molto bene l'italiano .
Ela fala italiano muito bem, nem parece uma estrangeira falando nossa língua, tentando acertar as palavras.
— Agora a minha indagação é se vim para fazer negócios ou para ser ofendida por subalternos que não são nem o chefe nem o subchefe? Porque estou a um passo de sair por essa porta e voltar para as minha férias merecidas — ela o desafia em um grau que nem eu o faria.
Ele dá dois passos indo para cima dela, mas eu seguro seu braço.
— Por gentileza entre e sente-se já conversamos.
Ela passa por nós, se senta na poltrona, abro a porta, chamo Matteo e fecho a porta atrás de mim.
—Tenho uma reunião agora, converso com todos os envolvidos depois — concluo visivelmente irritado.
— Mas, signor Giovanni, pensei que ela era uma meretrice e nunca trazemos mulheres para o quartel, peço desculpa por minha falha.
Respiro fundo.
— Ela é a nova fornecedora de armas, espero que não tenham a feito desistir antes mesmo de começar ou ambos irão atrás das armas que ela iria trazer e vão tirar o valor dos seus bolsos. Depois irão pedir desculpas e espero que ela aceite. — Aceno com a mão os dispensando, entro na sala e olho para a moça que me encara atentamente. — Peço desculpas por esta situação, prometo que não irá se repetir.
— Não prometa o que não pode cumprir signor Giovanni, vamos aos negócios por gentileza. — Ela aponta para a cadeira.
Gosto de mulheres decididas, mas não gosto de não dar a palavra final.
— Nunca prometo o que não posso cumprir, gosto de palavra e de quem cumpre com ela.
Ela sorri e me sento na sua frente entrelaçando os dedos, a encarando suavemente.
— Não sabia que falava italiano tão fluente, você é uma caixinha de surpresas — concluo e posso notar um sorriso um tanto quanto envergonhado se formar em seus lábios.
Posso notar como ela sorri de forma graciosa enquanto parece me fitar com muita curiosidade, como se tentasse desvendar meus segredos.
Seria divertido seduzi-la, mas seria melhor ainda vê-la tentar resistir ao desejo que sente por mim.
— Meus pais sempre me incentivaram a aprender novas línguas e culturas, mesmo após a morte deles eu mantive esse desejo vivo e à medida que aprendia queria mais. Tenho graduação em licenciatura de história por isso.
Ela não parece confortável em falar sobre os pais, por isso resolvo mudar de assunto abrindo a gaveta e retirando o contrato de dentro.
— Meus pais também morreram cedo, fui criado junto com meu irmão pelo nosso avô materno que era braço direito do chefe e hoje o faria orgulhoso se me visse aonde cheguei.
Conseguir a aprovação do chefe e do meu avô não foi fácil, ainda mais não sendo o que esperam de quem pertence a máfia. Trabalhei muito duro para obter o respeito que hoje possuo.
— Mas vamos falar de negócios, este será nosso contrato válido por doze meses, se realmente for tudo como prometeu eu aumento consideravelmente a duração dele.
— Andou ocupado esta madrugada — diz e posso notar uma certa ironia ali.
Ela está com ciúmes?
— Sim, o advogado da famiglia me ajudou a preparar o contrato. — Eu me levanto, pego dois copos, coloco gelo, uma rodela de limão e água tônica, e estendo um para ela. — Esses meses são os mais quentes do ano, tem que hidratar bem o corpo.
— Ah, eu não bebo pela manhã por questões óbvias.
Não abaixo o copo, ela pega da minha mão e o coloca na mesa.
— Não costumo beber pela manhã nada alcoólico, abro exceções no almoço e depende da companhia. — Sorrio e me sento na mesa a encarando. — Calma, é só água tônica, mas se não gostar eu coloco água normal.
— Não precisa, eu gosto de água tônica, vou ler o contrato e já converso com o signor.
Ela começa a ler o contrato página por página, sem desviar os olhos do papel até findá-lo.