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3.2

Meia hora de evento…

A música eletrônica dita os passos firmes e, simultaneamente, graciosos das modelos, que exibem os novos passos da moda. Há uma onda gigante de flashes, inundando a todos no evento e eu só consigo pensar que em algumas horas estarei dentro da Voguel, com um belo par de olhos azuis anis e nem sei se tiro uma lasquinha dele, ou se ele tirará de mim… Ou se alguém fará isso por mim. Pai do céu, e se eu não gostar da troca? Sou desperta por um burburinho agitado no meio da multidão e olho imediatamente para o alto do palco. Agnes… Entro em pânico quando a vejo caída ao chão de madeira branca, lustrosa e imediatamente passo um rádio para os seguranças, seguindo apressada para o palco.

— Ponham ela aqui — peço, apontando para o sofá que fica por trás das cortinas. — Wall, continue com o evento, eu cuido da Agnes — peço para a assistente de palco. Ela me mataria se soubesse que não levaram o evento adiante.

— Ok.

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— Senhorita Agnes Ferraço — O médico diz, enquanto olha alguns papéis em suas mãos. Por um segundo ele olha de mim para a minha amiga e volta para os papéis. — Vejo que tem um problema com sua alimentação.

— Como assim? — perguntamos juntas.

— Suas taxas estão baixas demais — fala de um modo completamente profissional. Agnes sorri, ela parece aliviada.

— Então está me dizendo que não tenho nenhum problema? Quer dizer, uma anemia não é nada de mais, certo? — O médico suspira, eu suspiro e ambos a encaramos.

— A coisa é bem mais séria do isso, senhorita. Está propensa a ter um diabetes, a glicemia está baixa além do normal, sem falar no seu colesterol. O que anda comendo? — Agnes dá de ombros.

— Não sei, o que der. Sou uma pessoa bastante ocupada, doutor Prado. Não tenho tempo para avaliar minhas refeições! — resmunga. O médico larga os papéis em cima da cama de hospital e encara sua paciente seriamente.

— Tenho uma coisa para lhe dizer, senhorita Ferraço. Se continuar dessa forma, acho melhor comprar logo o seu caixão.

— O meu o quê? — Ela quase grita a pergunta.

— Do jeito que está indo, pode ter um infarto a qualquer momento. Então, se não quiser correr esse risco, sugiro que arrume "tempo" para uma boa alimentação. — Noto um pouco de rispidez em sua resposta, mas está valendo. Agnes realmente precisa cair na real.

— Viu o que ele disse? — Ela pergunta em um tom irritado, me olhando. Dou de ombros.

— Você mereceu! — retruco e ela me lança um olhar possesso.

— Não vem não, Flávia, eu não preciso ouvir isso de você também!

— Então não pergunta!

— E agora? — indaga

— Agora, penso que vamos para casa. — A mulher solta um suspiro audível, pulando imediatamente da cama.

— Ainda bem, odeio hospitais! — resmunga, colocando seus sapatos. Rolo os olhos com impaciência.

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 — E a chefa, não quis vir? — Ana pergunta assim que entro no carro. Bufo de modo audível. É claro que não! Definitivamente Agnes parou de viver, no instante em Adam terminou com ela e isso já tem o quê, quase cinco anos? Meu Deus, o mundo não acabou não garota! Mas, fazer o que, né? A mulher está irredutível.

— Nem a chamo mais — retruco com um tom sério. Eu realmente queria tirá-la de dentro desse mundinho só dela e trazê-la de volta a realidade nua e crua, mas desde que o casamento acabou, tudo se resume ao trabalho. Agnes é uma mulher jovem e muito bonita e ela merece uma segunda chance na vida. Se não for ao amor, que seja com uma boa trepada casual. O carro para em frente a uma danceteria muito conhecida por mim. Não, não é a Voguel e não, definitivamente o encontro não rolou, e não sei dizer se digo; “Obrigada Deus!” ou se lamento para o resto da minha vida. Vai que eu goste do movimento. Ana paga o táxi e nós seguimos imediatamente para dentro do prédio. O lugar está super lotado e não vejo uma mesa disponível para nós duas.

— Eu me contento com um banquinho no bar e você? — Ana pergunta, olhando minuciosamente em todas as direções.

— Por mim tudo bem, não vim assistir nada de camarote mesmo. Quero é encontrar um nego lindo, me esfregar nele a noite toda, beber o meu drink e dançar até as pernas ficarem bambas. — Ana abre um largo sorriso.

— Sei como as suas pernas vão ficar bambas — comenta, cheia de insinuações. Pisco um olho e estalo a língua, abrindo um sorriso presunçoso.

— Você me conhece.

Uma hora depois de esquentar o banco perto do balcão, decido ir dançar. A música do momento é eletrizante e ela é tudo o que eu preciso para me soltar. Qual é, é sábado à noite e eu quero beber e curtir cada minuto!  Enquanto jogo os meus braços para cima e mexo o meu corpo, deixo as ondas sonoras me levarem para onde elas quiserem. Vocês não fazem ideia de para onde elas me levaram. Um esbarrão forte me jogou para frente e automaticamente um braço musculoso alcançou a minha cintura, me impedindo que eu quebrasse a cara no chão, no meio da multidão. Ele me virou de frente e eu encarei a barba cheia e bem feita, e um par de olhos escuros me encararam com diversão. Suspirei. Sério, eu precisei suspirar.

— Adonis? — digo, recuperando os meus sentidos. Tá! Vocês devem estar pensando, é uma vadia mesmo! Mas, caiam nos braços de Adonis para vocês verem. Quero só ver se não vão ficar amolecidas como eu fiquei. Não, vocês precisam sentir a pegada desse homem.

— Está me seguindo, dona Flávia? — pergunta com tom de brincadeira. Sorrio. Só queria.

— Oi! Pra você também! E não, estou aqui para me divertir.

— Adonis, encontrei uma mesa — Alguém grita atrás dele. Adonis se afasta para falar com seu amigo, me dando uma bela visão do moreno, de porte atlético e com um olhar negro, dominador. Olho de um para o outro. Deus do céu, os anjos da guerrilha desceram até aqui, só para mostrarem o quão gostosos eles são?! O que há com o Adonis, resolveu pegar todos os amigos delícias do mundo só para ele?! Eu hein, vai ser lindo, delicioso e gostoso assim lá no inferno! Resmungo internamente. Sinto as mãos do Adonis abandonar a minha cintura e fazer um gesto para o amigo, que me olha rapidamente e faz um gesto sutil com a cabeça, se afastando.

— Preciso ir maluquinha, está sozinha? — Faço não com a cabeça.

— Estou com uma amiga. — Ele sorri. Faz isso não Deus grego! Suplico internamente.

— Porque você e sua amiga não vem para nossa mesa? Tem um carinha da nossa época que você vai gostar de ver. — Sorrio ainda mais amplo.

— Na verdade, estou interessada em conhecer aquele que ainda não conheço. — Solto a insinuação.

— O Oliver? — Arqueio as sobrancelhas.

— Oliver? Ui! Até o nome é uma delícia! — falo e Adonis rir, inclinando a cabeça para trás.

— Você é mesmo uma maluquinha, sabia? — Ok, ok, algo que esqueci de mencionar para vocês. Flávia Simões não tem filtro, ela diz o que quer e o que pensa também. Mas, acredito que vocês já perceberam isso. 

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