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part 2

— O que vai querer senhorita Elena? — me pergunta ela com seu caderno sobre as mãos.

— Um café bem quente e dois hamburguês bem caprichados, por favor. — disse a fazendo retirar sua caneta da boca.

"Por que diabos alguém colocaria uma carta na goela de uma pessoa? Realmente isso foi um acerto de contas? Mas por que a carta?! E como foi tão esperto a ponto de não deixar digitais?! ... Que tipo de cara é esse..."

— Aqui está chefe. — disse ela colocando tudo sobre a mesa desleixada e já sem coloração.

— Espero que aproveite, e que não se importe, Gabi me ajudou hoje com seu café. — Informou ela sentada a minha frente. Ao vê-la dar tchau a alguém e sorrir, não tive a mínima dúvida de que era Gabriele sua única filha.

— Mamãe eu posso brincar no parque por mais tempo hoje? Por favorzinho? — implorava ela sorrindo para nós.

— Tome cuidado. — pediu ela recendendo um beijo como agradecimento.

— Ei! — disse segurando em seu fino pulso. — Tome cuidado. Não de atenção a nem um estranho.

— Não se preocupe — ela deixa transparecer seus pequenos dentes brancos enquanto tira pouco de seus cachos do rosto com alguns dedos que estavam desocupados, no mesmo instante que segurava seu trapo velho, que chama de urso. —, esses caras não são doidos de mexer com a amiga da policial mais bonita do bairro. — Apenas assenti a soltando o pulso e a vendo correr.

— Cuide bem dela. — disse tomando meu café.

— Você sabe, Gabi nunca foi de ficar parada. É difícil mantê-la junta a mim quando não está na escola.

—Tente. Pelo menos por esses dias. — Não que eu me importasse com ela, mas um rapto de criança nesse pouco tempo que tenho, e com esse caso que seguro, não seria algo que eu poderia dar tanta atenção.

— Mas por quê? — ela sorrir. — Todos aqui a conhecem. É como ela disse ninguém a tocaria sabendo que ela chama de tia, a melhor policial da área.

— Apenas cuide dela. Não quero ter que cuidar de um caso de desaparecimento. — Informei me levantando. — O banheiro está vazio? — a vejo assentir. — Prepara para a viagem, eu vou levar. — Digo caminhando até a porta ao fundo da loja.

Era um banheiro escuro, pouca claridade, e o cheiro sobre o mesmo não se era um dos mais agradáveis; o ranço de fritura, pinho, cloro, pedra sanitária e muitos outros cheiros fundidos a um só. O espelho quebrado esse eu também já havia me acostumado, ao passar meu batom sobre os lábios ouvi uma voz família, não sei se procurava por mim, ou se tinha necessidades de estar ali.

— Ali está ela. — Respirando fundo eu caminho sem perder o ritmo de antes. — Aqui está senhorita, e se me dão licença, eu preciso ir agora. — Assenti pegando meu lanche e caminhando até a saída.

— Não finja que não me viu parado ali.

— Que eu saiba você tem pernas. — disse sem olhar para o agente. — O que quer?

— Vamos para aquela praça nojenta. Lá é o único lugar que podemos conversar sem que alguém nos observe.

Quieta eu caminho ao seu lado tentando sempre me manter alguns sentimentos longe do mesmo. Seu grande casaco escuro chama a atenção de um mendigo sobre a calçada que se esconde sobre seus panos.

— Não é um lugar muito apropriado para crianças brincarem, não acha? — disse com suas mãos sobre o bolso fundo. Ele se referia a Gabriele, que na verdade era a única criança que ainda frequentava esse lugar.

— Vamos logo ao ponto. Por que está aqui?

— Conversamos entre nós e achamos que seria mais apropriado que fosse embora amanhã mesmo, ou se preferir hoje após seu turno?

— Ainda observando a menina, eu sorrio sem jeito. — Deveriam saber melhor que ninguém que meu turno não tem fim. — Digo. — E não me importa o que é ou não apropriado para vocês, meu contrato acaba daqui seis dias. E só daqui seis dias eu deixarei a cidade.

— Acho que ainda não entendeu. — Ele se vira para mim.

— Acho que quem ainda não entendeu aqui foi vocês. — Digo me virando para ele. — Eu não vou sair daqui nem um dia antes, e nem um dia depois de meu encerramento de contrato. Ouviu bem senhor Fernando? — disse vendo o olhar de espanto sobre o agente à frente ao saber que eu já havia descoberto que nosso supervisor geral nos ouvia. De repente ele tira o fone de seu ouvido e me estende a mão a frente.

— Ele quer falar com você.

— ... Eu admiro seu prazer no que faz, mas acho que já estar na hora de descansar.

— Desde quando se importa com o bem-estar de seus empregados? Eu não vou retirar nem uma das palavras que disse, quando assinei aquele contrato nele estava bem claro "seis anos de serviço, e nem um dia a menos ou a mais". Bem é isso que estou fazendo, nem um a mais e nem um a menos.

— Por um acaso você acha que vai conseguir concluir esse caso? Em quase seis anos tudo que fez foi cuidar de um bairro de pessoas ignorantes. Vendas proibidas de drogas, estupros, agressões e muitas outras coisas sem importância que esse bairro tem a oferecer. Deveria estar me agradecendo por tirá-la mais cedo desse inferno.

— Eu solto uma gargalhada. — Então é pelo caso? — digo com ignorância. — Eu não vou abrir mão dele, nem para você e nem para ninguém. Esse bairro ainda continua sendo meu, e quer saber? Vai à merda você e seus agentes, eu só saio daqui quando faltar um segundo para o encerramento dos papéis. — Ao tirar os fones e leva-lo em direção às mãos do agente eu ouço os gritos de Fernando sobre o mesmo. — E você se manda. — disse o vendo sair ainda com a mesma cara feia de quando chegou aqui.

O observando caminhar sobre a calçada, eu reparo sobre a mão estendida do mendigo sobre o chão, sem que o agente parasse o mendigo o agarra a boca da calça escura. Ahh...! Me solte seu verme. Disse o diabo puxando com força sua perna e chutando o rapaz ao chão. É isso que você e todas as pessoas desse bairro merecem... Declarou ele após cuspir em sua mão ainda aberta e caída sobre o chão.

— Oi titia! — disse ela já a minha frente. — O que você tem? Quem era aquele moço?

— Não sou sua tia. — disse a vendo ainda com seu grande sorriso sobre o rosto. — Acho melhor ir agora.

— Mas ainda não brinquei direito.

— O que uma menina de cinco anos vê nesse lugar imundo? — eu o observo rapidamente. Era um lugar feio, cheio de lixo e brinquedos maltratados.

— Eu não sei, talvez eu veja o que você não vê.

— E o que você ver? — pergunto me abaixando.

— Um lugar bonito. Onde muitas crianças se divertem com seus papais. Tem flores, muitas árvores e um balanço bem ali. — Ela aponta para onde há apenas um enorme ferro cravado ao chão, resto de um suporte de balanço.

— Você está doente? — ela sorrir brincando com seu urso sujo.

— Nós vamos ajudar a mamãe. — disse ela fazendo o estalo de um beijo após chegar seu trapo velho até minha bochecha.

A assistindo correr pela calçada, eu me levanto caminhando pela mesma e fingindo não notar o mendigo estirado sobre o chão com sua cabeça tapada e a mão ainda aberta sobre o mesmo. Apertando forte o pacote de papel sobre minha mão, eu tentei recuar, mas algo em mim que eu ainda não conhecia e nem sabia o que era, tomou conta de meu corpo. Recuando eu agachei à frente da mão suja e cabeluda, ele tinha um odor forte, mas nada que me fizesse recuar e para meu ato. Pegando o hambúrguer que havia de estar ainda embalado, eu o coloquei sobre sua mão o vendo aperta-lo e tirar o cobertor de seu rosto.

— Muito obrigado senhorita. — disse ele antes de me segurar a mão ao ver meu recuo. — Os homens de preto... Os homens de preto, eu vejo eles em todo lugar... Estão nos vigiando, tome cuidado senhorita, tome cuidado. — Após suas palavras ele agradeceu novamente abrindo a embalagem e abocanhando o hambúrguer.

"Os homens de preto..."

Talvez estivesse biruta pela fome, passar todos os dias nesse lugar abandonado e malcheiroso, certamente acabou com seus neurônios.

Sem despedidas eu me levantei seguindo meu rumo até finalmente avistar a sede, e sobre a porta grande de vidro, eu não consegui ver ninguém, acredito eu que eles estão pegando pesado no trabalho. Ao invadir o espaço que era de meu direito até então, eu sigo mais a frente onde ouço gritos ao fundo, eles vinham da sala de balística. O traseiro de Felipe estava à amostra, que dizer, parte dele. Ele gritava altos palavrões enquanto Beto o tentava ajudar e Clara uma bela morena de cabelos escuros ria alto enquanto limpava algumas armas.

— Que bom que chegou — disse ela ainda tentando desfazer seu sorriso.

— O que está acontecendo aqui? — pergunto observando a cara de tensão de Felipe.

— Ele prendeu o dedo na arma novamente. — Informou dando início a suas gargalhadas. O suor escorria pela testa de Felipe e de Beto que o tentava ajudar sem sucesso algum. — Acho que encontrei nossa arma. — Ela dá um breve disparo com a arma que acabará de limpar sobre o balcão. — Sabe talvez se fossem até a sala de laboratório, Ester poderia os ajudar.

— Não, acho que não seria uma boa ideia. — Declarou ele voltando a puxar a arma da mão gorda de Felipe.

— Vamos... — disse. — Ela é apenas uma mulher, só precisa a dizer que não está afim, e pronto.

— Não com ela as coisas são mais complicadas.

— Bem então eu lamento Felipe, mas você não terá seu dedo de volta. — Após suas palavras Felipe o agarra pela gola da camiseta verde escura e o implora mais uma vez por sua ajuda.

— Se eu fizer isso, você vai ter que me ajudar naquele favor. — disse tirando a mão gorda sobre seu corpo.

— Eu faço todos os favores que quiser, mas, por favor, me ajude com minha mão. — Finalmente ele aceita encarar Ester e seus chiliques.

— E então o que temos? — digo me aproximando e pegando os óculos juntamente aos fones. Eu faço algumas tentativas após o encaixe do silenciador. Os projéteis se enterram sobre a espuma, caindo em seguida sobre a bacia de água abaixo.

— Vamos ver. — ela analisa dois dos projéteis, sendo eles, um dos meus disparos e um dos dela... — Como eu pensei. — Ela me chama até mais ao seu lado onde coloco os objetos sobre a mesa e espero suas palavras. — É uma Glock 17, 9 mm. — informou colocando as armas a frente.

— Uma arma policial. — Ela assentiu.

— Está vendo essas ranhuras? — ela compara uma à outra. — Essa é a minha, e essa a sua. — Ambas estavam diferentes visivelmente, assim como ela havia dito as balas que foram liberadas por minha arma, havia ranhuras de aparências diferentes da sua. — Isso é graças ao silenciador.

— Então procuramos por uma Glock 17 e seu silenciador. — Sorrimos. — Ótimo trabalho.

— Sempre né princesa. — Após sua retirada, eu caminho elétrica de encontro à saída, porém após cruzar a mesma, eu dou de cara com Beto que me segura ambos os braços após o impacto.

— Procuramos por uma Glock 17. — Informei.

— Eu vou pedir o mandado.

Era incrível como Beto e eu pensávamos idêntico, e não havia como não ver em sua face o prazer em poder fazer tão coisa, encontra a arma do crime já seria uma boa peça em nossa investigação, ou pelo menos o dono dela. Mas e se ele realmente for o dono da arma, ele poderia ser também nosso assassino? Ah não, claro que não... isso seria doentio.

— Vocês são loucos! — um grito pouco rouco me invade os ouvidos. — Vocês acham mesmo que o juiz vai fazer a vontade de vocês? Um mandado em menos de vinte e quatro horas?! — exclama ele com seus braços atirados sobre minha mesa.

— Primeiramente se acalme.

— Me acalmar? O que pensam que eu sou? — ele leva suas mãos sobre a cabeça raspada. — Eu quero muito ajuda-los, mas um mandado em tão pouco tempo não é possível.

— Então vamos ter que contar com a sorte. — informei vendo as mãos nervosas sobre a cabeça de cor escura. — Se acalme Paulo, preciso que tome conta de tudo enquanto eu estiver fora. Você consegue fazer isso? — ele assentiu. — Está bem. Vamos!

Nossos passos apressados são dirigidos até o automóvel particular de Beto. Já estávamos preparados e prontos para a partida, e em toda essa correria contávamos apenas com a sorte de não encontrarmos o dono sobre seu imóvel. Poderíamos encontrar tudo, até mesmo muitas das mulheres que conviviam sobre o mesmo cômodo, mas não ele, não Bruno.

As ruas aos poucos diminuem de km. Cada segundo de silêncio sobre o carro era um avanço a mais ao nosso destino.

— Eu sei que não quer falar comigo, mas...

— Eu estou falando com você, afinal estou fazendo isso agora. — disse após o interromper.

— Não assim. Quero dizer... Elena eu a conheço bem e sei que depois de um vacilo meu, nossas conversas não são nada mais do que trabalho.

— Deveria ser assim desde o primeiro dia.

— É, mas não foi. Só me deixa explicar. — Eu fico quieta observando somente o asfalto. — Quando eu a vi em perigo eu achei que...

— Eu não estava em perigo está legal?! — berrei. — Eu tinha tudo sob controle até você os mandar abaixar a arma. Quem foi que disse que você poderia tomar a ordem de tudo? De onde tirou essa ideia estúpida?! — eu o observo.

— Você estava dominada. Você acha que tinha controle de tudo, mas quem estava observando tudo de perto era eu. Quem sentiu o medo de perder alguém naquele momento fui eu! Então para! Já chega de bancar a durona.

— Pode para aqui. — Digo após conhecer nosso destino.

Tirando o cinto de segurança sobre meu corpo eu caminhei porta a fora desejando que a vinda até aqui tenha válido apena. Eu não posso me deixar abater, não posso deixar meu trabalho em segundo plano se é isso que ele está pensando. É claro que eu estava à pá de tudo, eu tinha tudo sob controle.

Eu respiro fundo acumulando todo o ar possível em meus pulmões para então finalmente tocar a campainha, porém a inconveniência de Beto coloca seu dedo sobre a mesma antes que eu mexesse mais algum músculo. Ouço passos vindos em nossa direção, eram saltos e eles pareciam em perfeita harmonia.

— Ah, oi policiais. — Ela mostra um sorriso desleixado. — Jin os tiras estão aqui! Podem entra. — diz ela sorrindo para Beto segundos antes de se retirar.

— Aí que bom que estão aqui. Vocês me ouviram? — ela rir. — Ah não, não, não... É claro que não. Bem eu queria mesmo os ver. Sabe na noite passada enquanto eu andava por essas ruas escuras, vocês sabem né? Ultimamente esses postes não estão dando mais luz. Enfim. Eu estava caminhando quando de repente alguém roubou meu salto.

— Seu salto? — perguntei.

— Sim meu salto não sabia? Não é por isso que estão aqui? Não me ouviram? Ah que santo burro. — Santo? Salto? De que diabos essa mulher está falando? — Eu havia o pedido para chamar vocês, mas não importa. Por que estão aqui mesmo? — ela sorrir fechando seus minúsculos olhos sobre o rosto branquelo.

— Viemos ver a coleção de armas policiais de seu marido.

— Ah as armas do Bru. — Ela dá uma gargalhada fina. — E ele sabe que estão aqui? — eu olho para Beto.

— Sim é claro. Por sinal, adorei a roupa. — Eu volto a olha-lo.

— É um quimono querido. Bem, sigam-me.

— Adorei sua roupa? — debocho o vendo levantar os ombros.

Pisávamos em uma grande mansão decorada no estilo chinês, muitas luminárias e leques sobre a parede, o chão feito de madeira tinha longos tapetes de escrituras chinesa. Sobre uma grande sala ela nos pede para ficarmos imóveis logo mais à frente da chaminé. A grande parede corre para a esquerda dando lugar a um grande arsenal de armas, e todas elas armas policiais.

— Venham, venham... Se aproximem. — Foi o que fizemos. — Estão todas aqui. Querem alguma coisa para beber?

— Na...

— Meninas! — gritou antes mesmo que me deixasse terminar minha palavra. Seu sorriso sobre pequenos e finos lábios nos encaravam como se quisesse sugar nossa alma. — Meninas! — gritou novamente. — Por que tanta demora? — de repente uma jovem chinesa totalmente nua se aproxima. — Já era hora. Vê se traz alguma coisa para os policiais beberem. — a jovem se curva retirando-se em seguida. — Elas não agradecem nem pelo teto acima delas.

Enquanto ela resmungava, um pequeno filhote de cachorro corre próximo a minhas pernas subindo nos braços finos da mulher logo atrás. Enquanto observamos as armas em ótimo estado sobre a parede à mulher magrela brincava com seu cachorro. As armas estavam em ótimas condições e nunca haviam sido usadas, não havia cheiro de pólvora, apenas muito brilho após longas limpadas a base de óleo.

— Seu marido não teria nem uma Glock 17? — pergunto vendo confusão sobre sua face.

— O que seria uma grock 17?

— Glock. Glock 17. — disse Beto.

— Desculpe não entendo nada de armas. — Ela gargalha. — Todas as armas que Bru tem, estão aí. — Merda. De repente a jovem retorna com algumas bebidas sobre uma grande bandeja prateada.

— Muito obrigada senhora, mas precisamos ir agora. — Digo caminhando mais à frente e evitando olhar novamente a silhueta nua mais o lado.

— Esperem, esperem! — ela corre até nós. — E enquanto ao meu salto? — Por que uma mulher coberta de dinheiro faria tanta questão de um par de saltos? — Bem ele é vermelho, salto 15, muito bonito para falar verdade... — ela para por alguns instantes. — Ah sim, já ia me esquecendo. Ele é coberto de pequenas pedras de diamantes. — Diamantes? Esse salto pagaria meses de meu aluguel.

— Tudo bem senhora, nós vamos fazer uma busca. — disse caminhando de encontro à saída.

— Não se preocupe, não gosto de asiáticas..., mas não pude deixar de reparar como são lindas. — Após ouvir suas palavras eu caminho rapidamente a sua frente. — Espere, eu estava brincando! — respiro fundo. — Ou talvez não.

— Eu dirijo. — disse pegando a chave de sua mão assim que ele se aproximou.

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