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Soro não sabia com quem estava lidando e com uma movimentação rápida das mãos, Rubião tirou a arma dele e levantando seu joelho, bateu a arma na perna, quebrando-a.

– Qual é o seu problema? A fêmea é minha companheira e você tem que respeitar isso – falou Rubião, ainda prendendo Mira atrás de si.

– Como pode isso? Meu próprio irmão, desaparecido desde o nascimento, voltou para me ferrar. Mira, você prefere ficar com um desconhecido do que comigo? – Perguntou o macho, desesperado.

Finalmente Mira conseguiu sair de trás de Rubião, mas só para ficar a seu lado, presa pela cintura, por um braço grande e forte. 

– Sempre vou preferir outro macho a você, o causador do sofrimento de minha irmã e que abandonou os próprios filhos – acusou ela.

– Se esse for o problema, eu aceito as crianças se você vier para mim. – Ofereceu Sôro.

Rubião não acreditou no que estava ouvindo e levantando seu braço, fez seu punho fechado encontrar o rosto do outro, com toda a força que possuía. A mandíbula do general deslocou do lugar e ele caiu ao chão, desmaiado.

– Uhuuuu! Bem feito seu macho asqueroso, eu não consigo, mas tem outro que consegue. – Falou Mira, rindo, feliz.

Rubião sorriu com a alegria de sua fêmea, mas ficou preocupado. Tudo indicava que ela era cunhada de seu irmão e que as crianças que ela resgatara eram dele, mas ele as rejeitara. Isso mostrava o caráter dissoluto do homem.

Mira solicitou auxílio de emergência através de seu dispositivo auricular e agora precisam esperar. Enquanto isso, foi até a máquina porteira e solicitou que enviassem as imagens para a superintendência do quartel, eles precisavam saber o que estava acontecendo, corretamente e não distorcido pelo general.

Mira sempre se dera mal em suas queixas e pedidos de transferência por causa do assédio do general, porque ele sempre inventava desculpas e fazia tudo em pontos cegos, onde as câmeras não gravavam. Mas agora tinha provas e talvez conseguisse livrar-se daquele traste.

– Aquelas crianças que resgataste são seus sobrinhos? – Perguntou Rubião pensativo.

 

– Sim. Infelizmente também são filhos deste traste, que era casado com minha irmã e não queria filhos, mas ela engravidou e depois foi capturada. Não consegui sentir mais o sinal dela, mas captei o dos meninos. Acredito que ela deva estar morta. – Explicou Mira.

– Os impuros descobriram os dispositivos que vocês colocavam nos adultos e os removiam, cada vez que capturavam um. A fêmea em questão, foi tomada como reprodutora de um dos líderes. É mantida em cativeiro, na cripta pessoal dele e já teve vários outros filhotes, creio que sete, ao todo – informou Rubião.

Mira arregalou os olhos que se encheram de lágrimas e colocando as mãos no rosto, tentava não se desesperar e não gritar.

– Viva? Mara está viva durante todo esse tempo e esse traste nem foi atrás – foi até o corpo do general e chutou sua barriga.

O general gemeu e acordou, com as próprias mãos, colocou a queixada no lugar e trancou, trincando os dentes. A dor parecia ter sido terrível, mas ele se manteve inerte por alguns minutos, até que tudo ficasse firme no lugar. Seu gene lupino, tinha um poder de cura muito forte e ele estava para se levantar quando o veículo de resgate chegou e dois socorristas desceram rapidamente.

– Mantenha-se imóvel general – falou um dos socorristas, colocando uma peça elástica de compressão em torno se seu  rosto, prendendo o maxilar. 

Mira sorria, vendo como o general estava com raiva de ter que obedecer aos socorristas. Era uma lei irrevogável, ninguém podia impedir um socorrista ou médico de exercer sua função e nem os impedir de realizar o atendimento, alegando estar bem. Muitos haviam morrido assim, por estarem infectados e não sentirem nada. Assim cresceu a população dos impuros.

Levaram o general, que teve que aceitar ser carregado em uma maca suspensa. As macas tinham um dispositivo de flutuação e se moviam sozinhas, direcionadas por controle remoto.

– Vamos Rubião, é melhor fazermos logo seu registro, antes que esse diabo cause algum impedimento. – Guiou ele até a motocicleta e ele achou aquilo estranho.

– Porque não voamos até lá? 

– Porque aqui, você precisa de permissão para voar. Sobe! – Mandou ela, subindo no veículo. Ele subiu atrás, sentindo-se grande demais para aquela coisinha.

Logo chegaram ao quartel e subiram direto para o andar de registros. Mira foi até uma das mesas, fez Rubião sentar e passou o aparelho de reconhecimento de retina, digitando rapidamente, os dados de entrada do ex- desaparecido. A máquina registrou tudo e emitiu o registro de reconhecimento e autorização de moradia de Rubião, agora Sertrá Soro.

– Pronto, está feito e bem a tempo. O general entrou logo depois de mim, tentando barrar sua permanência. Pode contar que ele deve estar vindo aqui. Venha, vamos sair, rápido ! – Ela puxou ele pela mão e correu para a porta de saída de emergência, conseguindo sair cinco segundos antes do general entrar na sala furioso.

 

Os funcionários adoraram o fato dele estar impedido de falar por ordens médicas, senão já teriam ouvido, de longe, sua voz de trovão esbravejando e xingando.

Mira e Sertrá desceram até o andar onde ficava o apartamento dela e seguiram pelo corredor. Sertrá podia ouvir os gritinhos risonhos das crianças. Mira abriu a porta deixando que ele entrasse. As crianças ao ouvirem o som da porta, vieram correndo cumprimentar a tia.

– Tia, tia, tia… - pararam ao ver Sertrá e cochicharam – é o bobão, é o bobão.

– Não é o bobão, este é o tio de vocês, irmão do bobão. – explicou Mira.

– Eu sei quem é ele – falou a menina, virando o pezinho, com o dedinho na boca, sorrindo envergonhada – é o Rub, vigilante.

Sertrá se abaixou para ficar da altura das crianças e abriu os braços, dizendo:

– Sou eu mesmo crianças! –   Anunciou e recebeu-as em seus braços, quando vieram correndo e se jogaram nele.

– Você as conhece e elas a você, como? – Perguntou Mira, admirada.

– Nunca esqueci minhas origens e os horrores do centro de criação – levantou-se, com as crianças se pendurando nele.

– Elas te reconhecem e gostam de você, mas não gostam do próprio pai. – Disse Mira, triste.

– Quando eles chegaram, senti o cheiro de sua irmã e sabia que era parecido com o de minha fêmea e quando os bebês nasceram, acompanhei-os de perto, por isso temos intimidade. – Explicou.

– Vejo que teremos muito que conversar.

** 

Enquanto isso, o general entrou com uma acusação formal de agressão contra Riboão/Sertrá e recebeu um chamado para comparecer à superintendência. Chegando lá, o comandante de setor, colocou a fita da portaria, com a cena da agressão, para que ele visse e como Mira já havia dito. Ele distorceu tudo.

Acusou ela de estar de conluio com o agora vigilante dos impuros e que a intenção dele era de protegê-la, como parente que era. 

O comandante não gostou da fala do general, já havia relevado muitas denúncias de Mira, feitas contra ele, mas sem provas. Só que agora, ali estava a prova, sem contar a outra gravação que não foi mostrada ao general, a luta no centro de treinamento e o claro assédio, com a participação de várias testemunhas e apoiadores, que também seriam indiciados.

Pensou bem e resolveu preparar muito bem aquele caso, pois ir contra um general, sem ter provas probatórias e argumentos contundentes, era morte certa de sua carreira e possível condenação por calúnia e difamação. Relatou sua decisão para o general:

– Vou pôr a comandante Mira em suspensão temporária, enquanto examino melhor o caso e vejo qual a melhor decisão, baixa de cargo ou desligamento. O general sorriu feliz, sem sequer pensar que a sentença final poderia ser contra ele.

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