part 2
Posso sentir uma leve hesitação de sua parte, ele pausa com seu toque sobre a marcha e se mantém assim até que eu junte minhas pernas uma próxima a outra. Eu tinha certeza que ele estava olhando para elas, e de certa forma eu não me sentia desconfortável.
O carro avança nos tirando enfim da companhia daquela casa e dos agentes. Com a janela aberta, eu me coloco a tomar um bom fôlego, a noite que eu havia planejado para hoje havia mudado totalmente de rumo.
— Beto, me leve para a sede. — disse como se quase o desse uma ordem.
— De maneira alguma. Eu disse que a levaria para casa, e é isso que vou fazer.
— Não temos tempo para isso, temos um caso importante para trabalhar.
— Seu sono também é importante. — Ele me olha pelo espelho. — Se isso for a deixar mais tranquila, eu vou passar a noite na sede hoje, vou ficar a par de tudo do caso, e amanhã bem cedo você saberá desse "tudo".
— Mas... — antes que eu pudesse dizer algo mais ele liga o rádio em um volume que minha voz não fizesse eco algum em seus ouvidos. — Não me ignore, Beto. Beto! — após isso eu tento levar uma de minhas mãos até o rádio, porém uma das suas me segura o pulso. O olhando firme eu me solto da mesma me curvando até o banco de trás e pegando uma das cervejas quentes sobre o banco.
Sentir o líquido forte caminhar por minha garganta até finalmente chegar ao meu estômago, era algo que eu sentia constantemente, isso me anestesia por alguns minutos, e nesse momento me anestesia da voz rouca de Beto ao tentar fazer sintonia com a música sobre o rádio.
— Vamos, canta comigo. — Ele estava eufórico, batia com suas mãos grandes sobre o volante e chacoalhava seu corpo. Como ele conseguia ser assim com tal coisa acontecendo sobre o bairro, como pode ser tão idiota a esse ponto... De certa forma eu queria ser como ele, mas..., Mas algo em mim me mantém o que sou agora, e tudo isso graças há um algo muito maior. — Você precisa se soltar mais, vamos, cadê a Elena que conheci há seis anos?
— Há cinco anos, onze meses, três semanas e um dia. — Informei.
— Certo o que está acontecendo? — ele para o carro sobre a rua escura e me observa. — E então? — me perguntou após retirar a garrafa de minhas mãos e a virar sobre os lábios.
— Apenas não consigo com essa pressão toda sobre mim. Isso não deveria está acontecendo, eu amo esse bairro, amo meu trabalho. Mas eu não sei se posso dar conta, não com o pouco tempo que me resta.
— Bem podemos ligar, podemos pedir alguns anos a mais.
— Não! — exclamei sem intenção o vendo franzir a sobrancelha. — Eu já fiz isso. — disse retirando a garrafa de suas mãos e virando o pouco líquido que ainda havia nela. — Eles disseram que não poderiam fazer mais nada, passei muito tempo fora da cidade e é como se eu não fizesse mais parte dela, entendi?
— Não. — Ele ainda me observava.
— É como se eu fosse uma estrangeira, como se esse trabalho aqui não me pertencesse. Como se tudo que um dia eu criei aqui não fosse meu. — Eu o vejo me fitar, parecia pouco desentendido, ou melhor, parecia não entender exatamente nada. Sorrio. — Mas não importa, desde quando deixei de resolver um caso? — ele permanece em silêncio. — Exatamente. Nunca.
— Isso quer dizer que eu nunca mais vou te ver. — diante a suas palavras eu reparo sua tensão sobre o maxilar.
— Hm... — sobre meu interior eu caçava bem lá no fundo um único rastro de conforto para minhas palavras. — Não seja idiota. Isso quer dizer que finalmente vai subir de cargo.
— Essa não foi minha pergunta.
— De certa forma. — disse me virando para frente. — Podemos ir agora? Eu estou exausta. — Diante a nosso silêncio, eu o vejo da partida, essa é a primeira vez que eu havia tirado o bom humor e o sorriso alarmante de Beto, mas não era a primeira vez que o tratava assim. Finalmente depois de alguns minutos nós paramos, e sem uma palavra sequer abrimos à porta nos deslocando para fora. Ele então se aproxima, seus olhos estão fissurados em mim e automaticamente minha pele se arrepia. Com um sorriso sem jeito sobre o rosto eu o vejo passar direto sobre mim se colocando sobre o banco do carona. Que idiota eu sou, é claro que o que aconteceu há anos atrás, não voltaria a acontecer novamente, afinal fui eu...
— Aqui está. — disse me entregando as cervejas.
— Eu já havia esquecido. — disse o agradecendo e dando as costas para si.
— Elena. — Sinto um de seus braços rodear minha cintura me virando então em seguida para si. — Boa noite. — ele me deposita um beijo lento sobre uma das bochechas e se afasta em seguida fechando a porta atrás de nós e dando a volta pelo carro escuro.
— Boa noite... Beto. — Digo baixo antes de o ver sumir sobre a curva mais a frente.
Já sobre a frente de minha porta, eu me agacho ainda com as cervejas sobre a mão. Insistente eu caço logo mais abaixo do tapete camuflado perante a grama, minha chave. Finalmente. Minhas mãos estavam livres assim como meus pés. Sem a mínima vontade de guardar as coisas, eu as deixei ali mesmo, sobre o canto da porta. Com meu traseiro preguiçoso eu caminhei até mais ao sofá e me joguei sobre si, esquecendo a pilha de roupas sobre o mesmo. Eu havia mentido sobre descansar, na verdade descansar era o que eu menos sentia vontade no momento.
Com meu notebook sobre as mãos, eu pesquisei sobre a vida de Marcos, e não foi surpresa alguma encontrar seu nome sobre o registro policial.
"Marcos da Silva Conceição, nascido em 13/02/1978, com exatamente 39 anos. Preso duas vezes por porte ilegal de drogas. Filho de Maria Teresa da Conceição, ex-presidiária, nascida em 15/07/1960, falecida em 01/10/2011. Maria Teresa era conhecida como a Mulher das joias. Ladra das mais belas pedras e relíquias, mãe também de Bruno da Silva Conceição, nascido em, 17/01/1975 com exatamente 42 anos de idade. Bruno é conhecido como o maior traficante de drogas, armas e dinheiro do bairro, preso sete vezes por; venda de drogas, três por agressão domiciliar e uma por agredir um policial. Filhos também de Carlos da Silva Duarte...".
Diferente de todos os membros de sua família, Carlos não havia nem um antecedente criminal, um idoso de aproximadamente 65 anos de idade, todos o conhecia pelo bairro, havia ficado inválido após um acidente na estrada. Pode se dizer que sua vida também não foi uma das melhores.