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Adonis Kappas
Adentro o escritório luxuoso e sigo pelo hall, ainda mais exuberante, e paro na recepção que tem um enorme balcão de mármore negro lustroso. Uma linda jovem me sorri, mas com um sorriso profissional, e se prontifica em me ajudar.
— Bom dia, me chamo Melissa, em que posso ajudá-lo?
— Bom dia, Melissa! Procuro por Andrea Escobar.
— A senhora Escobar está em uma reunião. O senhor pode aguardar um pouco, ou gostaria de deixar recado?
— Eu espero, obrigado!
Andréa Escobar é uma das melhores arquitetas do estado. Ela foi indicada por Petrus, meu melhor amigo. Foi ela quem arquitetou o seu impecável escritório e hoje, ela dará vida ao meu sonho. Os minutos se arrastam e finalmente Melissa me anuncia. Passo por uma porta larga, de um design perfeito. O escritório da mulher é uma perfeição, ditado por móveis modernos, de um design singular, com uma harmonia perfeita e cores claras nas paredes. Andréa aparenta ter pelo menos uns 39 anos. É uma senhora bem cuidada, de pele impecável e cabelos negros, com um corte moderno, aprisionados por um lápis dourado. Ao me ver entrar na sala, ela me estende sua mão, abrindo um largo sorriso.
— Boa tarde, senhor Kappas!
— Boa tarde, senhora Escobar!
— Vi as imagens do prédio que me enviou por e-mail, e tenho algumas ideias maravilhosas para o senhor. — Ela abre a tela do seu computador e começa a falar sobre as possíveis mudanças do bistrô. Ideias que estou amando, digo de passagem.
— Luzinhas no teto? — indago, perplexo com a ideia.
— Sim, em um teto totalmente azul, o mais escuro possível. Formaremos um céu estrelado dentro do seu estabelecimento, senhor Kappas. Me diga, quem em sã consciência não amaria estar em lugar, onde podem contemplar o céu de perto, mesmo que fosse uma ficção? — Meu sorriso se amplia ao escutar essas palavras. Chego a ficar sem fôlego com as ideias da mulher. Depois vem as ideias dos móveis, estilo Grécia antiga, seguindo uma decoração que tem um misto do brasileiro/greco. Cara essa mulher é realmente fantástica!
— Adorei, Andréa!
— Fico feliz de saber, senhor Kappas! E quando podemos começar? — Solto um suspiro audível, de tão grande a empolgação que estou sentindo.
— Por mim, hoje mesmo, porém, preciso ir ao banco e fazer algumas movimentações. Que tal na próxima semana? — sugiro. Ela arqueia as sobrancelhas.
— Está perfeito! Estou finalizando um projeto importante, e ficarei livre para me dedicar apenas ao seu projeto.
— Ótimo! — Apertamos as mãos, dando a maravilhosa reunião por encerrada.
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Saio do prédio direto para o banco e de imediato procuro por Apolo Saldanha, meu gerente. Ele me recebe com um rosto sério, o que é estranho, porque o cara é o carisma em pessoa.
— Senhor Kappas, estou surpreso de que esteja aqui — diz me estendendo sua mão. Franzo o cenho, o encarando, sem entender o comentário.
— Por que eu não viria? — pergunto, segurando firme sua mão. Ele me olha por um tempo, parece confuso.
— Por que esvaziou sua conta a uma hora — informa.
— Espera, o que disse? — indago surpreso.
— Que o senhor esvaziou sua conta — repete.
— Como assim, Apolo? Eu não… — Não consigo nem finalizar a frase e o homem empalidece.
— Desculpe, senhor Kappas, mas o senhor acessou sua conta de maneira remota, e fez uma transferência.
— Que porra você está me dizendo, Apolo? Eu não transferi porra nenhuma! — esbravejo. Todos no ambiente calmo olham em nossa direção. Respiro fundo, sentindo meu corpo gelar e esquentar ao mesmo tempo.
— Eu realmente não entendo, senhor Kappas. A única maneira de acessar essa conta, é através de sua senha e só quem tem acesso a essa senha é o senhor — acusa.
— Isso só pode ser uma brincadeira de mal gosto! — sussurro atônito. — Não pode estar acontecendo de verdade.
— Isis, traga um pouco d'água para o senhor Kappas — O homem pede a sua secretária. Respiro fundo outra vez, pelo menos umas três vezes seguidas, mas não adianta, meu corpo parece surrado. Chego a ficar trêmulo. Meu Deus, um sonho de uma vida inteira me foi roubado! Isis me entrega um copo com água, e eu o seguro. Ergo a minha cabeça e encaro o meu gerente.
— O que o banco pode fazer em relação a isso? — questiono áspero. Ele dá de ombros.
— Abriremos uma investigação, senhor Kappas. Entretanto, não há muito o que fazer. O senhor deu acesso essa senha para alguém? — pergunta com um tom sério demais. Faço não com a cabeça. — Veremos se conseguimos rastrear o dinheiro, mas não garanto nada — avisa. Apenas assinto, levantando da cadeira e deixo o copo intocado sobre sua mesa.
— Chame a polícia, contrate um investigador, faça o que for preciso. Encontre esse infeliz! Não estamos falando de pouco dinheiro aqui, Apolo, então não me decepcione! — dito isso, saio pisando duro de dentro do banco. Estou sem chão. O que faço agora? Todas as minhas economias de cinco anos estavam lá. Investidos em um único sonho, o meu bistrô. Na calçada, ergo a cabeça e encaro o céu ainda iluminado, com poucas nuvens. Solto um suspiro frustrado e entro no meu carro. Diante do volante, pego meu celular e ligo para o Petrus. Preciso conversar com alguém, ou terei um troço. Para minha decepção, ouço uma mensagem dizendo que meu amigo está fora da cidade, e que retornará à ligação em breve. — Caralho! — resmungo ligando o motor e saio sem saber para aonde ir realmente.
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— Mais uma, por favor! — peço para o barman, do outro lado do balcão. O bar está lotado, mas parece que estou sozinho nesse mundo. Desde que soube do roubo a dois dias, tive que ligar para Andréa e cancelar todos os nossos planos. Passo as noites no prédio, olhando com pesar cada cantinho daquele lugar. Meus sonhos pararam por ali, não poderei realizá-los mais. A bebida chega e eu olho o líquido amarelado por alguns segundos. Não posso seguir assim, preciso continuar com a minha vida. Mas, como farei isso? Ser um cozinheiro qualquer, de um restaurante qualquer? Não! Não terminarei como o meu pai, que morreu sem o merecido reconhecimento. Renan Kappas tinha liderança, era fenomenal. Ele tinha as suas próprias receitas e seus pratos italianos e russos eram um sucesso! Entretanto, ele não venceu, porque Victório Boutchelly era um cretino, explorador do caralho! O infeliz o explorou por anos, ficou rico as suas custas, e meu pai? Esse se acabou, sem chegar perto de um sonho real. Não quero isso para mim. Prometi para Renan e para mim mesmo, que comigo seria diferente, que o nome Kappas seria reconhecido na culinária brasileira e no mundo. Foi para isso que estudei, certo? Formei-me nas melhores escolas gastronômicas, criei minhas próprias receitas. Definitivamente não sei como pude deixar isso acontecer. Levo o copo a boca para mais um gole, que me levará ao fundo do poço, mas este foi um desastre, porque uma louca esbarrou em mim no balcão, fazendo a bebida entornar em minha camisa e calça. O líquido gelado alcançou a minha intimidade, causando um arrepio da porra. Ouço o som de uma gargalhada feminina e me viro furioso para encarar a maluca.