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Capítulo 2

Cheia de euforia, Roxa ouviu as divagações da mulher de uma orelha só. A imponente senhora estalou a língua em sinal de desdém.

- É uma história ruim. O novo conde de Cherbourg é um notório libertino. Ele passa as noites em festas, enquanto as crianças se tornam cada vez mais incontroláveis e selvagens. E ainda há a questão de seu irmão.... -

Ele estalou a língua novamente e olhou para ela por cima dos óculos.

- Ele morreu de repente... de uma forma chocante. Como eu disse, é uma história ruim, mas se você quiser, o lugar é seu. Embora eu duvide que você consiga manter uma situação tão complexa sob controle. -

É claro que ele queria! Naquela situação, ele não podia se dar ao luxo de ser exigente. Por mais necessário que fosse, sua fuga tinha sido realmente precipitada. Ele estava começando a se dar conta disso agora.

- Isso me serve muito bem, Sra. Pendleton. Muito obrigado a você. Você não vai se arrepender. -

Ele teria continuado a enchê-la de expressões de gratidão, mas a Sra. Pendleton ergueu a mão.

- Bem... eu não sei, mas talvez você saiba. Tenho certeza de que você não ouviu nada do que eu disse, Srta. Huxley. -

- Oh, sim, Sra. Pendleton. -

Realmente não era uma mentira. Eu tinha ouvido a maior parte. Novo conde e dois pupilos, e algo sobre a maneira chocante com que o último conde de Cherbourg havia morrido. A situação não parecia tão horrível quanto a Sra. Pendleton havia feito parecer.

Para Roxa, o que importava era que ela havia encontrado um emprego. Agora a vida poderia continuar como ela planejava. A mulher expressou suas dúvidas com um olhar duro.

- Muito bem, então. Desejo-lhe boa sorte, Srta. Huxley, mas se você não conseguir se manter naquela casa de Satanás, não quero vê-la aqui novamente. Este é o único lugar onde você chegará sem uma referência. Sugiro que você tenha sucesso onde os outros cinco antes dela falharam. -

Roxa se levantou, tentando esconder sua surpresa. Ela deve ter perdido alguma coisa enquanto estava ocupada comemorando as boas notícias.

- As outras cinco? -

- As outras cinco governantas, Srta. Huxley. Acabei de contar a você... Você nem ouviu a parte sobre o libertino dissoluto, ouviu? -

Ela levantou o queixo, determinada a não parecer surpresa. Ela não havia escutado direito, era óbvio.

- Você foi muito clara, Sra. Pendleton. Mais uma vez, obrigada a você. -

A parte sobre o libertino foi muito infeliz... Talvez ele tivesse ido da frigideira para o fogo, passando de um libertino para outro.... Por outro lado, ele duvidava que alguém pudesse se igualar à depravação de Godefredo, o homem com quem seu tio pretendia casá-los.

Ele também duvidava que veria o conde com frequência. Os libertinos certamente não eram do tipo caseiro, especialmente se estivessem cercados pelas mil atrações que Londres tinha a oferecer. Era difícil levar uma vida dissoluta em casa.

Uma hora depois, uma carruagem a deixou em frente à residência do conde de Cherbourg, na Liberty Square, e ela partiu novamente com suas últimas moedas. No entanto, foi um dinheiro bem gasto. Sozinha, ela teria vagado por horas sem encontrar o lugar.

Londres era realmente uma cidade impressionante! Roxa nunca tinha visto tantas pessoas juntas. O trânsito, os cheiros e os ruídos teriam sido suficientes para intimidar até mesmo o mais intrépido compatriota.

Ela protegeu os olhos com a mão e observou a imponente residência de quatro andares. A essa altura, tudo o que ele tinha a fazer era dar um passo à frente. Ele pegou suas malas e subiu as escadas para encarar seu futuro.

"Concentre-se no lado positivo", advertiu a si mesmo.

Por um lado, seu plano estava indo de acordo com o planejado. Além disso, havia aquele endereço de prestígio a ser considerado. Quando saiu de Exeter, ele imaginou encontrar trabalho em uma família respeitável, talvez ansiosa para promover a ascensão social da filha. Ela nunca teria sonhado em acabar na casa de um conde.

É claro que ela nunca havia considerado a possibilidade de ser forçada a procurar trabalho e deixar Exeter. Nos últimos meses, ela teve que enfrentar muitas mudanças inesperadas.

Como filha de um cavaleiro e neta de um conde, Roxa havia crescido com expectativas que se revelaram infundadas. Ela poderia ter ficado com eles. Seu tio havia planejado para ela uma vida de luxo e conforto com um marido nobre, mas a um preço que ela não estava disposta a pagar.

Mesmo agora, depois de viajar por uma semana e colocar uma grande distância entre ela e Exeter, o simples pensamento a fazia estremecer de desgosto. Sua falta de cooperação havia impossibilitado que ela ficasse em casa e, por isso, ela estava pronta para recomeçar sua vida, depois de cortar os laços com a família do tio.

A alternativa era um sacrifício que ela não estava disposta a fazer. Ela os havia deixado para trás e agora precisava se defender sozinha. Ela não podia voltar, embora tivesse certeza de que seu tio a procuraria. Ele não poderia ser encontrado... nunca mais.

Ela teria se refugiado na casa do Conde de Cherbourg, e seu tio teria desistido e encontrado outra maneira de cumprir suas obrigações com o odioso Barão de Godefroy.

Resolutamente, ela levantou a aldrava com cabeça de leão e a deixou cair contra a porta. Lá dentro, ela ouviu o som de pés correndo, seguido de um grito, uma risada e um barulho.

Roxa fez uma careta ao pensar em algo caindo aos pedaços.

- Eu vou embora! - gritou uma voz.

- Não! É minha vez de abrir a porta! -

Então o caos se espalhou pelas escadas. A porta foi aberta por um homem descalço, com os cabelos escuros desgrenhados e uma camisa pendurada na calça. Ele certamente não se parecia com um mordomo, mas Roxa não teve tempo para refletir sobre a estranha aparição.

Atrás dele, duas crianças vieram correndo, parando no último momento atrás dele e provocando uma reação em cadeia que jogou todos no chão. Roxa acabou embaixo dos outros e olhou para cima do emaranhado de pernas e braços para contemplar os olhos mais azuis e bonitos que já tinha visto.

Apesar dos dois meninos amontoados ao acaso em cima deles, ela não ignorou o fato de que aqueles olhos eram acompanhados por um corpo viril e musculoso, que naquele momento estava pressionado contra o dela da maneira mais inconveniente.

- Olá!", o homem a cumprimentou com um sorriso jovial. Seus cabelos escuros caíam sobre a testa com um descuido casual.

"Estou aqui para... Hum... Para a vaga de babá", ela gaguejou, mas logo se arrependeu.

Naquelas circunstâncias, cargo não era a palavra ideal. Por outro lado, ela teve sorte de conseguir formular um pensamento coerente com aquela massa de músculos pressionada contra ela.

- Estou vendo... -

Um brilho malicioso brilhou em seus olhos azuis. Ele estava ciente das circunstâncias pouco ortodoxas, estava claro, e não parecia se importar. Quem quer que fosse, deveria parecer arrependido. Nenhum criado de libré digno desse nome teria se comportado de forma tão descarada se se importasse com seu lugar.

Esse belo sujeito, no entanto, não parecia nem um pouco preocupado. Ele riu, provavelmente para ela, levantou-se e ajudou as crianças a se levantarem. Todas pareciam convencidas de que o incidente era uma grande piada. As duas crianças começaram a falar em uníssono, em tom animado.

- Você viu como eu virei a esquina? -

- Você viu como eu virei a esquina? - Eu me agarrei ao corrimão e corri em direção à entrada! -

Os olhos de Roxa se arregalaram com aquela palavra estranha.

- Você foi fantástico, Alec, parecia uma bala de canhão! - exclamou o homem de olhos azuis com grande entusiasmo.

- Mas nós quebramos o vaso da tia Augusta! -

A garota começou a rir nervosamente. O homem bagunçou o cabelo dela.

- Não se preocupe, foi tão horrível. -

Inacreditável! Será que eles se esqueceram dela? Roxa estava se levantando, atrapalhada pelas saias e pela bagagem, quando uma mão grande se abaixou para ajudá-la.

- Está tudo bem com você? -

A voz grave era casual e amigável, mais uma prova de que o homem não levava nada a sério.

- Eu vou melhorar logo. -

Roxa ajeitou o paletó do terno de viagem e alisou as dobras da saia na tentativa de recuperar a compostura.

- Sou a nova babá. A Sra. Pendleton me enviou. Gostaria de falar com o Conde de Cherbourg, por favor. -

Então, talvez eu tivesse obtido algum resultado. Se você não conseguiu nada, os olhos azuis ficaram ainda mais maliciosos.

- Você já está falando com ele. -

Ele lhe fez uma reverência galante, em total desacordo com seu traje esfarrapado.

- Tobias Hogvan, conde de Cherbourg... a serviço de você. -

- Oh... O conde é... você? você?

Ela tentou não olhar para ele. Nobres dissolutos não deveriam ser tipos viris e musculosos que flertavam com um simples olhar. Os olhos azuis brilharam com diversão.

- Agora que já estabelecemos esse fato, como devemos chamar você? -

Ele a encarou com um sorriso deslumbrante que certamente derreteria o coração de qualquer mulher. Roxa preferia pensar que estava com as pernas fracas por causa da entrada tempestuosa naquela casa. Ele se virou para as duas crianças, que estavam olhando para ele com adoração.

- Não podemos chamá-la de nova babá. Não é um nome... -

Os pequenos começaram a rir novamente. A menina sorriu e bateu palmas.

- Tio Toby, eu encontrei! Ela é a sexta... Vamos chamá-la de Seis. -

Ele lhe fez uma graciosa reverência.

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