Capítulo 9
Capítulo 9
Os dias no Colégio Fitzgerald se sucediam com a regularidade de um relógio, mas para Jasper Rizzo, o ritmo da vida havia mudado desde que ele conhecera Samy Williams. Ele começava a perceber nuances em seus comportamentos e na forma como interagia com a turma. Samy não era apenas mais uma aluna, ela era uma presença que não conseguia ignorar, e isso era algo que desafiava sua dedicação à profissionalidade.
Jasper sempre foi meticuloso em separar sua vida pessoal de seu trabalho, mas a cada aula, ele notava um brilho diferente em Samy. Era um brilho de inteligência e uma profundidade de sentimento que transcendem a mera curiosidade acadêmica. Ela se destacava não apenas pela sua habilidade literária, mas pela maneira como suas respostas, seu comportamento, e até mesmo seu silêncio, revelavam uma complexidade interna que ele não conseguia deixar de analisar.
Em uma tarde chuvosa, após uma discussão intensa sobre Crime e Castigo, Jasper observava Samy de longe. Ela estava sentada no fundo da sala, de cabeça baixa, enquanto os outros alunos conversavam animadamente sobre o livro. Ele percebeu que, apesar de sua aparente participação, havia uma distância no olhar dela, um tipo de reflexão que parecia consumir seus pensamentos. Era como se ela estivesse lutando contra algo dentro de si mesma, algo que ia além das questões literárias.
Jasper se dirigiu para a mesa do professor e se recostou na cadeira, tentando avaliar a situação sem demonstrar seu desconforto. Ele sentia uma crescente tensão entre o desejo de ajudá-la e a necessidade de manter um distanciamento profissional. A dificuldade em lidar com seus sentimentos o incomodava, especialmente porque ele sabia que qualquer envolvimento pessoal com uma aluna era uma linha que não deveria cruzar.
Quando a aula terminou e os alunos começaram a sair, Samy ficou novamente na sala, como de costume. Jasper decidiu abordá-la, mas o fez com a cautela de alguém que sabia que estava pisando em terreno delicado.
-Samy,- disse ele, ao se aproximar de sua mesa, -posso falar com você um momento?-
Ela levantou os olhos, e por um instante, o brilho que ele havia notado parecia acender mais intensamente. Havia uma mistura de expectativa e desconforto na expressão dela, e isso só aumentou o desejo de entender o que estava por trás daquela fachada.
-Claro, professor,- respondeu ela, com um tom que tentava ser neutro, mas que carregava uma pontinha de nervosismo.
Jasper sentou-se na cadeira ao lado dela, optando por uma postura informal. -Eu notei que você estava um pouco distante hoje. Há algo em que eu possa ajudar? Alguma dificuldade com o material ou algo fora da sala de aula?-
Samy hesitou por um momento, olhando para baixo.
-Não é nada relacionado à aula,- disse ela finalmente, sua voz suave, quase inaudível. -É só que... às vezes, é difícil se concentrar em algo quando há tantas coisas na cabeça.-
Jasper sentiu uma pontada de preocupação. Ele sabia que o algo na cabeça dela não era apenas sobre os livros ou as lições. Havia algo mais profundo, uma turbulência interna que ele podia sentir, mas não compreendia totalmente.
-Eu entendo,- disse ele, tentando manter o tom encorajador, -a literatura pode ser uma maneira de escapar, mas às vezes também pode trazer à tona questões que preferimos ignorar. Se você precisar conversar sobre qualquer coisa, dentro ou fora da aula, estou aqui para ajudar.-
A oferta foi sincera, mas também carregava um peso que ele não podia ignorar. Ele estava consciente de que o desejo de ajudar Samy estava começando a misturar-se com sentimentos que ele tentava desesperadamente reprimir. Sentimentos que iam além da simples preocupação acadêmica e que o atraíam para um território emocionalmente complicado.
Samy levantou os olhos, e Jasper viu algo que nunca tinha visto antes: uma vulnerabilidade crua. Era como se, por um breve instante, ela houvesse abaixado a parede que havia erguido ao redor de si mesma. Mas ela rapidamente se recuperou, endireitando a postura e forçando um sorriso que não escondia totalmente a dor que ela sentia.
-Obrigada, professor,- disse ela, a gratidão em seus olhos. -Eu vou tentar lidar com isso. Só precisava de um momento para respirar.-
Jasper assentiu, embora soubesse que suas palavras de conforto não eram suficientes para lidar com o que estava realmente acontecendo com ela. Ele se levantou, preparando-se para encerrar a conversa, mas não antes de sentir um impulso de alcançar uma conexão mais profunda.
-Se você mudar de ideia e quiser conversar mais sobre o que está te afetando, por favor, não hesite em me procurar,- ele disse. Havia uma sinceridade em suas palavras que vinha de um lugar de real preocupação.
Samy parecia aliviada por sua compreensão, mas também um pouco envergonhada, como se estivesse sendo observada de uma maneira que a fazia sentir-se desconfortável.
-Vou lembrar disso, obrigada.
Quando ela se levantou e saiu da sala, Jasper ficou sozinho, observando-a se afastar. Ele sentiu um misto de frustração e tristeza. A tensão entre eles era palpável, e a distância emocional que ele tentava manter parecia estar se desfazendo diante de seus olhos. O que ele via em Samy era uma jovem inteligente e brilhante, mas também quebrada de maneiras que ele não podia totalmente compreender.
Ao se sentar de volta à sua mesa, Jasper tentou se concentrar em suas anotações, mas sua mente estava longe, vagando para os pensamentos sobre Samy. Ele se perguntava como poderia ajudar sem ultrapassar os limites, como poderia ser um suporte sem se deixar levar por sentimentos que estavam começando a se formar.
Jasper sabia que seus sentimentos por Samy eram uma linha tênue entre empatia e algo mais profundo. Ele estava lutando contra a atração que sentia, não apenas física, mas emocional. Era uma conexão que o desafiava a manter seus próprios sentimentos em cheque, mesmo quando o desejo de proteger e apoiar Samy parecia cada vez mais forte.
O relógio marcava o fim do expediente quando ele finalmente decidiu encerrar seu dia. Mas, enquanto fechava a sala e se preparava para ir embora, o pensamento sobre Samy não saía de sua mente. Ele sabia que precisava encontrar uma maneira de lidar com seus sentimentos de forma madura e profissional, mas a luta interna estava se tornando cada vez mais difícil de ignorar.
Jasper percebeu que, apesar de sua habilidade em manter a distância e a formalidade, a linha entre a preocupação genuína e o desejo pessoal estava começando a se tornar difusa. E o que mais o inquietava era a certeza de que essa batalha interna estava apenas começando.