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2

— Na sua carteira só havia os seus documentos e uma pequena quantidade de dinheiro, senhor Fox. Não havia nenhum contato. Tem alguém para quem queira ligar? — Faço não com a cabeça.

— Sou novo aqui na cidade e os meus pais morreram quando eu era pequeno — esclareço.

— Sinto muito, senhor Fox! Uma namorada, uma esposa? — Faço não outra vez.

— Ok, descanse, senhor Fox e aproveite para dormir um pouco. Logo estará fora do hospital — pede, saindo do quarto. A enfermeira me ajuda a beber um pouco da água com o auxílio de um canudo e depois que deixa o quarto, eu adormeço.

(…)

Observo atentamente o homem segurar a arma em punho. Ele mira na cabeça de um rapaz com cerca de dezoito anos. O garoto chora e treme de joelhos no chão, pedindo por sua vida. Queria poder sair correndo daqui, mas o Cicatriz está em pé na porta.

— Segure a arma, garoto. — O homem me pediu, eu estremeci e hesitei. Não quero fazer isso. Não quero matar o rapaz. — Segure a arma logo moleque! — esbravejou. Engoli em seco e segurei a arma com a mão trêmula. Ele se prostra bem atrás de mim, ajeita o meu braço para que a mira não saia da cabeça do garoto. Tenho vontade de chorar, mas Cicatriz disse que se eu chorasse levaria uma surra. Puxo a respiração e me encho de coragem. — Olhe bem para a sua caça, garoto. Você não deve ter medo dele, ele deve ter medo de você. Se alimente do seu medo, Marrento. Alimente a sua a alma e aperte… aperte o gatilho. — Sua voz áspera preenchia os meus ouvidos. Fechei os olhos, ouvindo essas palavras e apertei o gatilho com força.

Em seguida escutei o som do estampido e quando voltei a abrir os meus olhos, vi o rapaz cair aos meus pés em câmera lenta, e o seu sangue começou a jorrar pelo chão. — Ótimo, garoto! Sabe por que você o matou? — Cicatriz inqueriu calmamente. Fiz não para ele. — Porque ele é um traidor, Marrento e nós não perdoamos os traidores, nós os eliminamos, entendeu? — Puxei a respiração mais uma vez.

— Entendi — sibilei cheio de raiva na voz. O homem trouxe outro rapaz algemado e ele é forçado a ficar de joelhos na minha frente e sem me dizerem qualquer palavra, eu automaticamente ergui a arma, apontei para a sua cabeça e apertei o gatilho.

(…)

Abro os olhos apavorado. Minha respiração está ofegante e eu estou agitado. Noto que o dia já está claro lá fora e o soro já fora retirado do meu braço. Também não havia mais os fios conectados ao meu corpo. Forço-me a levantar e sento-me no colchão, sentindo uma leve tontura e no segundo seguinte, o mundo começa a girar ao meu redor.

— Bom dia, senhor Fox, trouxe o seu café da manhã. — Outra enfermeira fala entrando no quarto. Ela segura uma bandeja branca com alguns pratos e copos de isopor.

— Que dia é hoje? — questiono sem dar importância ao que acabou de falar.

— Quarta-feira, senhor.

— A quanto tempo estou aqui? — Ergo a cabeça para olhá-la assim que a tontura passa.

— Cinco meses, senhor.

Cinco meses? Cacete!

Observo a bandeja no suporte sobre a cama com algumas torradas, um copo de suco de laranja, iogurte e algumas frutas. Em silêncio, começo a comer a torrada com suco de laranja. Estou faminto. Constato. E não vejo a hora de sair desse lugar. Penso. Quando termino de comer, a enfermeira recolhe tudo e sai do quarto, levando a bandeja consigo, porém, ela deixa uma muda de roupas de hospital para mim em cima do pequeno sofá branco. Com um pouco de dificuldade, eu saio da cama e imediatamente sinto uma dor que parece rasgar o meu peito ao meio. Respiro profundo e lentamente. Preciso de um banho. Observo o cômodo por alguns instantes. O banheiro é bem espaçoso e tem alguns armários com toalhas dentro dele. Um box grande de vidro fosco, além de um balcão de mármore grande o suficiente. É um hospital luxuoso e me pergunto quem está pagando por tudo isso? Ligo o chuveiro e entro debaixo da água morna, sentindo o meu corpo relaxar aos poucos.

O que realmente aconteceu após eu saí daquele aeroporto? Lembro-me de sair durante a noite da comunidade e de ir até o Tom, um falsificador. Ele me entregou um envelope pardo com alguns documentos falsos para eu sair do estado.

(…) O seu nome será Alex Fox. Você tem vinte e cinco anos e nasceu no Rio Grande do Sul. Memorize os nomes dos seus falsos pais. — Ele disse.

Agora entendi porque me chamam Alex. Alex Fox, esse será o meu novo nome de agora em diante.

Desperto dos meus pesamentos quando uma enfermeira entra no quarto, trazendo uma bandeja pequena com alguns materiais nela. A garota deposita o objeto em cima da cama e me encara com um sorriso amigável.

— Vou trocar o seu curativo, senhor Fox. — Ela avisa, pegando uma lã embebida em álcool e começa a tirar o curativo do meu peito. Observo a ferida arredondada surgindo a medida que o curativo é retirado. Os dias têm passado muito rápido e eu estou ficando melhor a cada dia. Durante todos esses anos trabalhando para o tráfico de drogas, esse foi o primeiro tiro que levei. A garota passa algum medicamento na ferida e em seguida, ela põe outro curativo e repete todo o procedimento no meu braço direito.

O filho da puta errou o tiro por pouco. Se tivesse acertado o meu peito uma segunda vez, talvez eu não tivesse sobrevivido para contar a história. Quando a enfermeira termina o seu trabalho, o médico entra no quarto e avalia o meu rosto. Ele parece satisfeito.

— Dei uma olhada nos seus últimos exames, senhor Fox. Você se recuperou muito bem. — O elogio me fez abrir um meio sorriso. — Não vejo necessidade de lhe segurar aqui no hospital por mais tempo. Está de alta, senhor Fox — avisa.

— Que bom! — falo com satisfação, mas é da boca para fora. Para onde irei? Não sei o que fazer e nem sei aonde eu realmente estou. Estou me sentindo perdido. É como se tivessem tirado a minha coleira após longos anos preso a ela e depois me soltaram na rua. Merda, eu simplesmente não sei aonde ir. Respiro fundo.

— Não gostou da notícia? — O médico pergunta e só então percebo que ele ainda está aqui

— Gostei… é uma ótima notícia! — Tento pôr entusiasmo na voz.

— Só preciso que assine alguns documentos e poderá ir para casa — informa. Casa… Eu tenho uma casa? A verdade é que eu não sei.

Minutos depois, estou vestido com roupas normais e assinando os documentos da alta, tendo o cuidado para pôr o meu novo nome ali. O médico sai do quarto, levando os papéis consigo e eu encaro a porta de saída por um longo tempo, mas não saio do quarto realmente e volto a deitar-me na cama. Começo a pensar o que farei quando sair daqui e o sono me domina sem eu perceber.

(…)

— Vamos Boca, cheira tudo caralho, aposta é aposta, porra! — rosno para o maluco.

— Tá doido, Marrento? Isso é muito pó, quer me matar de overdose, porra? — reclama enraivecido.

— É pagar, ou a mina é minha. — Aponto para a garota no canto da parede. Ela parece assustada.

— Porra, Marrento, a mina é minha, caralho! — Ele retruca.

— Cheira essa porra logo! — exijo. Ele me encara sério, porém hesitante.

— Não vou cheirar porra nenhuma! — rebate irritado. Encaro Cicatriz do outro lado da parede de vidro. Seu olhar determinado me diz tudo e eu sei que ele espera uma atitude de líder da minha parte. Se eu não fizer, ele mesmo fará. Puxo a respiração com força.

— Tragam a mina — ordeno. Boca me encara com raiva, mas sabe que não pode fazer nada contra mim. Os caras seguram a garota e a colocam bem na minha frente. Boca se põe de pé e eu seguro a arma em punho, apontando direto para a sua cabeça. Rendido, ele ergue as mãos, mas me encara em fúria. A mina se aproxima temerosa e eu a forço a debruçar sobre a mesa, e encarado o seu namorado. Levanto sua mini saia, abaixo a sua calcinha, desafivelo o meu cinto e abro a calça, abaixando-a com a cueca até o meio das minhas coxas, e sobre o olhar furioso do garoto, como a sua garota com força.

A safada geme. Ela parece estar gostando da situação. Não demora muito para eu gozar dentro da garota, então simplesmente me afasto, visto a minha roupa e vou até o homem negro e parrudo, e ponho a arma na sua testa.

— Se não pode pagar uma aposta, não se mete, porra! — ralho me sentindo o dono da porra toda. — Porque você terá que pagá-la de alguma maneira. — Ele rosna baixinho. — Sua garota até que é bem gostosa. — O provoco antes de me afastar.

— Você me paga, Marrento! — Me ameaça entre dentes.

— Quando quiser, Boca, estarei bem aqui te esperando. — Solto uma gargalhada alta e saio da sala.

— Se continuar assim, logo será o meu braço direito. — Cicatriz fala orgulhoso, me encontrando no corredor.

Porra, o Cicatriz me estragou para o mundo. Caralho, não sou digno de estar aqui, não sou digno dessa segunda chance que estou recebendo.

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