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Desespero que chama.

Talvez por isso, por perceber que eu já não tinha mais um pretendente que fosse para me ajudar com tio Samir, que eu estivesse quase que implorando, ali, aos pés do Sheikh, para que ele me ajudasse com aquela história.

Detalhe, sem contar para ele que eu precisava me casar para manter a pastelaria, pois se eu falasse isso, ele nunca que me ajudaria. Precisava fingir alguma coisa mais tola, mas tão desesperada quanta. O tempo estava correndo contra mim e não era possível que o Sheikh não pudesse dar uma de casamenteiro como ele já tinha feito com muitos casais e me ajudar antes que eu enlouquecesse.

Talvez por isso eu tenha roubado um pouquinho do discurso do Ibrahim babaca.

― Eu preciso me casar logo, senhor Sheikh. Fui dispensada ontem mesmo por um muçulmano malvado e babaca que disse que nunca teria um compromisso sequer comigo porque eu já estava velha demais para isso. Foi quando me dei conta da minha idade. ― Fiz um choramingo só para dar mais veracidade a minha história. Precisava de uma dramaticidade, sabe como é.

Tudo bem que nada disso era verdade. Afinal, quem tinha abandonado o cara plantado na praça de alimentação tinha sido eu. Só que o Sheikh não precisava ficar sabendo disso, sabe? Alguns detalhes era melhor que ele não soubesse pelo meu próprio bem.

― E eu já tinha te avisado e avisado o seu pai de que você estava ficando muito velha para casar. Mas ele queria que você casasse por amor, então eu deixei. Fico feliz que você tenha percebido que casar por amor é bom, mas nem sempre possível. Infelizmente, foi um pouco tarde que você tenha percebido isso. ― Pisquei várias vezes sem entender nada. Meu coração acelerou no peito enquanto eu perguntava agitada:

― Percebido o que? Que casar por amor é bom? Ou que não é possível? Ou que estou realmente muito velha para casar? ― O Sheikh me ignorou, talvez porque tenha achado a minha pergunta besta ou porque achou que eu simplesmente não estava o ouvindo direito. Por isso, quando ele começou a andar pela mesquita arrumando alcorões na prateleira, ajeitando tapetes e outras coisas mais, em ambientes com mais do que somente nós dois, comecei a perceber que ele realmente estava fugindo de mim.

― Sheikh! Sheikh! ― Gritei correndo atrás dele. Pude ver que ele revirou os olhos e abaixei a voz ao perceber que estava parecendo uma louca gritando por ele no meio daquelas outras pessoas espalhadas por ali que tinham ido na mesquita rezar. Controlei a minha voz e tentei novamente:

― Sheikh, por favor, me ajude!

― Querida Dyzi, se você não quiser casar com um senhor mais velho do que o seu pai, tenho que informá-la que não há mais homens em idade fértil como a sua para casar contigo. Pelo menos não nessa mesquita. Pelo menos não um que eu conheça. ― E aquelas palavras pareciam por ao fim qualquer esperança que eu pudesse ter de arrumar um homem muçulmano para casar que aceitasse um plano da minha parte.

O problema de casar com homens velhos era que eles não se divorciavam. E Deus que me livrasse de ficar mais tempo do que o necessário num casamento sem amor.

Porque eu era do princípio de papai. Era melhor estar em um casamento com amor. Se assim não fosse, era melhor nem estar casada. Eu poderia ser uma tola, ou quem sabe meu pai houvesse me criado assim, mas eu tinha o firme pensamento de que poderia demorar muito, mais vai lá, um dia a gente encontrava alguém pelo qual o coração ficasse saltitando idiotamente.

― Por favor, Senhor Sheikh! ― Ele respirou fundo como se precisasse de paciência infinita para não me mandar embora quando eu estava claramente fazendo drama.

― Não se preocupe, Dyzi. Eu vou avisá-la assim que surgir um candidato para você. Mas não estamos em uma boa temporada para isso por enquanto… Você sabe, vamos começar semana que vem, inclusive, o ensaio de casamento para futuros noivos de 2022. ― Revirei os olhos. Aquela pieguice toda de ensinar como um casal deveria se portar junto para que realmente não houvesse opção de eles dizerem que não sabiam que fulano era desse jeito e por isso queriam se separar.

― Mas o senhor realmente poderia ter me arrumado alguém né… ― O Sheikh negou.

― Você também estava junto com a sua mãe nos 4 meses de luto após a morte do seu pai… Não posso desrespeitar esse tempo. De qualquer forma, Dyzi, saiba que podemos falar também sobre a morte do seu pai se você quiser, viu? Você nunca quis falar a respeito, mas uma hora precisará colocar essa emoção para fora. Tudo bem? ― E o Sheikh falava literalmente como um pai, como se perguntasse: “Estamos entendidos?”

Fiz um sinal de sentido, mas depois que o Sheikh revirou os olhos me desanimei. Minha real última esperança era de que o Sheikh tivesse um partido encalhado como eu esquecido real da sociedade. Mas não era o caso. Parecia que todo mundo tinha decidido ser feliz através do casamento e só havia uma alma errante que tinha desistido desse caminho até o momento que não teve outra alternativa além de escolhê-la.

Mas como o destino gostava de pregar peças, quando assim eu decidia, tudo conspirava contra mim e eu simplesmente não tinha chances de arrumar um marido.

Com os olhos já querendo ficar úmidos, pedi um uber para casa. Não queria chorar dentro da mesquita, muito embora eu estivesse me sentindo muito triste por ter que aceitar aquela terrível verdade: Era bem provável que nós perdêssemos para tio Samir a pastelaria Awada que papai havia conseguido erguer com muita determinação e esforço.

E isso doía tanto na minha alma que era quase como se parte do meu coração estivesse sendo arrancado nesse processo.

Em 21 dias eu perderia tudo. E essa era a única verdade inaceitável até aquele instante.

Eu odiava não ter soluções.

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