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Capítulo 1

Um sonho de princesa.

Kelly Ferraço

Sabe quando você abre os olhos e se encontra dentro do seu quarto e tudo parece estar diferente? Por exemplo, o sol parece mais radiante hoje e também parece ter mais nuvens no céu claro. O meu quarto já não é mais aquele quarto de menina, todo cor de rosa e cheio com bonecas.  Ele agora expõe pôsteres dos meus cantores preferidos nas paredes e claro do meu ator preferido também. O que eu mais gosto fica bem de frente para a minha cama. É um pôster do Tom Ellis sentando com classe e elegância em um trono negro e alto, grande e tenebroso. O cara representa o próprio diabo, o pai das trevas, mas exala um poder de sexualidade que estremece as calcinhas das meninas — que o meu pai ou o meu tio Oliver não escutem os meus pensamentos — isso me faz lembrar da última vez que eu tive um namorico. O coitado do Léo não teve sossego na vida desde então. Os dois marmanjos fizeram um tipo de tortura psicológica com o garoto e em menos de uma semana, esse se afastou de mim como o diabo fugia da cruz. Bom, hoje especialmente estou fazendo quinze anos e estou no ensino médio. Por mim, pulava essa parte e já ia direto para o curso de gastronomia, que é o meu maior sonho, mas os adultos da minha casa faz questão pela conclusão dos meus estudos. Fazer o que, né? Espreguiço-me em cima da cama, esticando o meu corpo sobre o do colchão e me viro para encarar a porta branca do meu quarto e inicio uma contagem regressiva cheia de ansiedade. Cinco, quatro, três, dois… Sorrio amplamente. Um... A porta se abre e Carolina Kappas Ferraço, minha irmã caçula passa por ela carregando o seu coelhinho de pelúcia cor de rosa pelas orelhas gigantes.

— Feliz aniversário, Kell! — diz com uma empolgação gigantesca e pula animada em cima da cama e automaticamente o meu corpo quica em cima do colchão macio me fazendo rir. Seus pulos são altos como se tivesse dentro de um pula-pula, mas eu a puxo para o meu colo, dando-lhe muitos beijos por todo o seu rosto. Carol, como a chamamos, se parece com o meu pai, na verdade, ela é a cópia registrada dele. Ela é morena e tem feições bem expressivas, do tipo que não consegue esconder a sua felicidade ou a sua tristeza. Não demora muito e os meus pais invadam o meu quarto, cantando parabéns para mim. Adonis como sempre segura uma deliciosa bandeja de café da manhã em suas mãos. Pena que hoje ainda é segunda e terei que ir para o colégio em algumas horas. Mas, confesso, só tem um lado bom nisso tudo. Felipe Cortez — Lipe para os íntimos. Ain, jesus! Que o meu pai e o meu tio não descubram, mas o carinha do segundo ano é uma perdição total. Nada de corpo malhado, ele é alto e forte por natureza mesmo. Os cabelos são de um castanho-claro e cheios de cachos sedosos que caem sobre sua testa, dando-lhe um charme ao seu rosto quadrado e ele usa um perfume que, minha nossa!  Eu confesso, que no último baile da escola nós quase chegamos a nos beijar.  Que o meu... há, vocês sabem quem não devem descobrir isso nunca… nunquinha. Medo? Não, não é medo. Meu pai e o meu tio são as melhores pessoas desse mundo! E eu os amo do jeito que eles são. Digamos que seja só receio mesmo, afinal a primeira impressão do primeiro namorico é a que fica, não é?

 — Apaga as velinhas princesa, mas não antes de fazer o seu pedido de aniversário. — Meu pai pede, se inclinando um pouco e eu encontro um cupcake com uma mini vela em formato de um pequeno número quinze acesa no topo. Eu fecho os meus olhos e encho os pulmões de ar e antes de soprar a velinha, penso em algo que me faz sorrir. Ah qual é, não vou contar o que eu pedi para vocês. Se não, não vai se realizar, certo? Só digo uma coisa, esse sonho só poderei realizar daqui a dois anos.

— Parabéns, filhota! — Minha mãe diz se acomodando ao meu lado no colchão e me abraça logo em seguida. O meu pai faz o mesmo do outro lado e a Carolina faz a festa caindo em cima do abraço coletivo. Rio alto quando caímos todos no colchão.

Eu amo essa família e acredite, desde que Adonis e Agnes se casaram a minha vida tem sido esse encanto de abraços e beijos matinais, de aniversários na cama com direito a cupcakes e tudo, e claro, ganhar uma irmãzinha como essa Penélope Charmosa não tem preço. A Carolina é simplesmente encantadora. Ela é amorosa, carinhosa e diferente de mim, é mais tranquila também. Mas não se enganem, a garota é tão esperta quanto eu era quando criança. — Hora de cuidar meninas. — Dona Agnes avisa depois da rápida bagunça em cima da minha cama. Ela sai em seguida levando a minha irmã para o seu banho e o meu pai se ocupa em tirar a bandeja intocada de cima da cama, mas antes de sair do quarto ele me olha sério. Sabe aquele olhar de pai que quer te dizer alguma coisa? É exatamente esse olhar que ele está fazendo agora. Ele ajeita uma mecha solta do meu cabelo atrás da minha orelha e com um suspiro começa a falar.

— Você cresceu, filha — diz o óbvio. Sorrio.

— É o que acontece quando se faz aniversários todos os anos — comento com um leve tom de brincadeira e ele sorri.

— Verdade. — Papai puxa uma respiração e se ajeita de novo no colchão.

— Olha, eu sei que já tivemos essa conversa algumas vezes — E lá vamos nós. Penso revirando os olhos internamente. — Mas querida você sabe que o papai só quer o seu bem, não é? — pergunta cuidadoso. Claro que eu sei, mas nem sempre o meu bem está em me afastar dos meninos, certo?

— Sim, eu sei — digo com um suspense no ar.

— Kell, papai não vê a hora de estarmos trabalhando juntos no bistrô, como uma bela dupla, sabe?

— Sim, eu sei. — Dessa vez respondo com aquele receio. — Pensei que já éramos uma dupla — comento.

— E nós somos. Mas, para você ser uma profissional e assumir aquilo tudo junto comigo, preciso do seu empenho. Namorar agora só iria atrapalhar. — Ai chegamos no pico da nossa conversa. Todo ano Adonis encontra uma maneira de me convencer a não namorar. O que nesse exato momento não vai ser possível, porque o Lipe já está na minha, assim como eu estou na dele, se é que vocês me entendem. Porém, tem aquela história, “o que os olhos não veem, o coração não sente” e quem não ouve a verdade também.

— Não se preocupe com isso papai, eu sempre serei a sua número um. Afinal, eu quero ser igualzinha a você quando crescer. — Minto parcialmente e de uma forma descarada e ele me lança aquele olhar de pai orgulhoso. Porque ele tem que ser tão ciumento? Adonis abre um sorriso largo e afaga os meus cabelos, os assanhando ainda mais o emaranhado de fios dourados.

 — Boa menina! — Ele diz com satisfação e mais uma vez sorrio. Tolinho! Penso me sentindo uma criança malévola. Ele sai do quarto e eu pulo para fora da cama, correndo direto para o banheiro.

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