Capítulo 3
- Olá, Seis, eu sou Primrose, também conhecida como Rose, e tenho sete anos de idade. Este é meu irmão Alec e ele tem oito anos. -
Ele riu novamente.
- Mas veja... Seis, sete, oito... Todos nós somos números consecutivos. É um jogo muito engraçado. Tio Toby, você entendeu minha piada? Seis, sete, oito? -
- Sim, querida. É muito divertido. -
O conde lhe deu um sorriso indulgente e pegou sua mão. Aquele gesto carinhoso provocou uma estranha reação no estômago de Roxa.
"Talvez seja melhor entrarmos", sugeriu ela.
A estranha cena nos degraus da frente já estava atraindo olhares curiosos da rua.
- Ah, sim... Desculpe-me. -
O conde empurrou todos para o corredor, onde uma empregada já estava recolhendo os cacos do vaso da tia Augusta.
- Agora você pode passar para as apresentações e... -
Ele fez uma pausa e franziu a testa, procurando as palavras certas.
- E tomar uma xícara de chá. Você terá que me desculpar... Parece que deixei minhas boas maneiras no chão, junto com o vaso. -
Ele passou a mão em seus cabelos escuros. Ele estava mais bonito do que nunca. Roxa nunca teria imaginado que gostaria tanto do conde.... Ela se deu conta disso quando todos se sentaram na sala de estar, inclusive as crianças.
Ela esperava um homem de meia-idade com costeletas grisalhas e um olhar lascivo, incapaz de manter as mãos para si mesmo, um pouco como o amigo de seu tio, o Barão de Godefroy.
O chá chegou e Roxa olhou furtivamente na direção da porta.
- Seus alunos vão se juntar a nós? -
Havia quatro xícaras na bandeja. Será que as crianças ficaram para o chá? O conde lhe lançou um olhar estranho e apontou para os pequeninos.
- Eu já estou aqui... -
Então ele riu com diversão.
- A Sra. Pendleton não explicou isso a você, não é? Que raposa velha! Não é de se admirar que ela tenha encontrado alguém tão rapidamente. -
Ela se endireitou, na defensiva.
- Ela mencionou que os alunos de vocês eram jovens. -
- De fato, eles eram. Preciso de uma babá para Alec e Primrose", explicou o conde, instruindo-a a servir o chá.
Roxa estava feliz por ter as mãos ocupadas enquanto organizava seus pensamentos. Nenhuma menina para introduzir na sociedade, mas dois meninos precoces e selvagens, que andavam descalços pela casa, como bárbaros.
Ele teria feito isso.... Ela tinha que fazer! Afinal, ela havia ajudado sua tia com seus primos pequenos. Ela só precisava se adaptar a esse novo e inesperado desenvolvimento.
- Como você toma seu chá, senhor? - perguntou ela, demorando-se com a mão sobre o açúcar e o leite.
"Nada", respondeu ele, dispensando a oferta com um aceno de mão. - Você pode me chamar de Tobias ou, se preferir, de Sr. Hart. -
O que a Sra. Pendleton havia dito sobre a morte do irmão? O novo conde não parecia muito interessado em herdar o título. Roxa se arrependeu de não ter ouvido com mais atenção o dono da agência.
- Meu senhor, nenhum dos nomes é apropriado, e você sabe muito bem disso. -
Ela lhe passou a xícara de chá com um sorriso, na esperança de amenizar a franqueza daquela afirmação. Discutir com o patrão no primeiro dia não foi um bom começo.
- Eu deveria chamar você de Lorde Cherbourg. -
Ele sorriu novamente, procurando um tópico de conversa mais neutro. O que suas governantas fizeram no primeiro dia de trabalho? Ele tentou se lembrar enquanto tomava um gole de chá.
- Lorde Cherbourg? -
Ele levantou as sobrancelhas, chamando a atenção para seus olhos azuis, como duas chamas vibrantes de vida e malícia.
- Acho que é o melhor, em todos os sentidos. -
Ele era um homem perigoso... com sua boa aparência e seu jeito casual demais. Meia hora em sua companhia já havia provado isso completamente. Ele nem sequer se deu ao trabalho de vestir o paletó e enfiar a camisa na calça. Para surpresa dela, ele riu e se inclinou para a frente, com um sorriso malicioso curvando os lábios.
- Em todos os aspectos? Na verdade... você estava debaixo de mim antes", ele a corrigiu.
- Sr. Cherbourg, você tem filhos! -
Que, no entanto, não pareceram impressionadas com a piada ousada. Na verdade, elas riram como loucas.
"Elas fazem isso com frequência", apontou Roxa, "sem dúvida encorajadas pela atitude permissiva de seu tutor".
Rir era bom, mas aqueles dois precisavam aprender a se controlar um pouco.
- Isso é verdade. -
Ela esfregou o queixo pensativamente, embora Roxa tenha tido a nítida impressão de que ela estava zombando dela.
- Se realmente tivermos que ser formais, não posso simplesmente chamar você de Seis. -
Ele sorriu novamente. Não havia nada de ultrajante na frase, mas os olhos azuis transmitiam uma mensagem muito diferente. Primrose olhou para ele desanimada.
- Mas eu quero chamá-la de Seis. Se não fizermos isso, tio Toby, vamos estragar o jogo. -
Lorde Cherbourg arqueou as sobrancelhas e olhou para Roxa com um sorriso, esperando a resposta dela.
Meu Deus, que linda!", pensou ele.
Os lábios de Primrose tremeram e uma onda de pânico tomou conta dela. Ele não queria fazê-la chorar assim que chegasse àquela casa. As palavras saíram de sua boca sem pensar.
- Sexo... Hum... Seis é bom. -
Que ódio! O que ele havia dito? Ele levou a mão aos lábios, mas já era tarde demais.
- Ah, é mesmo? É bom você saber. -
O sorriso de Lorde Cherbourg ficou ainda mais largo. Ela corou, mortificada. Não tinha feito nada certo desde que chegara.
"Eu queria dizer... Seis", ela gaguejou.
Ela se virou de volta para a garota. Qualquer coisa era melhor do que olhar para o conde.
- Você pode me chamar de Seis, se quiser, Primrose. Será nosso nome especial. -
A garota sorriu, e Roxa sentiu uma sensação de triunfo, que foi imediatamente abafada pela piada seguinte de Lorde Cherbourg.
- E quanto a mim? Talvez eu deva encontrar um nome especial para você também. Eu poderia chamar você... -
Ele deixou a pergunta no ar, forçando Roxa a interrompê-lo se não quisesse que ele lhe desse a resposta. Ele estava pronto para fazê-lo, ela tinha certeza disso.
-Senhorita Huxley. É assim que você deve me chamar", respondeu ele rapidamente.
A situação estava ficando fora de controle e era absolutamente necessário restabelecer alguma aparência de autoridade. Ele não podia permitir que ela pensasse que ele poderia dominá-la com sorrisos.
- Primrose, por que você e o Alec não vão brincar enquanto eu me ajeito? Assim, poderemos nos conhecer melhor... Talvez durante um passeio no parque? -
Roxa percebeu imediatamente seu erro. Sem as crianças, ela teria ficado sozinha com o escandaloso conde.
- Gostaria de me desculpar pelo lapso que você cometeu agora há pouco. Saiu da minha boca sem querer. -
- Não precisa se desculpar, Srta. Huxley. -
Ele se recostou em sua cadeira e a estudou com uma expressão divertida.
- Garanto a você que, pela minha experiência, a boca é uma parte muito importante do corpo. -
Esse comentário foi a gota d'água para você.
- Você está exagerando, Sr. Cherbourg. Na última hora, você me derrubou, flertou comigo e abalou meus nervos normalmente calmos. Estou começando a entender por que as outras cinco governantas antes de mim foram embora. -
- Oh, não, Srta. Huxley! Você acabou de arranhar a superfície. -
O bom humor que iluminava seus olhos desapareceu instantaneamente. O conde se levantou e a encarou, frio e distante.
- A governanta acompanhará você até seus aposentos. -
No andar de cima, houve um barulho, um grito e um choro infantil de desespero, seguidos pelo som de vozes. As criadas correram para consertar o último de uma longa série de desastres. O vaso quebrado da tia Augusta foi apenas a vítima mais recente. Roxa olhou para o teto.
- Você não parece precisar de uma babá, Lorde Cherbourg. Você precisa de um milagre. -
Ela soltou uma risada fria.
E a Sra. Pendleton mandou você para cá. Bem-vinda à Casa Cherbourg, Srta. Huxley! -
Eu estava atrasado... Tobias olhou para o relógio na lareira. De acordo com a posição de seus ponteiros, apenas um minuto havia se passado desde a última vez que ele olhou para ele.
Ele desejou que a Srta. Huxley se apressasse. Ele estava com fome e se arrependeu do tom ríspido que havia usado com ela naquela tarde. Ele não tinha noção da confusão em que havia se metido, isso estava bem claro, mas, por outro lado, ainda estava atrasado.
O convite falava claramente. O jantar era às sete horas e já eram sete e cinco. Não que ele tivesse o hábito de jantar com suas governantas. Ela não o fizera com as cinco primeiras, mas elas não eram jovens e bonitas, nem dominaram seus pensamentos durante toda a noite.
Aquelas solteironas amargas e secas, enviadas pela Sra. Pendleton, estavam preocupadas com a propriedade, e não em viver bem. Não é de se admirar que não tenham resistido.
Se havia uma coisa que Tobias sabia fazer, era aproveitar a vida. Depois de tudo pelo que passaram, as crianças mereciam um pouco de diversão. Desse ponto de vista, ele estava se saindo muito bem em seu novo papel de pai.
Tobias amava Primrose e Alec, mas não tinha ideia de como cuidar deles. Seu irmão Edgar era o especialista nessa área. Foi ele quem os acolheu quando, quatro anos atrás, o pai de Primrose e Alec morreu repentinamente de febre.
Agora Edgar também havia morrido. Ninguém jamais imaginaria que as crianças ficariam com ele, confiadas aos seus cuidados e aos da ajuda doméstica de que ele tanto precisava.