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Kim
Alguns minutos antes...
— Ai! Ai! Ai, como dói! — resmungo sentindo a minha cabeça latejar e imediatamente levo uma mão a minha cabeça me sentando no colchão. Só então me forço a abrir os olhos e para a minha surpresa encontro um copo de suco e uma aspirina em cima da mesinha de cabeceira. Não penso duas vezes e engulo o comprimido, esvaziando o copo logo em seguida. Minutos depois, estou de banho tomado e ansiosa para tomar um delicioso café da manhã. Contudo, sinto o meu estômago embrulhar só de sentir o cheiro da comida.
Hu, pelo jeito não vou conseguir ingerir nada, nem mesmo a cara de mal humor de Artêmis Mazza me desce bem hoje. Será que ele não se cansa de estar com raiva o tempo todo? Ralho mentalmente quando ele solta um resmungo de desaprovação me fazendo revirar os olhos internamente.
Quer saber, nem vale a pena debater com ele!
— Eu vou praticar a dança lá no jardim, mais tarde pego um copo de suco na cozinha, pode ser? — falo para a minha irmã, saindo antes que um certo alguém resolva trovejar sobre a minha cabeça.
Era só o que me faltava!
— Hum, você deve servir — digo segurando firme em uma barra de proteção do pequeno muro para a prática do adágio. É fácil imaginar um lugar sofisticado quando se fecha os olhos e a minha imaginação me leva mais além, ao ponto de escutar o som de um piano que dará vida aos meus movimentos. Depois, é só me deixar levar pelas minhas próprias fantasias. — A la second. Devant. Derrier — sussurro praticando cada movimento. Contudo, ao virar-me como o passo me pede, a minha mente é invadida por uma imagem sufocante e imediatamente paro tudo abrindo os meus olhos. — O que foi isso? — inquiro levando a minha mão para o meu peito e sacudo a cabeça para afastar tal pensamento.
... Me beija, Artêmis!
Meu coração para uma batida brusca.
— Não, eu não fiz isso... ou fiz?
— Você está bem? — Anne pergunta se aproximando e consequentemente me afastando desse pensamento horrível. Forço um sorriso para ela.
— Bem melhor! Você me salvou, sabia?
— Ah é? Eu te salvei de que?
— O comprimido que deixou no meu quarto com o suco. Eu acordei com uma dor de cabeça infernal e agora estou inteirinha. — Sorrio, mas ela franze a testa.
— Mas eu não deixei comprimido nenhum no seu quarto, nem mesmo o suco. Eu estava tão cansada que quase perco a minha hora. — Uno as sobrancelhas em confusão.
— Ah, então se não foi você, quem foi? — Anne dá de ombros. — Deve ter sido a Victória, não é?
— Talvez.
— Ou a Olívia. — Ela volta a dar de ombros.
— Deve ter sido elas. Eu tenho que ir, amiga, o carro já chegou.
— A Ollie vai com você?
— Sim. Você devia nos visitar no trabalho qualquer dia desses.
— Talvez eu vá mesmo. Dê um abraço na Ollie por mim — peço assim que ela me dar as costas e eu volto para o meu exercício. — A la second. Devant. Derrier. — Repito os passos e tento me concentrar melhor agora, e dessa vez viajo nas asas da melodia clássica, praticamente flutuando nos passos mais sincronizados que já fiz na vida.
***
Algumas horas depois...
— Hum, esse cheiro está maravilhoso! — resmungo assim que entro na cozinha e vou direto para a fonte desse aroma gostoso. Uma panela que ferve ávida no fogão.
— Kimberly, o que está fazendo aí, menina? — Victória ralha me pegando no flagra.
— Desculpa, mas estou faminta!
— Saia daí agora, garota! Nada de mexer nas minhas panelas!
— Só um pouquinho, por favor! — suplico fazendo uma voz manhosa para ela.
— Uma fatia de torta deve ajudá-la. Depois, vá tomar um banho, pois o almoço logo será servido.
— Ai, sério? Torta de chocolate é a minha preferida! Ah, eu te amo, Victória! — beijo várias vezes o seu rosto recebendo em troca o som da sua risada divertida. Logo devoro a fatia do bolo e corro para o meu quarto. Tomo um banho demorado e desço para aguardar todos chegarem para o almoço.
***
— Hum, isso está maravilhoso, Victória! — Artêmis fala após levar a sua primeira garfada a boca e logo todos começam a elogiar a comida da doce Senhora. Está incrível mesmo, mas por algum motivo estou especialmente calada na mesa e vez ou outra me pego lançando olhares para o homem sentado do outro lado da mesa. O fato é que ainda estou me perguntando sobre um certo flash que tive essa manhã e rogo a Deus que seja coisa da minha cabeça ou vou pirar.
Sério, eu não tenho nada em comum com esse ogro e nem ele comigo, mas então, por que eu pediria para ele me beijar?
— Eu estive pensando. — Anne fala de repente na mesa. Amanhã é sexta e ninguém aqui trabalha no sábado.
— O que isso quer dizer?
— Me animo inteirinha.
— A gente podia sair um pouco de casa e dançar, o que acham?
— Eu não posso. — Athos diz bebericando a sua bebida em seguida. — Tenho uma viagem amanhã bem cedo.
— E você, Ollie? — pergunto, mas o casal se olha com cumplicidade.
— Posso responder depois? — Rolo os olhos.
— Artêmis? — Anne o questiona e imediatamente os meus olhos correm para ele. É claro que ele vai dizer que não. Se acha o pobre coitado cadeirante que não consegue fazer nada além de ler documentos o dia inteiro.
Idiota!
— Pode ser. — Ele diz e eu me engasgo.
— Você está bem, querida? — Victória vem em meu socorro, porém, os meus olhos estão fixos no par de olhos provocadores do outro lado da mesa.
O que, eu errei o meu palpite. O mundo vai se acabar por isso?
***
Na noite de sexta...
— Vamos, Ollie por favor! Eu preciso sair um pouco para me divertir! — insisto, porque além de uma noite divertida, todos temos um propósito para tirá-la de casa. Na verdade, é uma surpresa e ela não deve ficar aqui para estragá-la.
— Sério, Kim eu não estou com vontade de sair de casa com o Athos viajando. Não me sinto animada pra nada. Por que não vai com a Anne e com o Artêmis? — bufo audivelmente.
— Eles já vão, mas não será a mesma coisa sem você lá. Por favorzinho, irmã? — Faço uma carinha manhosa, unindo as mãos minhas em uma prece.
— Tudo bem, mas não quero chegar tarde em casa, hein?
— Ai, eu te amo!
Diferente do bar que fui com a Anne esse ugar é bem mais agitado e mais animado também. Logo me vejo ansiosa para dançar. Contudo, precisamos encontrar uma mesa no meio dessa bagunça toda.
— Eu quero dançar! — grito sem esconder a minha animação, enquanto descemos os batentes de uma escadaria metálica.
— Eu vou procurar uma mesa para nós. — Anne avisa se afastando e ela desaparece no meio da multidão.
— Vem, Ollie, vem dançar comigo! — insisto, mas ela não parece estar curtindo essa noite.
— Agora não, Kim. — Ela bufa em protesto. Desanimo quando olho para a pista agitada e a música dançante está me enlouquecendo. Por um instante olho para o malvadão parado do seu lado e penso em chamá-lo.
É claro que ele vai dizer que não. Penso e me pego sorrindo. Mas eu não tenho que lhe dar ouvidos, certo?
— E você, Artêmis?
— O que? É claro que não! Você ficou maluca? — O homem gralha irritado como imaginei que seria.
— Não, eu não estou maluca — rebato com uma determinação que desconheço, porém, começo a empurrar a sua cadeira na direção da pista.
— Kim, eu disse que não! — Ele rosna enfurecido. — Para com isso agora, sua maluca! — Artêmis grita enfurecido e eu paro, mas bem no meio da pista e o faço girar para ficar de frente para mim no mesmo instante.
Olhos irritadiços me encaram enquanto ele respira extremamente ofegante, porém, Artêmis não diz nada e eu começo a me mexer bem na sua frente.