Capítulo 8
Capítulo 8
Samy não conseguia parar de pensar em Jasper Rizzo. Desde o momento em que o viu pela primeira vez no Colégio Fitzgerald, algo dentro dela havia despertado. Era uma mistura complicada de sentimentos, admiração, curiosidade, e, ela tinha que admitir para si mesma, uma atração poderosa. Ele era tudo o que ela nunca tinha encontrado antes: sofisticado, misterioso, e ao mesmo tempo, distante de uma maneira que a atraía ainda mais.
Ela tentava se concentrar em sua rotina normal, mas a imagem de Jasper, seu semblante sério, a maneira como ele falava com tanta convicção e profundidade sobre literatura, invadia seus pensamentos o tempo todo. Havia algo nele que a fazia querer saber mais. Não apenas sobre o homem que se escondia por trás da fachada de professor, mas também sobre as razões pelas quais ele parecia tão fechado para o mundo. Qual era o segredo que ele carregava? O que o levava a escolher a vida solitária em uma cidade como Bullut, quando era óbvio que ele poderia estar em qualquer lugar do mundo?
Naquela tarde, depois de mais uma aula com Jasper, Samy saiu do colégio sentindo-se diferente, como se algo tivesse mudado dentro dela. O vento gelado da cidade soprava contra seu rosto, mas ela mal o sentia. Sua mente estava a quilômetros de distância, ainda presa nas palavras dele, em sua voz firme e controlada. Ela havia passado os últimos dias tentando ignorar o que sentia por ele, mas não podia mais negar. Havia algo em Jasper que a puxava de uma forma que ela não conseguia entender.
Enquanto caminhava para casa, Samy passou pelo bar onde trabalhava à noite. O lugar já estava aberto, e o som de música alta e risos abafados escapava pelas janelas. Ela teria que voltar ali mais tarde para trabalhar mais uma longa noite, servindo bebidas e lidando com clientes grosseiros. Mas naquele momento, o bar parecia distante, assim como a vida que levava. Era como se Jasper tivesse aberto uma porta dentro dela, uma que mostrava uma realidade diferente da que estava acostumada.
Samy entrou em casa e encontrou Ruan, seu pai, sentado no sofá, já meio embriagado. Ele mal levantou os olhos para ela quando entrou, e Samy passou por ele rapidamente, subindo as escadas para o quarto. Ela estava acostumada com aquela cena: o pai ausente, consumido pelo álcool, a casa em desordem. Era a rotina de sempre, o que ela conhecia desde que sua mãe os abandonara.
Ela se jogou na cama, sentindo o cansaço do dia pesar sobre seus ombros, mas sua mente estava acelerada demais para permitir descanso. A imagem de Jasper surgia, vívida, cada vez que ela fechava os olhos. A maneira como ele olhava para ela durante as aulas, seus olhos azuis intensos parecendo ler algo que ninguém mais conseguia ver. Era um olhar que a fazia sentir-se exposta, mas ao mesmo tempo segura, como se ele entendesse a confusão e a solidão que ela sentia.
Samy sabia que aquele sentimento era proibido. Ele era seu professor, alguns anos mais velho, e havia um abismo de experiências e responsabilidades que os separava. Ainda assim, não podia evitar. Sentia uma atração quase incontrolável por ele, algo que transcendia a razão e a lógica. Ela se perguntava se ele sentia o mesmo, se também notava a tensão que pairava entre eles em cada conversa, em cada troca de olhares.
Lembrava-se do encontro recente no qual ele havia elogiado sua redação. A maneira como ele falou sobre seguir sonhos inalcançáveis parecia um reflexo da própria vida de Samy. O peso de suas palavras a atingiu profundamente, como se Jasper estivesse falando diretamente para ela, e não para uma aluna. Havia algo ali, uma conexão que, por mais que ambos tentassem ignorar, parecia crescer a cada dia.
Enquanto seus pensamentos se voltavam para Jasper, ela começou a lembrar dos pequenos detalhes que observava nele. O jeito como ele caminhava pelo corredor, sempre com a postura ereta, como se estivesse em controle de tudo ao seu redor, mas com uma sombra de melancolia por trás de seus olhos. Samy sentia que Jasper também carregava fardos, e essa vulnerabilidade o tornava ainda mais fascinante.
Em uma das aulas, ele havia falado sobre os conflitos internos dos personagens de Crime e Castigo de Dostoiévski. Samy não podia deixar de sentir que, assim como o protagonista do livro, Jasper estava lidando com seus próprios dilemas morais e éticos. Talvez fosse por isso que ele mantinha todos à distância. Mas, de alguma forma, Samy queria quebrar essa barreira, queria entender o que o fazia agir assim.
Ela se pegava sonhando acordada com momentos impossíveis. Imaginava conversas longas e intensas, em que Jasper revelava seus segredos para ela, onde a distância entre eles desaparecia e eles se tornavam iguais, livres das amarras de suas respectivas posições. Em suas fantasias, eles não eram apenas professor e aluna, mas duas almas perdidas que se encontravam no caos da vida.
Por mais que tentasse afastar esses pensamentos, a ideia de Jasper se tornava uma obsessão. Ela desejava sua atenção de uma maneira que a deixava inquieta, mas ao mesmo tempo viva, como se ele fosse a única coisa capaz de tirá-la da monotonia e do desespero que sua vida representava. Samy queria mais do que os olhares furtivos e as conversas formais nas aulas. Ela queria conhecê-lo de verdade, queria descobrir o homem por trás da máscara de professor sério e distante.
No fundo, Samy sabia que esses sentimentos eram perigosos. Sabia que se permitir afundar nessa atração poderia trazer consequências devastadoras. Mas a verdade é que, pela primeira vez em muito tempo, ela sentia algo que a fazia querer viver, querer lutar. Jasper representava uma saída, uma possibilidade de um futuro diferente, longe da vida sufocante que conhecia. E, por mais que soubesse que esse desejo estava condenado desde o início, ela não conseguia evitar.
Os dias passavam, e a tensão só aumentava. Samy tentava agir normalmente, mas cada encontro com Jasper, por mais breve que fosse, parecia carregar uma eletricidade invisível. Ela o observava mais do que deveria, e, às vezes, achava que ele também a olhava de volta, por um momento longo demais. Era sutil, mas estava lá, uma conexão que crescia em silêncio, sem que ninguém ao redor percebesse. E, em seu íntimo, Samy sabia que, cedo ou tarde, algo teria que acontecer.