Depois de Salvatore
Era impossível não chamar atenção, eu tinha cinco brutamontes em ternos pretos me seguindo. Todos desconfiam de quem eram aqueles homens, do que eles faziam parte. Os seus homens entraram comigo para a faculdade, nem mesmo na sala de aula eu tinha paz. Meus colegas estavam sempre cochichando a respeito. Os professores sempre irritados. Mas estranhamente ninguém tinha coragem de falar em voz alta ou fazer algo a respeito.
Eu tentei pedir para que se afastassem, que ficassem longe. Mas um deles apenas respondeu que seguia ordens do chefe, Salvatore.
Claro, Salvatore! Eu não sabia exatamente o que a Máfia fazia, eu tinha minhas desconfianças, claro, já tinha assistido filmes, eu já tinha escutado rumores. Mas tudo parecia tão surreal, tão longe da vida pacata que eu levava.
E em uma noite, com um ato samaritano eu trouxe para minha vida um mafioso. Eu tive esperanças de que ele me deixaria em paz, esqueceria esta história de me proteger. Mas eu estava enganada.
No dia seguinte, ele não apareceu, mas mandou um motorista em outro carro luxuoso. Obviamente, eu me recusei a entrar no carro. Naquele mesmo momento meu telefone tocou e ele apenas disse:
_ Entre no carro! Ou eu mesmo vou aí te pegar nos braços e te colocar em segurança!
Eu fiquei assustada, não sabia se pelo fato que Salvatore realmente faria isto ou pelo fato que eu realmente poderia estar em risco. Eu não disse nada, voltei para o carro que me esperava. Quando o motorista abriu a porta para mim, Salvatore do outro lado da linha disse apenas.
_ Melhor assim. Tem algo para você no carro. Tenha um bom dia, Anna.
Ele não esperou por uma resposta minha e desligou. Somente aí percebi a rosa vermelha e uma pequena caixa acompanhada de um pequeno bilhete.
Ansiosa eu peguei o bilhete e comecei a ler: ...Non sono un angelo, né un genio, né un fantasma... (Gaston Leroux, Il fantasma dell'Opera
“...Não sou um anjo, nem um gênio, nem um fantasma...” - O fantasma da Ópera
Eu conhecia bem este trecho, já tinha tocado aquela opera. Pelo jeito ele gostava de ler. Sorri. Peguei a caixa e abri. Dentro estava um colar com um pingente delicado em forma de clave de sol. Eu tinha amado o gesto. Eu peguei o telefone a agradeci por mensagem.
A partir daí virou rotina, carros luxuosos, uma rosa vermelha, o trecho de uma opera ou um poema. Eu escrevia e ele respondia. E seguíamos falando sobre arte, sobre a vida, sobre tudo. Mas sem aprofundar no seu lado obscuro. Eu amava falar com ele, era seguro por mensagem, não ter aqueles olhos intensos sobre mim.
Mas passaram alguns dias em que ele nada escreveu, apenas a rosa foi enviada. Me senti estranha. Até mesmo, abandonada. Então me dei conta, a quão patética eu estava sendo. Um homem como ele não acharia graça em uma garota como eu por muito tempo. Ele tinha perdido o interesse e eu precisava seguir. Foi então que cansada de tudo decidi quebrar sua regra.
Um dia após a aula, cansada de toda a situação em que eu mesma tinha me metido sozinha, pulei da janela de trás da sala do anfiteatro e corri para a rua. Conseguindo pegar um ônibus. Eu estava feliz, finalmente livre daquele espetáculo dele. Se eu tivesse escutado o que vovó dizia eu não estaria naquela situação.
Encostei minha cabeça na janela do ônibus, olhando o mar banhar a praia do outro lado da avenida. De repente uma Bugatti La Voiture Noire ultrapassou o ônibus e bruscamente freou. Todos gritaram e motorista do ônibus começou a xingar o motorista do carro esportivo. Mas quando o ocupante do carro luxuoso desceu ajeitando o seu terno caro e caminhou com elegância para dentro do ônibus todos se calaram. Salvatore caminhou lentamente e parou do meu lado.
Ele era irritante, convencido e eu estava muito zangada. Mas ele não me deixaria ali de qualquer maneira. E eu já tinha me dado por vencida. Afinal, ele tinha me tratado bem apesar de seu comportamento protetivo.
Ele estendeu sua mão e esperou tranquilamente. Eu estava perdida, pois segurei sua mão e fui levada para o seu carro. Ele nada disse e partiu estrada a fora acelerando forte, assim como estava acelerado o meu coração.
Anna Bellucci
Eu tinha subido naquele ônibus fugindo e acabei no carro com Salvatore. Ele avançou pela estrada em alta velocidade, muito acima do limite permitido. Eu nunca tinha andado com alguém que quebrasse tantas regras em tão poucos minutos. Seus gestos conduzindo o carro eram seguros, ele parecia à vontade. Eu normalmente tinha medo de desobedecer a qualquer uma das regras a mim impostas. Mas Salvatore parecia ser feito para desafiar todas as regras que surgissem em sua vida. E de certa forma, algo me atraia para ele.
Eu sabia que estava errado e que Deus me perdoasse, mas eu estava gostando de sentir aquela adrenalina.
_ Você não pode sair sozinha!
Ele falou, mas os seus olhos estavam na estrada.
_ Eu não preciso que você me proteja. _ respondi prontamente.
Ele deu um sorriso torto. Mas nada falou. A voz melancólica de Lana Del Rey cantando Salvatore, estava tocando. A melodia me causava uma estranha sensação e a presença de Salvatore D’Aquila parecia ditar que aquela letra era um presságio, uma advertência.
Eu não era experiente em nada que se tratava do coração, muito menos de pele. Mas ao meu lado estava um homem mais que experiente e letal. Não pela arma que eu vi escondida em sua jaqueta, mas ele era letal apenas por ser quem era. Salvatore possuía a beleza de uma escultura de Canova. Seu corpo alto e forte, seus densos cabelos negros e seu olhar escuro davam a ele uma beleza que não passava despercebida.
Ele parou o carro, tínhamos chegado no Castello Normanno. Ele não disse nada, desceu do carro e abriu a porta para mim, estendendo a sua mão. Eu nem deveria ter entrado em seu carro, mas lá estava eu. A curiosidade era um pecado? Salvatore me instigava a querer conhecê-lo.
Caminhamos de mãos dadas até a parte mais alta do castelo.
_ Você ama música. Sempre tocou piano?
_ Sim. O meu sonho é tocar na Orquestra de San Remo. Eu sempre assisto as apresentações pela TV e eu me imagino fazendo parte ...
Parei de falar, eu estava sendo estupida falando sem parar. Ele me olhava atentamente ainda segurando a minha mão.
_ Um sonho bobo. _ falei enquanto tirava minha mão da dele.
Me virei observando o imenso mar a nossa frente.
_ Não é um sonho bobo, Anna. Gostaria de te ver tocando algum dia.
Tudo era muito estranho, toda quela situação entre nós. Não fazia sentido algum.
_ Salvatore, eu não posso ser seguida o tempo todo. Você não pode me forçar a fazer tudo do seu jeito. Mal nos conhecemos.
_ Por isto eu te trouxe aqui. Para conversarmos, para mim é essencial que você confie em mim. Pois, eu preciso te proteger.
_ Eu não preciso de proteção, não faço parte do seu mundo...