Capítulo 2.2
As portas metálicas se abrem e Simone sai na minha frente, mexendo em sua bolsa em busca das chaves. Aproveito para olhar o largo corredor que tem as paredes em tons claros e alguns detalhes com madeiras finas e envernizadas. Há também algumas lamparinas em formato de tulipas transparentes nos cantos das paredes e alguns vasos coloniais com algum tipo de planta verde e viçosa dentro deles. O piso de madeira escura e lustrosa completa o requinte do lugar. Escuto o barulho da chave na fechadura e logo a porta está aberta e Simone me dá passagem e meio sem graça eu entro no apartamento. O lugar é bem a cara dela, tem o jeitinho todo dela. Móveis modernos com tons claros, uma única parede pintada de rosa choque, que expõe um quadro imenso de nós quatro rindo sobre as gotículas d’água. A imagem me faz sorri. Me lembro bem desse dia. Eu, Oliver, Adonis e Simone fomos a um parque aquático, foi um dia marcante e bem divertido.
— Eu amo esse quadro! — Ela diz me despertando. — Ele me lembra o dia mais divertido das nossas vidas. Isso aconteceu dias antes do Adonis ir para longe, lembra? Antes de você se tornar um homem da cidade. — Suspiro abrindo um sorriso e aceno em concordância.
— É uma ótima foto! — comento e a olho.
— Vem, quero te mostrar o seu quarto — diz segurando a minha mão e me puxa para o outro lado da sala. Logo entramos em um corredor pequeno e estreito que tem três portas brancas. Simone abre a segunda porta e faz um gesto de mão para que eu entre. Adentro o cômodo e de cara um objeto muito conhecido me chama a minha atenção. Um troféu de surf que eu ganhei na minha adolescência. Olho para trás e encaro a linda garota sorridente encostada no espaldar da porta me olhando.
— Achei que se sentiria mais à vontade se tivesse algo seu aqui — diz. Sorrio com vontade pela primeira vez desde que pus os meus pés para fora daquele inferno.
— Obrigado, Si! — pronuncio o seu apelido de infância e o seu sorriso parece se ampliar.
— Não tem o que agradecer, Petrus. Está com fome? — pergunta. Faço não com a cabeça.
— Eu só preciso de um banho e dormir um pouco, se você não se importar — peço.
— Eu não me importo. Vou sair um pouco então. O apartamento é todo seu. — Ela avisa e depois vem até mim e fica nas ponta dos pés para beijar-me o rosto. Os nossos olhos se encontram por alguns segundos e algo diferente acontece dentro de mim, mas não sei ao certo o que é.
Em anos essa é a primeira vez que deito a minha cabeça em um travesseiro macio e repouso o meu corpo sem preocupações e sem o medo real da morte. Abro os meus olhos e encaro um sol de fim de tarde através das imensas janelas de vidro transparentes. Porra, eu dormi praticamente o dia inteiro! Me sento na cama e esfrego os meus olhos, passando as mãos nos cabelos e sacudindo os fios em seguida. Preciso cortá-los. Penso. Meu estômago começa a roncar e eu lembro que não comi nada o dia inteiro. Então saio da cama e antes de sair do quarto encosto o meu ouvido na madeira da porta, mas não escuto nada além do silêncio do outro lado. Ótimo! Simone ainda não voltou. Penso me sentindo mais à vontade e saio do quarto em seguida, usando apenas uma cueca boxer e vou a procura da cozinha.
O apartamento é grande e bem espaçoso. Fora do corredor encontro a sala de visitas e mais duas portas e logo encontro a cozinha por trás de uma imensa parede de vidro fosco, acoplada a sala. Entro no cômodo parando bruscamente na entrada, quando vejo a minha prima usando apenas um minúsculo short de algodão bege. O short é tão pequeno que parte da sua bunda fica de fora. A danada está dançando alguma música agitada nos seus fones de ouvidos, enquanto cozinha algo que eu não sei o que é. Os meus olhos atrevidos varrem o corpo pequeno e semi nu. Seguindo um pouco mais para cima, encontro o top negro que deixa boa parte do seu tronco de fora também. Merda! Eu não devia ficar aqui a olhando, certo? Porra, Simone você quer me matar? Puxo a respiração de nervoso e resolvo sair da cozinha, andando de costas e sem tirar os meus olhos de cima dela. Penso em voltar e anunciar a minha chegada, quem sabe assim ela se recompõe? Dou mais um passo para trás quando ela se vira segurando uma panela e solta um grito alto, me fazendo gritar também. A panela que estava em sua mão vai ao chão e espalha uma espécie de molho e Simone leva uma mão trêmula ao peito.
— Droga, eu não sabia que você estava aí! — diz nervosa e se agacha para pegar a panela. — Ai, merda! — Ela solta um gemido dolorido em seguida e sem pensar duas vezes, eu corro ao seu encontro.
— Você está bem? — pergunto preocupado, me agachando ao seu lado e seguro a sua mão, analisando sua pele imediatamente. — Está machucada, se queimou? — pergunto passando a mão em seu corpo, verificando cada parte dele e paro quando noto que ela tem o olhar fixo em mim. Merda, estou só de cueca! Mas que porra? Inquiro mentalmente e exasperado quando noto o olhar da minha prima fixos em uma parte de mim. Eu olho na mesma direção e me vejo completamente armado, duro, de barraca armada e engulo em seco. Puta que pariu! Encontro os seus olhos em seguida. Simone parece enfeitiçada com algo e eu não sei aonde enfiar a minha cara.
— Eu... eu não sabia que você estava em casa... eu... vou — gaguejo as palavras e tento me afastar, mas ela segura a minha mão e me lança um olhar pesado, mas logo parece despertar de algo e ela afrouxa o seu aperto. Eu me levanto do chão e me afasto sem saber o que realmente está rolando aqui e saio imediatamente da cozinha.
Aonde você estava com a cabeça, Petrus? Essa não é a sua casa, você não pode simplesmente andar nu pelos cantos e achar que isso é normal. Me repreendo. Porra, eu fiquei duro para ela? O que está acontecendo com você, cara? Simone Borbolini é sua prima, portanto é intocável para você. Digo para mim mesmo diante do espelho do banheiro, encarando o cara barbado à minha frente. Depois de um banho frio e demorado e de pôr uma roupa, resolvo voltar para a cozinha. Simone agora está usando um vestido que é colado ao seu corpo, porém a saia é solta e vai até a metade das suas coxas. Ela mudou de roupa. Constato me sentindo mais relaxado. Melhor, assim podemos conversar sem que eu fique de olho nos seus peitos. Resmungo irritado e internamente.
— Fiz um pouco de batatas na maionese, um arroz colorido e bife. Não sou nenhum Adonis Kappas na cozinha, mas eu me viro. — Ela brinca descontraída e eu forço um sorriso para minha prima. A simples menção do nome de Adonis na mesa, me diz que não devo adiar por muito tempo a nossa conversa. A observo montar um prato para mim e depois um para ela. Resolvo pegar a garrafa de vinho que está dentro de um balde com gelo e sirvo duas taças, entregando uma a ela. Simone toma um gole da bebida me olhando através da borda da taça.
— O que vai fazer essa noite? — Ela pergunta depois que deixa a taça descansando sobre o tampo da mesa e leva o garfo ao seu prato. Dou de ombros.
— Não tenho nada programado — falo com desdém e ela sorri.
— Ótimo! Hoje é sexta e eu pensei que podíamos ver a turma, dançar um pouco e beber, o que acha? — Eu bufo largando os talheres em meu prato e me encosto na cadeira para olhá-la de forma especulativa.
— Você acha uma boa ideia? Quer dizer, o Adonis vai estar lá, não vai? — questiono. Ela faz um sim com a cabeça.
— Não acha que está na hora de vocês se acertarem? — sugere e eu bufo em resposta.
— Não sei se estou preparado, Simone.
— Vamos lá, Petrus. Você teve treze anos para se preparar para esse momento. Porque adiar mais? — indaga e eu penso que ela pode estar certa. Assinto.
— Você está certa — falei e peguei a minha taça a esvaziando em seguida. E que venha a noite! Penso apreensivo e volto a comer, dessa vez em silêncio.
NOTAS DO AUTOR:
Alguém aqui com peninha do nosso semi vilão? Eu estou morrendo rsrsrsrs
Um reencontro entre Petrus e Adonis, o que pode acontecer?
Será que Adonis está preparado para perdoar o seu ex-melhor amigo?