4 - Você já foi dele ontem a noite
Kaira está aliviada por ver o seu pai, ela treme em seu peito, enquanto chora por tudo que está acontecendo, sem saber que ele a entregou aquele homem que todos chamam de Fera, todos o temem, mesmo tendo seu corpo frágil, pois seu dinheiro supre todas as suas necessidades, ele sempre tem o que quer e pune quem ousa o desafiar.
– Você está aí! – Diz o homem se aproximando com a mão sangrando. – Venha comigo, você vai me arrumar um problema. – Diz ele ríspido.
– Fique longe de mim. – Grita ela abraçada ao seu pai, atraindo atenção dos pedestres. – Papai, me leve para casa.
– Filhinha, fique calma. Você tem que ir com esse homem, ele é o motorista do teu marido. – Quando Caio termina de falar, o corpo de Kaira fica mole e ela vai perdendo o sentido, tentando se convencer que não ouviu aquilo. – Kaira! – Diz ele assustado pegando-a no colo.
– Sr. Zimmermann, pode me entregar ela, eu vou levá-la para mansão, o Sr. Keller deve estar muito estressado, ele não gosta de atrasos e sua filha causou bastantes dificuldades essa manhã. – Diz o motorista olhando para a sua mão.
– Eu a levo até o seu carro. Ela só está assustada, ela vai aprender a se comportar e se adaptar a sua nova vida. – Diz Caio observando o rosto frágil da filha.
– Tudo bem, me acompanhe. – O homem caminha de volta ao hotel e vai para o estacionamento seguido de Caio, Kaira recupera os sentidos antes que seu pai coloque-a no carro.
– Nãooo, me solta, me solta. Não faça isso comigo, você é meu pai. – Grita desesperada ao avistar o carro.
– Fique calma princesa, fique calma, eu te disse que o Sr. Keller escolheu a minha filhinha como esposa, fique calma, faça isso pela família. – Diz ele beijando a testa da filha.
– Isso é mentira, me diga que é mentira? Me solta. – Grita desesperada se debatendo no colo do pai, enquanto tenta se soltar. – Me solta, eu vou voltar para a casa.
– Você não voltará a lugar nenhum, você vai para a casa do seu marido, cale a boca e cumpra o seu papel, você já foi dele ontem a noite. – Grita seu pai de volta, ela fica em silêncio e engole em seco o que acabou de ouvir, tudo que ela consegue sentir é uma imensa dor na alma, por ser usada e não se lembrar de nada.
– Vocês me drogaram? – Questiona ela sentindo as lágrimas escorrerem, enquanto seu coração está em pedaços, o pai dela fica em silêncio e ela confirma que sim. – Depois de tantos anos, sem me servir uma xícara de chá, quando enfim voltou a fazer, foi apenas para me desgraçar. – Ela fecha os olhos bem apertados, sentindo o peso daquele ato, enquanto seu pai a coloca no carro. – Você morreu para mim! – Diz ela encarando-o limpando suas lágrimas, ele bate à porta.
– Me desculpa por ela, Kaira tem a personalidade difícil da mãe, uma boa surra vai ensiná-la, igual ensinava a mãe dela. Diga isso ao Sr. Keller. Tenha um bom dia. – Ele retira-se sobre o olhar do motorista.
O motorista entra no carro e tranca as portas, para que Kaira não possa fugir, assim que eles saíram daquele estacionamento, ela suspira tentando aceitar tudo aquilo.
– Vou levar a senhora até a sua casa, o Sr. Keller está te aguardando, já estamos muito atrasados, você terá que se desculpar com ele, senão desejas ser punida. – Diz ele dando partida no carro, enquanto observa o olhar dela pelo retrovisor, é um olhar vazio como se ela não tivesse vida.
– Me desculpar? Eu não sou casada, que loucura é essa, eu tenho um namorado em Londres, vocês são doentes? – Questiona ela.
– Vocês se casaram ontem, você pertence ao Sr. Keller. – Quando para no sinal, após ouvir aquelas palavras Kaira se desespera e tenta abrir as portas de todas as formas, ela começa chutar, dar tapas e gritar desesperada.
– Me ajudem, por favor, eu estou sendo sequestrada, me ajudem. – Diz ela enchendo a janela de tapas em meio aos seus gritos de desespero, chamando atenção dos pedestres. – Por favor, alguém me tira daqui, liguem para a polícia, socorro. – Mesmo com a atenção voltada para si, nenhum pedestre ousou a ajudá-la, pois todos sabem que aquele Rolls-Royce Phantom, pertence à Fera de Lucerna.
– Senhora Keller, ninguém vai te ajudar, seu marido é temido e influente em toda Lucerna, não seja uma mulher desobediente, estou te dando um conselho que facilitará a sua vida, siga as ordens e você ficará bem. – Ele fala num tom ameno. – Você é uma dama, por isso foi escolhida como esposa do Sr. Keller, por favor se mantenha como tal. – Kaira o observa, ela para de tentar escapar e vai o resto do caminho chorando baixinho.
A casa de campo da família Keller fica um pouco afastada do centro de Lucerna, então é uma viagem um pouco longa, quando enfim eles chegam na propriedade o motorista abre os vidros, pois acha que ela vai gostar da paisagem, a propriedade está cheia de árvores frutíferas e diversos tipos de flores, Kaira observa o lugar e fica impressionada com aquilo, quando eles se aproximam da casa, ela coloca a cabeça para fora do carro e observa a enorme mansão que tem uma construção medieval, aquela casa parece um castelo e ela sente que seu algoz irá prendê-la numa masmorra. O motorista desce do carro e vai abrir a porta para Kaira a tirando de seus pensamentos, quando ela desce do carro o homem que está parado em frente a janela do segundo andar fica observando-a, ela sentiu um arrepio como se alguém estivesse encarando-a, ela leva o seu olhar pelas janelas daquele castelo, até chegar ao lugar que estavam observando-a, tudo que ela vê é a cortina se fechando.
– Me acompanhe, senhora Keller. – Diz o homem caminhando até a entrada da porta, ela o segue, quando ele abre a porta o hall de entrada da visão a uma enorme sala que tem uma longa escadaria. – Entre por favor. – Assim que ela entra, ela escuta o barulho da porta se fechando atrás de si, ela fecha os olhos imaginando o seu fim.
– O que eu devo fazer agora? – Questiona ela com a voz trêmula, antes que o motorista responda, ela enxerga o homem no topo da escada, com seus cabelos perfeitamente arrumados, olhos pretos, que lembram a escuridão, a mesma escuridão da noite passada, ele não tira o olhar dela, trazendo as mesmas sensações que ela sentiu horas antes, os calafrios dominam o seu corpo, enquanto ela observa aquele homem alto e musculoso, com a postura impecável e um olhar que a faz tremer descendo lentamente as escadas. Quando ele se aproxima e para em sua frente, a respiração dela está tão acelerada e o coração batendo forte, ele pega sua mão e dá um leve beijo em cumprimento, se portando como um cavalheiro.
– Bem-vinda a sua casa, Sra. Keller. – Diz ele exibindo seu sorriso encantador.