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Capítulo 1

Dizia-se nos altos círculos que Tobias Hogvan conseguia levar uma mulher ao orgasmo simplesmente observando-a do outro lado da sala. De perto, as possibilidades eram infinitas, assim como as curvas do corpo exuberante de Lady Jen.

Tobias colocou a mão no bumbum da moça, contemplando essas possibilidades enquanto passava pela multidão reunida para o início da temporada de dança, marcada pela exposição anual de arte da Royal Academy.

Lady Jen lançou-lhe um olhar de falsa relutância, que não deixou dúvidas quanto à direção semelhante de seus pensamentos. Tobias sabia o que ela queria. Era o que todos queriam: que os rumores que circulavam sobre ele fossem verdadeiros.

Ele ansiava por experimentar o êxtase que se dizia que ele poderia proporcionar a suas inúmeras amantes. E ele também queria isso. Ele queria se perder no prazer. Ele se destacava... era um verdadeiro gênio nesse campo.

Ele conhecia e praticava todos os vícios dos cavalheiros: cartas, jogos de azar, corridas, bebidas. Conhecia as devassidões das prostitutas da classe alta e os quartos das mulheres casadas.

Como elas, Tobias sabia que o prazer era apenas um sinônimo de uma fuga um pouco menos desesperada. Ele já se sentia desesperado, e a temporada havia acabado de começar - desde quando o esplendor de uma primavera londrina cheia de danças e mulheres bonitas havia perdido seu encanto?

Tobias descartou o pensamento e levou Lady Jen até a última obra de Turner, que retratava o incêndio na Câmara dos Lordes e na Câmara dos Comuns em outubro anterior.

Se tudo tivesse corrido como ele esperava, teria passado a tarde imerso nas graças voluptuosas da moça, esquecendo-se de tudo em sua cama. Ele se curvou sobre ela e começou o jogo da sedução.

- Observe como o pincel de Turner transmite a energia das chamas.... Ele usa amarelo e vermelho para transmitir a imagem das chamas ardentes do inferno. -

O leve roçar dos dedos dela em seu braço, quase inocente, alimentou um fogo diferente. O perfume de Lady Jen encheu as narinas dele com sua fragrância cara e pesada. Tobias preferia aromas mais frescos e limpos.

- Hmm... Você é um verdadeiro especialista na técnica... er... de chocar", murmurou ela, movendo-se de modo que os seios roçassem a manga dele em um convite discreto.

- Oh, Lady Jen... eu sou especialista nisso e em muitas... muitas outras coisas", respondeu Tobias com intimidade.

- Por favor, me chame de Clarissa. -

Ela deu um tapinha brincalhão na manga dele com o leque fechado.

- Você tem tanto conhecimento... Por acaso você também é pintor? -

- Sou apenas um amador... -

No passado, ele tinha tido aspirações muito diferentes, até que, em certo momento, com pesar e surpresa, percebeu que a pintura havia deixado de ocupar um lugar central em sua vida. Ele não conseguia se lembrar de como isso aconteceu, apenas que não pintava mais.

Lady Jen... Clarissa olhou para ele por baixo de seus longos cílios e deu um sorriso provocante.

- O que você está pintando? -

A conversa estava tomando o rumo que ambos queriam. Tobias já tinha a resposta pronta.

- Nus, Clarissa. Eu pinto nus. É um tema empolgante e eu diria que, a cada dia, com cada tema, a qualidade do meu trabalho... aumenta... -

Lady Jen soltou uma gargalhada rouca com a alusão, confirmando sua vontade de deixar a sala lotada para um lugar mais confortável, com seus pincéis maliciosos. Ele permaneceu com a mão na manga.

- Você não tem um pingo de decência, não é mesmo, meu senhor? -

Tobias cobriu a mão enluvada dele com a sua.

"Receio ter nascido sem isso, Clarissa", ele confirmou com um gemido baixo e animalesco, destinado apenas a ela.

Os olhos de Lady Jen se iluminaram com as possibilidades que se abriram com essa admissão e um sorriso provocante curvou seus lábios inchados que ela havia umedecido com a ponta da língua.

"Uma... qualidade deliciosa em um homem", declarou ela.

Ela estava ansiosa e disponível, o que tornou a conquista menos excitante. Aquela rendição fácil foi quase decepcionante, mas Clarissa Jen era um prêmio cobiçado. Seu marido estava fora da cidade com outra mulher e, segundo rumores, ela estava pronta para conhecer seu primeiro amante desde o nascimento de seu segundo filho no outono anterior.

Já estavam sendo feitas apostas sobre a identidade do escolhido. Tobias tinha vindo a Londres com o propósito expresso de vencer aquela corrida e confirmar sua fama escandalosa. Ninguém poderia dizer que ele havia perdido seu toque mágico, que, por influência de seu irmão mais velho, Edgar havia recuperado a cabeça naturalmente.

O destino havia decretado que Edgar, o primogênito, herdeiro da fortuna dos Hogvan e do título de conde de Cherbourg, deveria ser o bom, enquanto Tobias, o segundo, deveria ser o mau, um contraste natural com as virtudes de seu amado irmão.

Assim, ele havia interrompido sua estada em Sussex com Edgar para tomar a esposa de outra pessoa e provar que os rumores escandalosos a seu respeito eram verdadeiros. Se ele refletisse sobre os detalhes ou não bebesse o suficiente, achava a situação um tanto sórdida.

No último ano, Tobias descobriu que precisava recorrer ao álcool com frequência para evitar pensar demais. O frasco de prata estava sempre ao seu alcance e, no momento, ele se sentia sóbrio demais para o seu gosto.

Ele estava prestes a tomá-lo, mas foi interrompido pela chegada de um criado de libré com uma bandeja de prata e um envelope lacrado.

- Perdoe-me a intromissão, meu senhor. Esta carta acabou de chegar e é de extrema urgência. -

Tobias a estudou, intrigado. Ele não tinha interesse em política ou negócios que exigissem sua atenção. Em resumo, ele não era o tipo de pessoa a ser procurada para assuntos urgentes.

Rompeu o lacre e leu as quatro linhas escritas com a caligrafia precisa do Sr. Browning, o advogado da família, e depois examinou-a novamente na esperança de que, em uma segunda leitura, a mensagem fosse menos absurda e horrível.

- Você tem más notícias? - perguntou Lady Jen, seus olhos cor de avelã se arregalaram.

Sua expressão preocupada mostrava que ele devia estar branco como um lençol. Não poderia ser pior. Essa história teria circulado por Londres em poucas horas, mas a sociedade educada não queria ouvir isso dele. Ele não estava preparado para fingir na frente de sua última conquista no meio daquela sala lotada. Ele deu um sorriso sensual para disfarçar o tumulto de emoções que o abalava.

- Minha querida Clarissa, infelizmente, tenho que mudar meus planos.... -

Ele lhe fez uma breve reverência.

- Você pode me dar licença? Parece que de repente eu me tornei... um pai. -

Ele pegou o frasco, mas parou. Não havia brandy suficiente no mundo para aliviar uma dor tão insuportável.

"Preciso de ajuda", pensou Tobias. Preciso desesperadamente de ajuda.

- Aceitarei qualquer trabalho que você tenha a oferecer. -

Roxa Gosling sentou-se ereta, com as mãos enluvadas apoiadas no colo, tentando parecer educada e não desesperada. Porque ela não estava desesperada. Ela se forçou a acreditar nessa afirmação, para que os outros também acreditassem. As pessoas sentiam o cheiro do desespero como os cães sentem o cheiro do medo.

De acordo com o pequeno relógio preso ao corpete, eram dez e meia da manhã. Ela tinha vindo direto da carruagem do correio para a agência de empregos para senhoras de boas famílias dirigida pela Sra. Pendleton e precisava de emprego naquela noite.

Até um momento atrás, tudo havia corrido conforme o planejado, mas naquele momento a Sra. Pendleton estava olhando para ela hesitante por cima dos óculos.

- Não estou vendo nenhuma referência... -

Seus seios fartos balançaram em sinal de desaprovação. Roxa respirou fundo e repetiu para si mesma as palavras que a haviam sustentado durante a longa viagem desde Exeter: "Encontrarei ajuda em Londres". Ela não ia desistir só porque não tinha nenhuma referência para mostrar. Afinal de contas, ele havia previsto esse obstáculo.

- Esta é a primeira vez que procuro trabalho. -

É a primeira vez que uso um nome falso. Primeira vez que viajo para fora de Devonshire. Primeira vez sozinho em uma cidade tão grande e tão cheia de pessoas que não conheço.... Se você soubesse quantas coisas novas estou enfrentando, Sra. Pendleton...

A outra arqueou as sobrancelhas duvidosamente, deixou de lado a carta bem escrita e olhou para ela com um olhar inflexível.

- Não tenho tempo para jogos, Srta. Huxley. -

O nome soou decididamente falso para Roxa, que havia passado toda a sua vida como Srta. Então, a Sra. Pendleton notou ou suspeitou de alguma coisa? A mulher se levantou, indicando que a entrevista havia terminado.

- Estou muito ocupada. Imagino que você tenha notado a sala de espera cheia de jovens mulheres com referências, todas ansiosas para encontrar emprego em uma casa respeitável. Sugiro que você tente em outro lugar, Srta. Huxley. -

Não... Você sair de lá daquele jeito... Isso era inaceitável! Ela não podia ir embora sem ter para onde ir. A quem ela poderia recorrer? Ele não sabia de nenhuma outra agência de empregos. Ela só tinha ido até lá porque uma de suas governantas havia mencionado isso para ela uma vez. Roxa tentou pensar rapidamente.

- Eu tenho algo melhor do que referências, Sra. Pendleton. Tenho muitos talentos... -

Ele acenou com a cabeça para a carta abandonada.

- Sou boa em costura, sei cantar, dançar, falar francês e pintar aquarelas. -

Roxa parou quando viu que a mulher não parecia muito impressionada com aquela lista. Naquele momento, tudo o que ela tinha a fazer era implorar.

- Ela implorou, Sra. Pendleton.... Ajude-me. Não tenho mais para onde ir. Você deve ter alguma coisa. Você deve ter alguma coisa. Posso servir de dama de honra para uma senhora idosa ou posso servir de babá para uma menina. Estou disposta a aceitar qualquer trabalho. Deve haver uma família em Londres que precise de mim. -

Eu não imaginava que seria tão difícil. Londres era uma cidade grande e oferecia muito mais oportunidades do que a remota zona rural nos arredores de Exeter, onde todos se conheciam.... Uma situação que Roxa estava desesperada para evitar.

Ela não queria se destacar, mas estava descobrindo rapidamente que as escolhas tinham consequências. Ela tinha acabado de chegar a essa cidade desconhecida e seu plano cuidadosamente elaborado corria o risco de sair pela culatra.

Mas implorar funcionou. A Sra. Pendleton voltou a se sentar e abriu uma gaveta da escrivaninha.

- Talvez você tenha algo, Srta. Huxley. -

Ela abriu a gaveta e retirou uma pasta.

- Não é realmente uma situação familiar. Nenhuma das moças sentadas ali estaria disposta a aceitar isso. Nas últimas três semanas, já mandei cinco governantas para lá. E todas elas foram embora depois de alguns dias. Cinco, Srta. Huxley! -

A Sra. Pendleton empurrou a pasta em sua direção.

- Aqui está... Ele é solteiro e tem dois pequenos alunos herdados de seu irmão, o Conde de Cherbourg. -

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