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Cont. Capítulo Um

O máximo que ela sabia usar direito era batom e delineador. Também não precisava mais do que isso. Gostava de sua aparência limpa e isso não era um problema para ela.

Não tinha e nunca teve um namorado. Não havia motivo para ficar se maquiando o tempo todo e menos para trabalhar.

Seu cabelo era bem comprido, castanho escuro quase um ruivo. Liso como o de sua mãe, mas a cor puxara de seu pai. Era longo e chegava quase na cintura, vivendo preso a maior parte do tempo por causa do trabalho.

Seu irmão Bruno tinha o cabelo idêntico ao dela, porém curtinho. Já Bianca era loirinha como sua mãe. Os traços dos três eram semelhantes. De longe se via que eram irmãos.

Ela não quis olhar diretamente para o homem, mas conseguiu perceber que ele tinha o rosto quadrado, cabelo curto escuro e o que parecia ser uma cicatriz que descia da lateral de sua testa e seguia até se perder na gola alta do sobretudo.

Os olhos ela teve a impressão de serem castanho escuro e a boca era grande de lábios bem vermelhos talvez pelo frio. A iluminação era fraca, o poste ficava um pouco mais á frente.

Não gostou de ser confundida com um homem, foi estranho. A roupa e a falta de iluminação não ajudavam muito, mas ainda assim ela não parecia um homem.

Andava encolhida por causa do frio e com o casaco um pouco folgado, mas ele poderia ter percebido que era uma garota.

Realmente o homem lhe pareceu esnobe, assim como sua acompanhante, Margô.

Já estava ficando tarde e com certeza seus irmãos estariam preocupados com ela, mas não teve culpa. A velha pick-up resolveu parar de vez e a deixou na mão.

Sabia que isso aconteceria uma hora. O carro já estava com eles há muito tempo e já tinha feito até demais. Passou de seu pai para sua mãe e depois para ela.

Tinha tempo demais nas costas e era usada para tudo o que eles precisavam. Já vinha dando sinais de que precisava de uma boa manutenção, mas ela ainda não tinha o valor suficiente para deixá-la em uma oficina para dar uma geral.

E chegava a ser irônico. Ela tinha parado para ajudar alguém que estava em dificuldade com o carro e estava voltando para casa á pé e sozinha. Á noite. Com seu próprio carro parado bem perto, alguns metros antes de onde os encontrou.

Poderia até dizer que isso era uma piada de mau gosto.

E é claro que isso só poderia acontecer com ela. Quando contasse aos irmãos com certeza iriam rir e depois reclamar por ela não ter pedido ajuda em troca.

Até que ela era uma pessoa positiva, apesar de tudo o que já tinha passado na vida, mesmo jovem como era. Só que de vez em quando ficava desanimada com a demora em algumas coisas para aconter.

Estava acostumada a esperar o momento de cada coisa acontecer, mas isso não queria dizer que ficava tranquila sempre. Já tinha imaginado tantas coisas boas para ela e os irmãos, mas elas aconteciam devagar e nem sempre da mesma forma como planejara.

Mas continuava positiva. Fazer o que?

Quando era mais jovem, até tinha muitos sonhos, mas muitos foram ficando pelo caminho diante das dificuldades e escolhas que precisava fazer. Chegava a sonhar acordada com coisas que queria realizar e ter, mas com o tempo e com as obrigações exigindo muito, isso foi ficando sempre para depois e algumas foram ficando esquecidas.

De vez em quando ela ainda tinha algum tipo de desejo ou sonho para realizar e se fosse com calma, acabava conseguindo o que ajudava a amenizar um pouco a dificuldade da vida.

Não podia reclamar de seu último ano. Tinha sido muito bom com relação ao trabalho e também em casa. Tinha aprendido a ser paciente com a vida e com os rumos que ela criava.

Gostava de ficar atenta ao que ocorria em volta para não perder uma boa oportunidade quando ela aparecia e sempre dizia o mesmo aos irmãos.

O vento soprou mais forte e ela se arrepiou de frio. Suspirando ajeitou o capuz sobre a cabeça e cruzou os braços para se esquentar e continuou seu caminho solitário até chegar em casa, apressando o passo.

********

Gustavo deu uma olhada na garota ao seu lado. Balançou a cabeça ao ouvir sua conversa boba que não mudou desde que saíram do atoleiro lá atrás.

Margô era muito bonita, sem dúvida nenhuma e fazia questão de mostrar isso, não só para ele, mas no momento estava sem paciência para flertes e conversas bobinhas de futilidades. Ainda mais depois de ter que fazer um esforço pesado pra retirar o carro do atoleiro de neve.

Suas costas doíam mais agora e o estavam matando. Ele queria chegar logo ao hotel para poder tomar seus remédios e um bom banho quente para ajudar a relaxar e deitar em sua cama. Queria dormir o resto da noite e não ficar ouvindo bobagens sobre artistas e fofocas sobre os moradores da cidade.

Ele já estava saindo quando ela chegou apressada ao seu lado e lhe pediu que a levasse em casa.

Tudo o que queria era voltar para o hotel e descansar, mas não queria ser mal educado e depois da conversa melosa dela, ofereceu levá-la, mas não queria perder tempo com sua paquera.

Ele sabia bem o que ela esperava dele, mas não estava ali para isso e nem estava com humor nessa noite.

Quando aceitou o convite dela para sair, não achou que a garota fosse tão fútil e que seus amigos seriam iguais. Logo que a viram com ele já começaram as perguntas bobas.

Ele até aproveitou a festinha para observar as pessoas e conehcer alguns moradores do lugar. Conversou um pouco com eles, perguntando sobre como era morar em torres, seu comércio, o que faziam para movimentar o lugar e outras perguntas básicas para ajudar a decidir se ficaria ou não morando ali por um tempo.

A chance de ir embora surgiu e ele se despediu do grupo que conversava, mas Margô o viu se afastar e foi logo correndo, entrando no carro e fazendo uma cara de menina dengosa. Pediu que a levasse para casa e claro que ele disse que sim.

Desde o dia em que conheceu Margô, ela já tinha começado a dar em cima dele, mas fazia que não entendia. Só que depois de duas semanas na cidade, o flerte dela começava a ficar mais intenso.

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