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Um plano se forma.

― Você não tem direito às minhas ações ainda! Mamãe é minha procuradora legal até que eu complete dezoito anos! ― Bradou Nur, mas tio Samir riu.

― Você esqueceu de ler a última linha, Dyzi. A que fala que o procurador das ações do irmão de menor idade pertencerão ao irmão mais velho caso esse esteja casado ou a mim, no caso, se isso não for verdade. ― Tio Samir sorriu de lado e deixou que o advogado continuasse falando por ele fingindo que Nur não havia simplesmente interrompido ele na fala.

― meu cliente propõe que você se case com ele, senhora Ada. Assim, a pastelaria continuaria inteiramente para os descendentes da sua família, se não, morreria com ele, já que o meu cliente não tem filhos. ― Minha mãe engoliu em seco e parecia realmente ferida, mas disposta a aceitar um contrato ridículo desse tipo apenas por mim e por Nur.

A promessa que eu tinha feito para papai veio com tudo. Eu havia prometido que cuidaria de mamãe e de Nur. Eu não poderia quebrar a minha promessa. Eu faria de tudo, até mesmo algo ridículo como o que se passava naquele exato momento na minha cabeça, desde que eu conseguisse segurar a pastelaria.

E foi com esse pensamento que decidi terminantemente tentar até o impossível para isso. Como arrumar um noivo em 30 dias.

― Mas quem disse para o senhor que eu não tenho um noivo, tio? Estávamos esperando dar um tempo de 6 meses do luto de mamãe para a morte de papai antes de apresentarmo-nos como noivos. Ele chegou a conhecer papai quando ele ainda estava vivo, mas mamãe não estava no hospital quando ele veio nos visitar. ― Comecei. Aquela era a desculpa mais esfarrapada que eu podia inventar na vida.

Felizmente, bastou que eu desse uma única olhada para Nur para que ela entendesse o meu plano e decidisse entrar nele e me ajudar.

― Eu o conheci. É aquele rapaz que você chama de muz, não é mesmo irmã? ― Eu não fazia ideia de onde minha irmã tinha tirado aquela de muz, mas pensando bem, ela tinha sido esperta. Era uma forma de não revelarmos o nome do namorado de mentirinha para o meu tio, antes, pelo menos, que eu encontrasse um louco varrido que aceitasse participar da maior loucura que eu estava me metendo na vida.

Mas era tentar isso ou deixar que minha mãe se sacrificasse e se casasse com um ex-abusador. Um homem que aceitasse não me tocar e deixar que eu conseguisse a pastelaria, a colocasse no meu nome, antes de me divorciar dele, era mais fácil. Eu acreditava nisso.

― Isso mesmo, Nur. Ele é muito tímido e provavelmente não vai querer que eu revele quem ele é até ele criar coragem de se apresentar para você mamãe. Pelo visto, com esse testamento, vou ter que conversar com ele e pedir para que adiantemos os nossos planos de nos casar o mais rápido possível. ― Tio Samir tinha cara de quem havia engolido um limão. Ele não havia gostado do que eu tinha criado.

Para minha defesa, eu ainda não fazia ideia do que teria que fazer para conseguir colocar esse plano louco em dia sem que tio Samir desconfiasse que era uma fraude.

Porque ele não tinha cara de quem desistiria rápido do que ele aparentemente havia se esforçado tanto para conseguir.

― Ah é? Pois então, quando ele aceitar se apresentar a sua mãe, me avise querida sobrinha. Vou querer conhecer o seu noivo também. ― Tentei o meu sorriso mais falso.

― Pode deixar tio Samir. ― Meu Deus, quando a ficha caísse da loucura que eu estava gerando, acho que eu não ia querer nunca mais sair de casa.

Eu realmente não sabia como conseguiria o que estava me propondo. Mas tudo bem. A ação do plano ficava para depois. Eu tinha certeza de que Nur me ajudaria a conseguir o que eu queria.

Talvez, porém, porque eu estava muito nervosa com tio Samir me encarando como se soubesse que o que eu falava era uma mentira deslavada, acabei falando ainda mais do que deveria:

― Tenho certeza de que você vai gostar dele, tio. Ele é carinhoso, é muito gentil e bondoso. Parece alguém que vai se dedicar completamente a mim e a minha família.

― Não duvido minha sobrinha. Você merece no mínimo isso. ― Assenti.

Eu ia continuar me afundando, porque era o que eu fazia normalmente. Ou falava demais, ou acabava estourando na frente da mesquita toda, ou era mal-educada ou nem um pouco feminina. Enfim, tudo isso eram características minhas. Contudo, como Nur já me conhecia e sabia que eu era dessas, ela me cortou de continuar falando besteiras:

― Eu estou naqueles dias, entende tio? Já acabamos a nossa conversa por hoje? Porque eu realmente queria ir para casa cuidar da minha cólica chatinha, adiantar uma compressa na barriga, sabe como é essas coisas de mulheres né? ― Tio Samir não esperava isso. Choque com a liberdade que a minha irmã falou isso para ele.

― E eu preciso ver de fechar algumas massas para pré-assar também para amanhã. Espero que entenda tio. Vida de trabalhadoras é assim, entende? ― Cutuquei, pois não fazia ideia do que o tio Samir fazia da vida, mas certamente não trabalhava com algo que lhe desse gosto para querer roubar nosso negócio rentável.

― Entendo, entendo. Podem ir. Aguardarei ansiosamente a ligação de vocês me convidando para jantar com vocês. ― Dei meu melhor sorriso amarelo antes de puxar mamãe e Nur para fora daquele lugar tenebroso.

Puxei Nur para longe da mamãe e sussurrei no seu ouvido:

― Que fique só entre nós. Mamãe não pode desconfiar que estou mentindo. ― Nur concordou e piscou.

Certamente no dia seguinte mamãe perguntaria sobre o meu noivo misterioso, mas no fim daquele dia, ela ainda parecia absorta em pensamentos, lembrando de papai e absorvendo a conversa horrenda que tivemos que ter com meu tio Samir. Talvez só por isso ela não estivesse me abarrotando de perguntas sobre o meu noivo de mentirinha que ainda não existia.

Eu precisava pensar urgentemente em como arrumar um noivo assim, porque a grande verdade é que eu precisava pensar em possíveis respostas que teria que dar para mamãe quando ela começasse a perguntar sobre o tal de muz. Respostas que eu não fazia a mínima ideia de como as dar.

Por enquanto, a única coisa que eu podia fazer era rezar para que Deus me ajudasse. Porque eu não fazia a mínima ideia de como conseguiria sustentar aquela conversa se não achasse para ontem um rapaz disposto a entrar num casamento de mentiras comigo.

Esperava sinceramente que eu conseguisse.

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