3.
Flávia Simões
— Ana, onde está a proposta de Roma? — Agnes pergunta para sua secretária, perdida em pilhas de papéis. Ela bufa irritada, quando não encontra o que procura. A secretária abre a porta, adentrando a sala e se põe a procurar a tal proposta. Eu apenas assisto as duas malucas remexendo a papelada, quase que perdendo o juízo. Olho para mesinha de centro e pego o único documento esquecido no tampo de vidro temperado, e me levando do sofá macio, indo de encontro das duas. Paro de frente para Agnes e lhe estendo o papel. A mulher para o que está fazendo e olha o papel e depois para mim. Ela sorri. — Eu já disse que te amo hoje? Deus, achei haver perdido a maldita proposta! Agnes se joga, sentando-se na cadeira e respira aliviada. — Pode ir, Ana. — Ela dispensa a secretária, e mete a cara nos papéis.
— Hoje é sexta — digo, me sentando de frente para ela.
— E? — pergunta, sem tirar os olhos do papel.
— Pensei em sair essa noite, você vem?
— Ah! Não dá amiga! Tenho que acordar cedo e começar com os preparativos para mais um evento — diz quase como uma lamentação.
— Ah! Qual é, Agnes? Você precisa sair mulher, precisa se divertir, dá para algum carinha. — Ela para o seu trabalho e me encara séria.
— Sabe o que penso sobre sexo casual, não é?
— Sei o que você acha sobre o sexo em si. Acredite amiga, se você não usar isso aí criará teias — ralho bem séria. Agnes me olha por um tempo e meneia a cabeça em um não lento.
— E quem disse que eu não uso? — Arqueio as sobrancelhas sugestivamente.
— Pênis de borracha não conta, Agnes — resmungo. Ela larga o papel e me encara irritada.
— Quem disse que não conta? É melhor que um namorado possessivo, controlador e…
— Pode parar por aí! Estou falando sério, Agnes, você precisa sair, precisa se divertir, ver gente! Do jeito que você anda, ficará doente.
— Exagero — retruca. Ela volta para os seus papéis e eu volto para o meu celular.
Definitivamente trabalhar como assessora de alguém muito importante é gratificante, mas é muito, muito estressante também. Você tem que estar atenta as suas redes sociais, se livrar das imagens negativas, que surgem em alguma atitude inesperada, desenhar, projetar, arquitetar e moldar a imagem perfeita que levará o seu cliente ao topo. Contudo, com a Agnes, isso está sendo fácil demais. A mulher vive do escritório para casa e de casa para o escritório. O que custa ela manchar só um pouquinho essa reputação, para eu ter algum trabalho a fazer? Solto um suspiro audível. Ok, falei, falei e falei, mas vocês ainda não sabem quem sou eu. Olá, eu me chamo Flávia Simões, sou a assessora da Agnes Ferraço, como podem ver. Ela é uma produtora de moda conhecida mundialmente. Agnes faz eventos dentro e fora do país. É do tipo compulsiva mesmo, ela vive só para isso, mas nem sempre foi assim. Minha amiga já teve uma vida amorosa, com um cara chamado Adam Clive Parker; um empresário e banqueiro americano, que conheceu ainda na faculdade. O cara proporcionou a Agnes uma relação de contos de fadas por dois anos, mas em uma de suas inspeções, ela o pegou no flagra com uma d e suas modelos do Fashion Week, e isso já tem o quê, três anos? E desde então ela desistiu do amor, ou do sexo, ou dos dois. Agnes e eu somos amigas desde sempre, nos conhecemos praticamente no jardim de infância e só nos separamos durante a faculdade. Durante dois longos anos, construí uma carreira impecável, fui assessora de jogadores famosos, de atores de Hollywood, alguns cantores e apresentadores também. Estava ganhando muito, muito bem, até que uma proposta tentadora me trouxe até aqui. Hoje assessoro apenas a Agnes, e ela me paga o triplo do que eu ganhava com toda aquela clientela do meio artístico. Preocupa-me o fato de minha amiga e chefe ter perdido o seu brilho, a sua alegria e de ter desistido de viver o lado divertido da vida, digo de passagem.
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Uau, isso aqui está tão apertado que mal consigo mexer o meu quadril, para dar uma viradinha! Calor humano é bom, é ótimo, mas isso aqui, Jesus!
— Viu a Agnes? Ela precisa olhar as modelos antes que entrem no palco. — Petrônio, um dos ajudantes de palco da Agnes pergunta, segurando uma prancheta e uma caneta nas mãos. O cheiro do perfume do cara é de deixar as calcinhas molhadas. Ui! O homem é uma delícia!
— Deixa que entrego para ela — peço. Os olhos azuis anises, me encaram e sinto que estou mergulhando em um oceano profundo. Definitivamente preciso pegar o carinha, anseio sentir seu sabor, nem que seja uma lasquinha dele, mas eu preciso! — Tem alguma programação para essa noite? — questiono quando ele me entrega o material. O homem me lança um olhar sugestivo, e eu me derreto todinha por dentro. Delícia de homem! O quê? Não estou morta gente, sou solteira e tenho muito tempo livre para curtir, ok? Não acredito nessa história de príncipe encantado, mas espero encontrar um carinha legal, que bata com o meu perfil e quem sabe em um momento de loucura, nos casamos e temos filhos. Mas, enquanto esse príncipe não chega, eu vou curtindo, fazendo alguns estágios, para não fazer feio quando finalmente encontrá-lo, ou se ele me encontrar primeiro, vai saber?
— Uma danceteria, Voguel — Ele diz, me despertando dos meus loucos e deliciosos pensamentos. Arregalo os olhos. Estou literalmente de boca aberta, o coração chega a alcançar a minha garganta em um pulo só. Voguel, é uma danceteria para troca de casais. Nunca fui lá, até porque não tenho um par para isso. Mas, saber que Petrônio curte esse tipo de coisa me deixou sem ar definitivamente. Minha cabeça chegou a viajar. Petrônio, um moreno alto, forte, com esses malditos olhos azuis, em uma cama redonda, com duas garotas, ou alguns casais… Sacudo minha cabeça de um lado para o outro, jogando os malditos e safados pensamentos para longe. Deus do céu, não adiantou muito o sacolejo, a coisa só piorou a minha situação. Estou vendo a mim, nessa maldita cama com o delicioso Petrônio, bem atrás de mim, enquanto… Ui! Parou, parou! Não posso pensar nessas coisas agora, não mesmo.
— Ok — digo meio sem jeito, pisco um olho para ele, e me viro de costas, saindo dali sobre os meus potentes saltos altos, rebolando na medida do possível no aperto da multidão de assessores, modelos e agentes no salão mediano. É quando subo as escadas e encontro o hall pequeno e lustroso, que me leva ao escritório da Agnes, que consigo respirar melhor, e pensar melhor também. Porra, eu disse sim, para um programa na Voguel? Tô ficando maluca, só pode!