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Capítulo 2

Petrus Borbolini

Sento-me na cadeira de ferro que tem um tom alaranjado e um policial põe as algemas, me prendendo a pequena mesa à minha frente. Aonde fui me meter? Droga, eu podia estar agora em meu escritório, fazendo o meu trabalho e ganhando o meu dinheiro suado. Como dizia a minha mãe; “de grão em grão a galinha enche o papo.” Sempre achei esse ditado devassado, mas agora ele faz todo sentido para mim. Do outro lado da cela, vindo por um corredor largo, vejo Simone Borbolini, minha prima e confesso que sinto raiva de vê-la aqui mais uma vez. Não entendo porque ela ainda não desistiu de mim. Sério, olha para mim agora. Não sou ninguém, perdi o meu nome, a minha credibilidade, a minha decência e quase prejudiquei o meu melhor amigo e tudo isso por causa do Adam Klive Parker. Aquele desgraçado me enganou direitinho e por mais que os advogados façam e tentem provar que eu também fui mais uma vítima desse desgraçado, eu ainda estou aqui. Perdi treze anos da minha vida e nesses longos anos as únicas pessoas que vieram me ver foram a Simone e o meu irmão, Oliver. Sinto falta do meu amigo e se arrependimento matasse, a esta hora eu estaria debaixo de sete palmos de terra.

Eu e Adonis tínhamos um pacto de irmãos. Nós sempre nos apoiamos, sempre estivemos por perto seja qual fosse a situação e eu ainda não acredito que fiz aquilo com ele. Com certeza o meu pai deve estar envergonhado. Franklin Borbolini é um homem muito correto, sincero e íntegro e sempre nos ensinou a seguir por esse caminho. E eu falhei miseravelmente. Só me resta agora juntar o resquício de dignidade que ficou no fundo do poço e de alguma forma tentar consertar as coisas com o Adonis e quem sabe me aproximar dele outra vez, lhe pedir perdão, algo que tentei fazer algumas vezes, na esperança de que viesse me ver, mas ele nunca veio. Sei que isso não será nada fácil e eu o entenderei perfeitamente se nunca me perdoar. Eu o traí e não sou mais o homem de sua confiança.

O som da fechadura se abrindo me desperta e eu encontro os olhos meigos da minha prima me avaliando. Simone é uma mulher extremamente linda! Os seus cabelos cor de ouro agora estão mais compridos e o jeans que reveste o corpo pequeno, desenha cada curva com riqueza de detalhes. A blusa branca está um pouco suada e revela um pouco do sutiã meia taça de cor clara. Ela se aproxima da mesa e joga sobre ela um envelope branco com um emblema da polícia federal. Encaro o envelope por alguns segundos e depois os olhos claros e vividos e ela me sorri amplamente.

— Conseguimos — diz finalmente. Ajeito-me na cadeira e me perguntando o que exatamente nós conseguimos? Ela parece lê os meus pensamentos. — Você está livre, Petrus Borbolini — fala radiante. O coração dispara forte no peito quando escuto a palavra “sair” da sua própria boca e mais uma vez encaro o envelope largado em cima da mesa. Com as mãos trêmulas seguro o objeto e o abro sem a menor paciência, liberando o papel que tem o meu nome no topo. Leio o conteúdo do documento e rio sentindo o alívio nas lágrimas que começam a se formar em meus olhos após anos. Olho para Simone, sentindo as mesmas molharem o meu rosto em seguida. Queria poder abraçá-la, mas as algemas não me permite. E como se lesse os meus pensamentos, Simone se levanta da sua cadeira, contorna a mesa e se agacha ao meu lado para me abraçar forte.

— Obrigado! — digo quase sem voz e sentindo um nó apertar a minha garganta. — Por não desistir de mim. — Completo. Ela se afasta um pouco e enxuga as minhas lágrimas.

— Eu jamais desistiria de você, Petrus — sussurra. — Me perdoe se demorei muito! — Faço não com a cabeça.

— Não peça perdão por isso. Eu mereci cada minuto que fiquei nesse lugar — resmungo baixinho, puxando a respiração para conter as minhas emoções. — Quando posso sair daqui? — pergunto ansioso e ela volta a sorrir.

— Agora mesmo, se você quiser. — Um sorriso espontâneo se abre imediatamente.

— É claro que eu quero! — Ela retribui o meu sorriso animada.

— Então, quero que volte até a sua cela e quero que arrume as suas coisas. O advogado já está acertando a sua saída. Estarei te esperando do lado de fora. — Simone deixa um beijo cálido em meu rosto molhado e sai. O policial veio logo em seguida e tirou as algemas do meu pulso e segurando o meu braço, me guiou para fora da sala de visitas. Enquanto caminho de volta para minha cela, fico olhando Simone desaparecer por uma porta de ferro larga e alta.

Finalmente a liberdade! Finalmente uma chance de reconstruir a minha vida! Terei que começar do zero, mas isso não importa. Dessa vez farei tudo valer a pena, cada esforço, cada conquista e dessa vez não farei pelo caminho mais fácil.

— Estive pensando, você bem que podia ficar em meu apartamento. — Ela diz de repente enquanto dirige o carro pelo asfalto da BR. Eu a encaro surpreso, mas ela dá de ombros. — É só enquanto você consegue organizar a sua vida, Petrus.

— Eu não acredito que será uma boa ideia, Simone. Sou um cara bem espaçoso e… — Tento protestar, mas ela me lança um olhar rápido e depois volta a se concentrar no trânsito.

— Relaxa, Petrus! Não estou te pedindo em casamento. Sei que tudo que você tinha foi confiscado pelo banco. Você terá que começar de baixo e eu só estou te oferecendo um lugar para ficar. Só isso. — Insiste. Olho para o lado de fora, pela janela do carro sem lhe dar uma resposta e respiro fundo. O pior é que eu realmente não tenho onde ficar. A minha única oportunidade é me agarrar à mão que Simone está me estendendo. Então faço um sim, com a cabeça concordando com ela e volto a olhá-la.

— Tudo bem Simone, eu aceito, mas será por pouco tempo — aviso. Ela acena um sim, sorrindo e eu volto a encarar as ruas pela janela.

Esses meses na prisão me ensinou muita coisa e da pior forma possível. Por muitas vezes me livrei de algumas ciladas e tive que baixar a minha cabeça para algumas coisas. Era isso ou perder a minha vida lá dentro. A pior parte era ter que pagar para ter uma boa noite de sono. Os caras que estavam de olho em mim, podiam me matar dormindo se eu vacilasse. Tive tempo de sobra para pensar em minha vida e durante alguns desses pensamentos, pus na minha cabeça que preciso encontrar aquela idiota da Sandy e fazê-la pagar por cada minuto que passei lá dentro e claro, o Sniph também. Esse me pagará em dobro. E o Adam, esse já está pagando o seu preço. O carro da Simone para em frente a um belo hotel que fica bem no centro da cidade. Olhando o edifício daqui de dentro do carro, ele parece alcançar o céu. Saio do veículo pegando a minha mochila que está largada no banco de trás. Uma mochila com poucas roupas, foi tudo o que me restou. Sinto o calor da palma da mão da Simone em minhas costas e nós começamos a andar em direção da entrada do prédio. Confesso que me sinto como um peixe fora d'água diante de tamanho luxo, mediante a roupa que estou usando agora. Um jeans surrado, uma camiseta de algodão e um par de sandálias de couro. Levo as mãos aos cabelos agora mais cheios, crescidos e soltos o ar com força, me sentindo incomodado com essa situação. Adentramos o elevador e em silêncio e quando esse se fecha, me concentro nos números vermelhos do painel, para ver se a minha mente para de pensar um pouco.

Ok, eu só preciso voltar ao mercado de trabalho, encontrar alguns investidores e começar a dar os meus primeiros passos sozinho. Depois disso, estarei andando com os meus próprios pés. Penso.

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