03
Nova York
LUNA
Acorda!
— Luna! Luna! Acorda! Acordaaaa... — o som da voz da minha irmãzinha me arrancou das profundezas do meu desespero.
Senti uma onda de frio por todo o meu corpo e uma dor forte na minha cabeça. Lentamente vou abrindo os meus olhos. A cabeça está pesada, minha mente completamente enevoada, de tal forma que nem eu mesma consigo me encontrar.
Aos poucos as lembranças vão se tornando cada vez mais claras. E, com elas o medo que se apodera de todo o meu corpo. O lugar está na penumbra.
Ao mover minha cabeça para o lado, me deparo com vários pares de olhos fixos em minha direção, que pareciam tão perdidos quanto os meus.
O pânico tomou conta de todo o meu ser. Desesperada, tentei me levantar, mas ao sentir algo em minhas pernas, logo caí de encontro ao chão, só aí percebi as algemas com correntes grossas, que estavam me impossibilitando de me mover.
A única coisa que me restou a fazer foi gritar.
— Socorro! Alguém me ajude! Socorroooo — quando já estava no limite da minha agonia, um forte clarão surgiu no ambiente, no mesmo instante que as portas foram abertas pelo indivíduo responsável por todo o meu sofrimento, eu jamais me esqueceria do seu rosto.
Então, engoli em seco. Novamente virei à cabeça para o lado e uma dor se expandiu em meu peito ao ver que tinha mais sete garotas. Todavia, todas aparentavam ser mais novas do que eu. O medo estava visível através dos olhos de cada uma delas.
Meus pensamentos foram interrompidos quando a voz do homem ecoou. Instantaneamente vários outros homens, igualmente vestidos de preto, surgiram ao seu lado.
— Sejam bem-vindas ao seu novo lar. O lugar de onde vocês só sairão mortas — um sorriso irônico surgiu em sua face.
O medo atravessou o meu peito, o que fez a dor em minha cabeça se intensificar. Mas, antes de ter qualquer reação, um barulho sutil ecoou, em seguida minhas pernas foram liberadas, mas, antes que fizesse algo, o infeliz segurou com força o meu braço.
Enquanto o homem me puxava, os seus companheiros também estavam retirando as outras meninas do lugar. Só então percebi que era o baú de um caminhão. Ele se deteve e novamente sua voz asquerosa se fez presente.
— Levem todas para o setor B e já sabem o que devem fazer. Dessa atrevida aqui, eu cuidarei pessoalmente.
Ele continuou me puxando assim que terminou de falar. Eu tropeçava nas minhas próprias pernas, mas o homem apertava ainda mais o meu braço.
Minutos depois, parou frente a um elevador, em seguida me puxou, entramos e a porta se fechou. Logo foi ao destino solicitado, e, segundos depois saímos do ambiente.
Atravessamos um hall espaçoso e seguimos para um corredor estreito, onde havia várias portas. Tinha um som de uma música vindo de um dos quartos, porém, logo meus pensamentos se direcionaram para o homem. Este me jogou com brusquidão dentro de um dos quartos e fechou a porta com o pé.
Começou a retirar sua roupa e logo me aproveitei do seu momento de distração e levantei num pulo. Logo, saí em disparada em direção à porta. Antes que cogitasse em alcançar o lugar que era meu objetivo naquele momento, sentir mãos fortes segurando o meu cabelo e o meu corpo foi jogado em cima de cama. Num único movimento, notei que meu vestido foi arrancado do meu corpo, deixando-me somente com as peças íntimas.
Ele se afastou e terminou de retirar suas roupas e ficou completamente nu em minha frente. Ver a imagem dele despido e seu olhar de desejo sobre mim, ocasionou uma reação abrupta, como se estivesse recebido um soco no meu estômago. O meu peito se expandiu em um grande suspiro. Acabei perdendo o fôlego e meu coração se acelerou ao o ver caminhando em minha direção.
“Pense Luna! Pensa! Preciso fazer algo ou aquele infeliz irá conseguir o que tanto deseja. Essa será a minha última chance.”
Ele foi se movendo pela cama até seu corpo ficar estendido sobre o meu. Respirei fundo assim que olhei o objeto em cima do criado mudo ao lado. Enquanto ele se esfregava em mim, minha mão que tremia igual vara verde foi de encontro ao objeto. Então, reunindo forças, o segurei firme em minhas mãos, percebi que era de metal e bem pesado.
Sua mão se moveu entre minhas pernas e assim que seus dedos alcançaram a minha calcinha, sem hesitar e com toda a força vinda através do pânico e do meu desespero, passei o objeto em sua cabeça, fazendo seu corpo grande e pesado cair sobre mim.
Afastei o corpo dele para o lado e ao me certificar que somente estava desacordado, não perdi tempo e me levantei.
Abaixei o olhar e as roupas dele estavam espalhadas no chão. Notei que havia somente um pedaço de pano que sobrou do meu vestido, mas precisava de algo para cobrir o meu corpo.
Em desespero, me abaixei para pegar a camisa dele. E, foi quando a porta foi aberta bruscamente. No mesmo instante, um calafrio atravessou todo o meu corpo.
DUSAN
Meus olhos estavam fixos no grande telão a minha frente. Pois, sempre acompanho de perto a chegada dos novos carregamentos. Temos dezenas de câmeras espalhadas, tanto na parte externa, como interna desse lugar, incluindo a minha própria suíte.
Contudo, há algumas câmeras que somente eu tenho conhecimento. Visto que, pessoalmente as instalei antes da inauguração do The brothel Empire.
Para os intelectuais, o Voyeurismo é um distúrbio mental. No entanto, o The brothel Empire tornou-se a maior e mais procurada casa de luxo do mundo, onde as salas que temos nesse lugar permitem aos indivíduos sentir prazer através da observação de pessoas praticando sexo.
Nunca gostei de mulheres inexperientes. Tanto, que somente após concluírem o treinamento, é que todas passam por mim, para me certificar de que estão realmente qualificadas para serem apresentadas aos clientes. Contudo, nenhuma mulher sequer entrou em minha suíte.
Jamais perderia o meu tempo com uma virgem. No entanto, me deixa em puro êxtase observar cada etapa do treinamento e, principalmente, ver a primeira vez de cada uma delas. Fecho as portas do meu pensamento ao constatar que finalmente chegaram.
Meus olhos permanecem fixos em cada movimento que está acontecendo em volta do ambiente. Dylan e os outros caminham em direção ao baú onde todas estão. Assim que as portas são abertas, o maldito barulho vindo do meu celular tira minha atenção do monitor a minha frente.
Encerro a ligação minutos depois após ter sido informado pelo conselho que dentro de uma semana terei que ir para Belgrado. Contudo, imediatamente a minha atenção se voltou para tela a minha frente.
Apertei o botão que dava acesso às câmeras do setor B, porém, algo me intrigou por não ver Dylan. E, havia somente sete garotas, que estavam gritando a todo vapor, já estavam sendo encaminhadas para o treinamento. Deslizei os dedos em volta do controle digital, acionei as imagens do quarto de Dylan, no exato momento que o vejo completamente despido, vi uma infeliz que estava prestes a acertar a sua cabeça com a maldita estatueta que trouxe quando veio da Austrália.
Senti o ódio inflamando em minhas veias. Meus demônios que minutos atrás tinham se acalmando, desta vez voltaram com tudo. E o único pensamento que vinha em minha frente era arrancar com as minhas próprias mãos o coração da maldita.
Num impulso, me levantei e em passos largos caminhei em direção aos aposentos do imbecil. Esse desgraçado só me mostrou o quanto é incompetente. Seja lá o que a vadia fez, será pouco perto da punição que ele vai receber.
Assim que cheguei em frente ao quarto do infeliz. Abri a porta e meus olhos foram de encontro ao seu corpo, que estava sob a cama e havia uma poça de sangue próximo a sua cabeça.
Abaixei o olhar identificando a responsável. Mas, assim que a mulher se pôs de pé e levantou a cabeça revelando a sua face. Nesse exato momento, senti todo o meu corpo estremecer ao me deparar com o rosto semelhante ao de um anjo, com suas órbitas azuladas e fixas em minha direção.