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Capítulo 4

Um farfalhar de saias na porta anunciou a chegada de sua última tentativa de buscar ajuda.

- Desculpe-me pela demora, Lorde Cherbourg. Eu estava pensando em jantar com as crianças. Não estava esperando uma convocação. -

A nova babá pronunciou a última palavra com um tom gélido na voz, um sinal de que ainda não o havia perdoado pela dureza com que ele a tratara naquela noite.

- Foi um convite, Srta. Huxley", Tobias a corrigiu com um sorriso, tentando amenizar seu comportamento gelado.

Ela já esperava isso, dada a maneira abrupta e fria com que ele a havia dispensado, e esperava compensá-lo durante o jantar. Ele não podia se dar ao luxo de perder outra babá. O significado daquele convite para ele era claro, mas a escolha do vestido dela mostrava que ele não tinha certeza de como interpretá-lo. Era uma reunião de negócios ou um convite de boas-vindas?

Era uma reunião de negócios ou um jantar de boas-vindas? A Srta. Huxley havia optado pela primeira possibilidade. Era um vestido mais adequado para o chá da tarde ou para fazer compras na cidade, mas não era elegante o suficiente para um jantar com um dos libertinos mais famosos de Londres.

Simples e prático, ele criava um contraste impressionante com seu traje formal para a noite.

- Você vai sair mais tarde? -

Ela olhou para ele rapidamente, tentando avaliar a extensão do erro que havia cometido. Era fácil ler a mente dele, não tanto porque ele era transparente, mas porque não tinha medo de falar claramente.

Naquela tarde, Tobias tinha apreciado a franqueza dela, mesmo que eles não tivessem se separado nos melhores termos.

-Sim, mas não é um compromisso com uma agenda rígida. Posso vir quando você quiser. -

Salir havia perdido parte de sua atratividade no mês seguinte ao desaparecimento de seu irmão. Três meses de luto era a regra quando um parente próximo morria, pelo menos quando a morte ocorria de forma convencional.

A de Edgar não tinha sido assim e, por isso, London ficou feliz por Tobias ter retomado seus hábitos. Ele só os havia interrompido por duas semanas, tempo suficiente para buscar as crianças na corte de Cherbourg.

Tobias suspeitava que essa atitude tolerante se devia a um ávido interesse por fofocas. Se ele tivesse ficado isolado por três meses, os fofoqueiros teriam menos rumores para espalhar sobre o fim de seu irmão, e a temporada teria sido muito mais monótona.

O mordomo anunciou que o jantar estava servido e ofereceu o braço à Srta. Huxley, secretamente satisfeito por ela ter ficado tão desconcertada com as boas maneiras dele quanto havia ficado antes com sua atitude excessivamente confidencial.

- Que situação formal! - comentou ela, sentando-se na cadeira que Tobias havia reservado para ela.

- Peço desculpas por meu traje excessivamente modesto. Eu não tinha certeza... -

A voz se arrastou e ele a imaginou em seu quarto, dividida entre o vestido de popeline e o único vestido de seda que possuía.

"Você fez bem em guardar a seda para uma ocasião melhor", ele a tranquilizou, sentando-se.

- Como você sabe? -

Ela lhe lançou um olhar severo, provavelmente imaginando buracos nas paredes para espiar o quarto dele. Ele dissipou seus temores com uma risada.

- Não se preocupe, Srta. Huxley. É tudo muito simples. Para entender as mulheres, você precisa olhar para as roupas que elas escolhem. -

Ele havia aprendido isso há vários anos e, desde então, esse talento lhe serviu muito bem. Ela colocou o guardanapo de linho no colo e lançou-lhe um olhar pouco convencido.

Tobias recostou-se em sua cadeira enquanto os criados de libré serviam a sopa e observou o efeito da luz da vela nas feições delicadas da Srta. Naquela manhã, seus cabelos estavam quase completamente escondidos pelo chapéu, mas no momento estavam presos em um coque macio que deixava à mostra seu gracioso pescoço. O efeito fez com que ela tivesse vontade de desamarrá-lo e passar os dedos por ele.

"A luz dá um lindo brilho ao seu cabelo preto", observou ele enquanto os criados de libré se afastavam.

- E o que isso diz a você sobre mim? -

Ela lhe lançou outro olhar penetrante com os olhos verdes.

- Você não acredita em mim sobre as roupas, não é, Srta. Huxley? -

Tobias pousou a colher. Ele estava começando a se divertir. Observar e tirar conclusões sempre foi fácil para ele. A maioria das mulheres adorava seus jogos de adivinhação.

- Deixe-me fazer uma demonstração para você. Aqui, as cores claras são geralmente escolhidas. Com seu cabelo preto e olhos cor de esmeralda, é uma boa escolha, não é? -

- Sim, você está.

Por mais surpresa que estivesse, Roxa teve de admitir que suas maneiras eram impecáveis. Ela levou a colher aos lábios sem derramar uma gota de sopa.

"A nova babá é realmente uma mulher de boa família", pensou ela.

- Agora você está intrigado... Percebi pela maneira imperceptível como você se inclinou para a frente. -

Tobias baixou o tom de voz, dando um tom íntimo à conversa. Seus olhos verdes brilharam. Bom sinal, ele aprovou em seu coração. Estava claro que a armadura de gelo estava derretendo.

- Tudo bem", ela o desafiou. - Já que você é tão bom, diga-me por que uma babá deve ter um vestido de seda. -

A conversa parou enquanto o peixe estava sendo servido.

"Mais de um", ele a corrigiu quando os criados se retiraram.

Como ele sabia, não sabia dizer, mas tinha certeza. A Srta. Huxley estava acostumada a tecidos finos e rendas delicadas. Ele pegou a mão dela e traçou círculos lentos em sua palma.

- Diga-me que estou certo. -

Uma mulher que usava vestidos de seda e gostava de ter janelas no quarto era um mistério emocionante.

- Você não corresponde à imagem comum de uma babá... -

Ela se enrijeceu e retirou a mão.

- Você também não corresponde à imagem comum de um conde. -

Ela voltou sua atenção para o peixe e Tobias percebeu com curiosidade que havia tocado em um ponto sensível. Suas roupas eram bem cortadas, era impossível não notar. Jovem, bonita, com roupas elegantes e uma atitude franca em relação a um homem que deveria intimidá-la, a Srta. Huxley não era o que parecia à primeira vista.

- Isso não era uma crítica. Nunca me senti atraído pelo que é considerado normal. -

Ele não disse mais nada; não havia motivo para assustá-la com outras deduções. Portanto, havia o risco de ela fugir, e isso era a última coisa que ele queria. Ela precisava de uma babá disposta a permanecer a seu serviço e a ignorar quaisquer segredos que ela pudesse ter.

A Srta. Huxley terminou o peixe sem dar um único passo em falso. Tobias sempre observava as mulheres quando aquele prato era servido em jantares chiques. Era a oportunidade perfeita para ver se elas realmente eram o que diziam ser. E a Srta.

E a Srta. Huxley era ainda mais. Sua nova babá tinha maneiras impecáveis à mesa, como se estivesse acostumada a jantares à luz de velas com pratos de porcelana e taças de cristal.

Quando a carne foi servida, os pensamentos de Tobias tomaram um rumo mais erótico. Ele descobriu que não podia observar os modos educados dela sem contemplar os movimentos sedutores de sua boca e garganta enquanto ela engolia.

Assim, seu olhar acabou descendo para os seios revelados pelo decote, provocando uma miríade de pensamentos proibidos, a maioria dos quais se referia a todas as maneiras de tirar a roupa dela e deitá-la sobre a mesa.

- Está tudo do seu agrado, Srta. Huxley? - perguntou ele, seu tom mais sedutor do que solícito. - Você gostaria de mais um pouco de vinho? -

Ele já estava flertando descaradamente, acariciando a base do copo vazio com uma lentidão provocante. Ele se perguntou se ela teria coragem de descobrir seu jogo e logo percebeu que sim. Que bom. Ele nunca gostou de pessoas covardes.

- Diga-me, Lorde Cherbourg, você flerta com todas as mulheres que encontra, ou apenas com as governantas? -

Tobias encheu novamente seu copo para ter uma desculpa para se aproximar ainda mais.

- Você está enganada, Srta. Huxley", respondeu ele maliciosamente. - Se você estivesse realmente fazendo o que diz, perceberia. -

Isso não era verdade, mesmo que ele estivesse moderando seus hábitos e ambos soubessem disso. Ele riu e encheu novamente o copo.

- Proponho um brinde, Srta. Huxley. Ao melhor de nosso conhecimento. Saúde! -

Roxa bateu suavemente seu copo contra o dele. Era impossível resistir a essa afabilidade sedutora. Era algo natural para ele e, por isso, ela tinha que mostrar bom senso para ambos.

Talvez para os padrões dele não fosse um flerte, mas a sociedade educada pensaria o contrário. Não é de se admirar que a Sra. Pendleton o tenha chamado de libertino.

As mulheres provavelmente cairiam a seus pés, e ele nunca deixava de atrair a atenção feminina. Bonito e charmoso como era, Lorde Cherbourg conseguia conquistar todas elas sem esforço algum.

Bem... isso não se aplicava a ela, se esse fosse o objetivo dele. Ele deixaria isso claro para ela quando chegassem ao queijo e às frutas. Teria sido a nota certa para encerrar a noite.

Roxa deu uma mordida no queijo cheddar e depois cobrou.

- Lorde Cherbourg, pensei que o objetivo deste jantar fosse falar sobre crianças. Já estamos no final e nem sequer as mencionamos. -

Mais direto do que isso...

- O que você gostaria de saber sobre elas? -

Lorde Cherbourg encheu novamente sua taça e Roxa se perguntou se seria a terceira ou a quarta. O vinho parecia desaparecer como água.

"Poderíamos começar delineando um programa e depois falar sobre a educação deles", sugeriu Roxa.

Essa foi a conversa mais estranha que ela já teve. Ela esperava receber instruções, não perguntas.

- Cronograma? -

Lorde Cherbourg espetou o queijo com uma expressão irritada. Seu tom ficou tão frio quanto quando ele a dispensou à tarde.

- Não há horário, Srta. Huxley. Sua vida virou de cabeça para baixo. Você acabou de perder seu amado tutor e viu cinco governantas falecerem no espaço de poucas semanas. Desde a morte de meu irmão, nada mais foi estável para você. -

Roxa se recusou a ser intimidada.

- Mas eles têm você, meu senhor. Ao não ter uma babá, você terá imposto alguma ordem na vida deles... -

Durante sua infância, seus pais estiveram presentes e envolvidos.

- Sim, é claro, mas chamar isso de... programa me parece um exagero. -

Ela se recostou na cadeira e seu copo estava vazio novamente.

- Vejo em seu rosto que a desapontei, Srta. Huxley. Talvez suas exigências sejam muito altas. -

Agora ele não estava mais flertando.... Na verdade, seu tom parecia indicar uma baixa opinião sobre si mesmo.

- Não se esqueça de que sou um solteiro acostumado a viver como solteiro. Se eu soubesse como criar filhos, você não estaria aqui. -

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