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Capítulo 6 — Acolhimento

Louise

Há quatro portas que dão saída dos dormitórios para o restante da casa, mas todas elas estão trancadas por fora, me deixaram presa como se eu fosse algum animal e isso tá doendo por dentro. Mesmo que meu pai não me desse atenção nunca, lá eu estava saindo a hora que eu queria e sem hora para voltar, agora só Deus sabe a hora que eu vou sair daqui ou que elas irão voltar.

Tentei abrir as janelas mas todas elas tinham grades por fora, mal dando para ver os raios de luz que ainda habitam lá fora. Tentei amarrar um lençol na grade, assim eu poderia acabar com isso antes que eu me sentisse pior do que estou, ainda mais sabendo que eu não irei sair daqui nunca e depois daqui para onde eu irei?

Tentei amarrar mas não havia nenhum lugar com brechas e os móveis não suportavam o peso, decidi pensar em outra forma de fazer isso e por fim me deitei, desligando a luz do abajur e puxando a coberta até cobrir meu rosto também. Mas a luz foi aberta e junto com o Roberto entrou uma mulher mais velha que ele. Levantei rápido, coloquei as mãos para trás e olhei para baixo, a vergonha que eu sinto não tem tamanho para ser descrita. Eu só queria uma momento de sossego, mas se nem

casa eu tenho mais, não posso me dar ao luxo de tirar sonecas.

— Você deve ser a Louise! Prazer, Emma. – Senti seus dedos tocarem meu rosto e levantar minha cabeça devagar.

— Eu não quero incomodar, senhora. – Disse tentando não me meter em outra roubada.

— Me chame de Emma. Agora venha comigo, tenho certeza que você ainda não jantou! Maurício, que tipo de homem você está se tornando ? – A voz dela é doce e calma, muito diferente da outra mulher que vem aqui.

— Obrigada, mas eu não estou faminta. Como eu disse; não quero incomodar. – Tentei argumentar mas foi em vão. Emma segurou minha mão e puxou consigo, recebi apenas o olhar de desprezo de Maurício.

A sala de jantar da casa estava com a mesa posta e eu juro que a minha barriga iria roncar se eu não tivesse bebido água o suficiente enquanto estava buscando uma saída. Emma praticamente me obrigou a sentar e depois saiu, fazendo minhas pernas tremer e minhas mãos suarem descontroladamente.

— E aí, elas não estão fazendo seus gostos? – O par de olhos cinzas que foram direcionados a mim fez minha garganta fechar e o coração errar as batidas.

— Eu não quero que ninguém faça meus gostos, apenas… – Pensei em falar algo a mais, mas desistir na mesma hora.

— Como adquiriu essas marcas em seu corpo? – É sério que ele quer saber sobre isso logo agora? É como se estivesse dando uma agulhada em meu coração.

— Foi um acidente que aconteceu! – Respondi com o olhar baixo porque minha autoestima não me permitia olhar nos olhos de ninguém.

— Parkinson teve alguma coisa a ver com isso?

— Não, ele não teve nada haver com isso. Foi culpa minha mesmo, desastres pessoais! – Quem me dera tivesse sido desastres pessoais, a marca que habita dentro de mim não teria tanto peso.

— Louise, eu não quero te manter como prisioneira aqui dentro, mas quero que entenda que será melhor para você tanto quanto será para mim.

Por um momento meu sangue ferveu por dentro e eu então tomei um choque de realidade, se essa será minha realidade até não sei quando eu terei que me acostumar com isso ou só irá ser mais difícil pra mim a cada dia mais.

— Então o que eu terei que fazer para não ter que me manter trancada ali naquele lugar? Eu não quero ser vista assim como o senhor não quer que me vejam, mas eu sei fazer várias coisas também. Posso ir lavando as louças e quando surgir alguém eu saio. – Argumentei tentando não deixar transparecer o quão nervosa e sem reação eu estava.

— Não será preciso, você já faz isso em seu horário de trabalho. Alguém te deu alguma outra peça de roupa, além destas peças cinzas?

— Não senhor.

— Venha comigo, eu não sei porque estou fazendo, sei que irei me arrepender depois…

O segui até que ele encontrou a tal Juliana, sei quem ela é porque eu já a vi mais de uma vez. A mulher estava sempre muito elegante e ao seu lado estava Emma, sua mãe.

— Ju, quero que a leve para trocar essas roupas e a mande para o salão principal também! – Sua ordem foi recebida pela mulher com um sorriso largo no rosto. — Se desperdiçar esta oportunidade naquele quarto será seu fim!

Juliana me deu um conjunto de roupas brancas, calça e uma blusa de mangas compridas juntamente com o avental vermelho e sapatos brancos também. Segui suas ordens e ela foi me dizendo o que eu deveria fazer até que chegássemos à cozinha. A mesa era enorme e de fato a festa deveria ter muitos convidados, mas o que me deixou horrorizada foi ver o tanto de mulheres sendo expostas como se fossem troféus, levando em cima do peito uma pequena placa com seus nomes.

— Meu Deus… – Sussurrei para mim mesma, mas Juliana me olhou e sorriu meio que sem graça pela situação em que me viu.

— Sirva e sempre sorria. Você é linda, simpática e acredito que se sairá bem aqui. Estarei na mesa cinco caso precise tirar alguma dúvida!

— Se eu precisar de algo, irei até você, muito obrigada.

Segui com a bandeja na mão, servindo as pessoas mais chiques que eu já vi na minha vida.

— E aí, como está se sentindo no meio de tanta gente louca? – Esse homem que surgiu do nada não me parece nada estranho, teve a leve impressão que já o vi em algum lugar.

— Desculpa, eu não quero atrapalhar, aceita? – Pus a bandeja à sua frente, tentando me sair o mais rápido que pudesse dali, mas foi tudo muito rápido.

— Não precisa ter medo Louise. Prazer, Roberto, sou primo do Maurício! — Tá, e daí?

— É um prazer, Louise. Agora com licença senhor, preciso trabalhar e como eu disse não quero incomodar e também não quero me prejudicar.

— Prejudicar? Alguém já…? — Como assim já? Então estavam tramando algo para mim antes mesmo que eu estivesse aqui?

— Não foi o que eu quis dizer, agora com licença. — Caminhei em passos largos e rápidos, sobressaindo de todos que me olhavam e fui até a cozinha.

O batom que Emma fez questão que eu usasse estava me deixando com um pouco de autoestima, o blush, rímel e o restante de maquiagem que também estava em meu rosto de fato me deixou um pouco menos feia do que normalmente eu sou. Entrei no banheiro e me encarei por alguns segundos no espelho, soltei os cabelos para ver como eu ficaria e quase infartei quando Maurício entrou sem avisar, me deixando com a cara no chão e sem reação.

— Está linda! — Sua voz alcançou meus ouvidos e a única coisa que eu fiz foi agradecer e nada mais.

— Obrigada! — Tentei desviar do seu caminho, mas ele não estava me dando brechas e eu estava começando a ficar nervosa, já que era um banheiro feminino.

— Louise eu… — Agradeci internamente quando entrou uma de suas "mercadorias". Passei por ele e fui para o mais longe possível.

A maquiagem estava me deixando estranha, eu não estava sendo eu mesma e sei lá, esconder apenas uma parte do corpo é terrível.

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