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Camuflagem

Em sua casa, Mira conversava com Rubião/ Sertrá, enquanto as crianças não saiam de cima dele. Queriam que ele liberasse suas asas, o que estava fora de questão, pelo ambiente não ser muito grande.

– Crianças, chega. A tia Mira precisa conversar e resolver umas coisas com o tio Sertrá. Deixem para brincar outra hora. - Mira falou com aquele tom que não admitia recusas.

Os três pararam em frente a ela, entristecidos.

– Ele vai bora, tia? – perguntou Kity, a menina.

– Não, ele só vai sair quando for trabalhar, mas depois volta – explicou Mira.

Os três sorriram aliviados e correram para seu quarto para continuarem brincando.

– Você quer tomar um banho, comer ou dormir, precisa de algo urgente? – Perguntou ela, não querendo ser mal educada, mas querendo saber tudo que ele pudesse contar.

– Estou bem, podemos conversar. Depois vou precisar de tudo, pois não trouxe nada – comunicou ele sorrindo.

– Não se preocupe, no momento que seu retorno entrou no sistema, tudo que você precisará, até uma casa, lhe será dado. Venha, vamos até a mesa para examinar os mapas que você fez – ela seguiu até uma parede e com um controle na mão, acionou o mecanismo que montou a mesa em um canto da sala.

Seguiram até lá e tinham quatro cadeiras, além da mesa medindo três metros quadrados.  A sala era vazia, contendo apenas um carpete que cobria todo o chão, na cor mel. Era tudo embutido e Mira preferiu deixar assim, por causa das crianças. Estendeu os mapas na mesa e viu que Sertrá tinha um bom riscado, pois os mapas tinham desenhos firmes e perfeitos em simetria, com medidas exatas.

– Deve ter dado muito trabalho fazer tudo isso – ela falou como elogio.

– Foram muitos anos vendo todo mundo dormir e eu sem nada pra fazer.

Ela sorriu para ele e ele se derreteu todo, estava apaixonado. Tinha aceitado que seu companheiro era um jovem, pois até então, os únicos relacionamentos que experimentou, foram com outros homens. Mulheres eram escassas por lá e quando chegava uma ou uma das meninas crescia, eram destinadas aos superiores.

Nunca vira uma mulher nua, até quando era criança, foram separados e ele não viu como eram. Mas descobrir que tem uma companheira, que é o fruto que sempre lhe foi proibido, o estava deixando nas nuvens.

– Sertrá... Sertrá!... Rubião!

– Oi, desculpe, estava distraído.

– Com o que? – Mira ficou preocupada com a distração dele. Será que estaria querendo voltar para os impuros, pensava.

– Pensava em você. Pensei que eras um jovem rapaz e … – ele abaixou a cabeça envergonhado.

– Não gostas de garotas – ela perguntou, cismada.

– Não é isso. É que nunca cheguei tão perto de uma, não sei como é uma mulher. Conhecer você é como um prêmio por tudo que precisei passar ou um presente que eu não mereço mas quero muito – a emoção estava em suas palavras e nas lágrimas que corriam de seus olhos.

– Nem sei o que dizer.

Ficaram se olhando e Sertrá, levantou sua mão para encostar seus dedos no rosto dela. Foi um toque de reconhecimento, parecia um carinho, mas ele não sabia o que era isso. 

– Macia…

Ela sorriu ao ver que ele só queria conhecê-la. Não era um toque sexual, mas sim o experimentar de algo novo. Ela também levantou sua mão e tocou seu rosto, mas foi um carinho. Se aproximou mais e segurando seu rosto, encostou seus lábios nos dele e iniciou um beijo simples, passou sua língua em seus lábios e esperou ele corresponder, quando ele não fez, falou:

– Me imita, isso é um beijo, só companheiros devem fazer. – Explicou ela.

Então aproximaram seus lábios devagar e ele fez o que ela disse e logo estavam em um beijo ávido, sugando, provando, degladiando com suas línguas. Mira passou seus braços por trás de seu pescoço, o abraçando e ele imitou a agarrando. Seus corpos se encostaram e se esfregaram, num prazer crescente.

Zzzzziiiiiimmmmm

Eles pararam o que estavam fazendo ao escutarem a vibração. Ela foi até a parede e tocou em um pequeno botão e uma portinha, como uma tampa, se deslocou e apareceu um comunicador com uma tela de imagem real.

– Olá, superintendente.

– Olá comandante. Informo-lhe que foi instaurada uma investigação dos fatos pertinentes aos vídeos recebidos e também anotada a explicação e queixa do general. Sendo assim a comandante estará afastada de seu posto, até que tudo se esclareça. Segue direto em seu comunicador pessoal, as diretrizes que pautam esse afastamento. – Falou o superintendente.

– Sim, senhor. – Respondeu Mira, sem reclamar, conhecia bem as normas.

– Esteja bem, comandante.

– Esteja bem, superintendente.

Seu comunicador fez um bip e ela foi ver a mensagem.

– É sério isso? Vai te prejudicar? – Sertrá estava preocupado em ter trazido problemas para Mira, mas ela se virou e olhou para ele sorrindo.

– Está tudo bem. Como eu fiz uma denuncia com provas, que como sempre o general contestou contando a versão dele distorcida, o superintendente tem que seguir o protocolo.

– E que protocolo é esse? – Ele perguntou sem entender porque a palavra do general valia mais que as provas.

– Não se preocupe, é só papelada e a mensagem que ele me enviou, diz que não será retirado nenhum dos meus benefícios e eu posso aproveitar para trabalhar a adaptação das crianças e a sua também. – Ela falou alegre.

– Acho que isso é bom, tô adorando a nossa adaptação – falou sorrindo malicioso, também.

– Acho melhor a gente preparar um projeto de resgate das crianças que estão aprisionadas, o que você acha?

– Podemos sim, mas eu preciso de explicações, pode ser? – Sertrá perguntou.

– Sim, o que você quer saber? – Mira permitiu-lhe perguntar.

– Primeiro, que espécie de ser você é, pois parece que você não me reconheceu como companheiro –  Mira ficou séria com a pergunta.

– Sou como você, sem a parte lobo – respondeu de forma simples.

– Mas naquele dia, você sumiu das minhas vistas e não foi voando, foi muito rápido ou você tem outro dom? – Insistiu.

– É um segredo de família, acho que nem o pai das crianças sabe desse segredo, minha irmã nunca contou e ela só foi capturada porque estava grávida e se descuidou, não dando tempo de se ocultar.

– Então realmente existe um dom que lhe ajuda a encobrir as fugas – continuou ele, insistente e pensativo.

– Porque você quer tanto saber? Que interesse pode ter para você, esse meu outro lado? – Perguntou ela, incomodada com sua insistência.

– Porque pode nos ajudar e quero saber se as crianças que estão lá, também vão conseguir fazer a mesma coisa – ele explicou mesmo sem saber qual o dom dela.

– As crianças têm, mas não sabem usar, então não podemos contar com elas.

– E sua irmã? – Ele olhou sério, bem dentro de seus olhos, querendo dizer que o assunto era sério.

– Minha irmã está morta… – falou triste.

– Eu já te disse que não, que ela está viva e é escrava de barriga e que também já teve mais cinco filhos e está grávida de novo, qual parte você não entendeu? – Falou de uma vez só.

Mira ficou tão transtornada com a confirmação, que não aguentou e desmaiou, sendo segura pelos braços fortes de Sertrá.

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