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Capítulo 7

Capítulo 7

Desde o primeiro encontro na sala de aula, algo entre Samy e Jasper se formou. Era como uma corrente invisível, algo que ambos sentiam, mas que ninguém ousava reconhecer. Samy, de 18 anos, ainda uma jovem mulher em plena descoberta de sua própria identidade, sentia uma mistura de curiosidade e atração pelo novo professor de literatura. Ele, com seus 34 anos, trazia um mistério que mexia com ela de uma forma que nunca havia experimentado antes.

No entanto, a diferença de idade e posição era gritante. Jasper era seu professor, um homem adulto e, além disso, reservado e sério. Havia barreiras entre eles, claras e intransponíveis. E, ainda assim, a tensão estava ali, crescendo em cada aula, em cada troca de olhares, e nas poucas palavras que trocavam fora do contexto acadêmico.

Samy tentava ignorar esse sentimento, repetindo para si mesma que era apenas mais uma paixonite adolescente por alguém inatingível. Mas algo naquela conexão parecia mais profundo. Não era simplesmente uma atração passageira; era como se, de alguma forma, ela visse nele uma saída, uma pessoa que entendia a sua dor e solidão sem precisar verbalizá-las. Em Jasper, Samy encontrava uma alma que, de maneira silenciosa, compreendia o fardo que ela carregava, embora nunca tivessem discutido nada além de literatura.

Jasper, por outro lado, estava consciente da barreira que existia entre eles. Ele sabia que havia algo na maneira como Samy o olhava, uma mistura de admiração e curiosidade, mas também algo mais. Mesmo que tentasse manter a postura profissional, ele não podia negar para si mesmo que sentia uma conexão. Não era apenas o interesse de um professor por uma aluna talentosa, era algo mais difícil de definir, algo que o perturbava em um nível profundo.

Com o passar dos dias, a tensão só crescia. Cada vez que Samy entrava na sala de aula, havia um leve estremecimento. Ela ocupava sempre o mesmo lugar, ao fundo da sala, onde podia observar Jasper sem ser notada diretamente. Seus olhos seguiam cada movimento dele, a maneira como ele falava, gesticulava, explicava com paixão os grandes clássicos da literatura. Havia algo hipnotizante em sua presença, e Samy não conseguia evitar ser atraída por isso.

Em um dos dias em que discutiam O Grande Gatsby, Jasper fez uma pergunta retórica para a turma.

-Qual o preço de seguir um sonho que você sabe que está fora do seu alcance?- Ele lançou a pergunta no ar, e a sala permaneceu em silêncio. Mas, por um breve momento, seus olhos encontraram os de Samy, e algo no olhar dele pareceu refletir um entendimento mútuo, uma pergunta que ambos poderiam estar se fazendo.

Samy desviou o olhar rapidamente, o coração acelerado. Era uma sensação intensa, como se ele tivesse visto através dela, reconhecido as mesmas lutas internas que ela tentava esconder. Ela não queria que Jasper soubesse o quanto ele a afetava, o quanto suas palavras a tocavam de maneiras que ela não sabia explicar.

Por mais que tentassem evitar, havia momentos em que a tensão se tornava quase palpável. Uma tarde, após o fim da aula, Samy foi chamada à sala de Jasper para discutir uma redação que ela havia entregue. O corredor estava vazio quando ela chegou à porta, batendo levemente antes de ouvir a voz grave de Jasper convidando-a para entrar.

Quando entrou, encontrou Jasper sentado atrás da mesa, os papéis da turma empilhados na frente dele. Ele ergueu os olhos, e por um breve instante, os dois se olharam sem dizer nada. Samy sentiu o ar entre eles se tornar mais pesado, e seu estômago deu um nó. Ela caminhou lentamente até a mesa, tentando não demonstrar o nervosismo crescente.

-Samy,- ele começou, com a voz firme, mas com um toque de suavidade que ela não esperava. -Sua redação sobre O Grande Gatsby foi excelente. Você capturou a essência da tragédia de Gatsby de uma maneira que poucos conseguem.

Ela se sentou na cadeira em frente a ele, sentindo um misto de orgulho e desconforto. Queria agradecer, mas as palavras pareciam presas na garganta.

-Você parece entender muito bem a sensação de perseguir algo inalcançável,- ele continuou, olhando para ela de um jeito que parecia ver além da superfície. -Isso transparece no que você escreve.

Samy sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele estava se referindo à redação, mas havia algo naquelas palavras que parecia transcender a simples análise literária. Havia um entendimento ali, algo que eles compartilhavam silenciosamente. Ela tentou responder de maneira casual, mas sua voz saiu mais trêmula do que esperava.

-Obrigada, professor. Eu... apenas me identifiquei com o que li.

Jasper assentiu lentamente, como se compreendesse exatamente o que ela estava tentando dizer. Houve um momento de silêncio entre eles, e Samy sentiu a tensão crescendo novamente. A pequena sala parecia encolher ao redor deles, e o ar estava carregado com algo que ambos não conseguiam nomear, mas que era impossível de ignorar.

Finalmente, Jasper pigarreou, quebrando o silêncio. Ele se levantou e caminhou até a janela, olhando para o pátio lá fora.

-Samy, você é uma jovem inteligente e tem um futuro promissor pela frente. Não deixe que nada ou ninguém a impeça de alcançar seus sonhos.

As palavras eram gentis, mas também carregavam uma mensagem implícita, algo que ele parecia estar tentando dizer sem ser muito direto. Samy sabia que ele estava colocando uma barreira entre eles, lembrando-a da diferença de posição e idade, e talvez também tentando lembrar a si mesmo. No entanto, isso não mudava o que ela sentia, nem o que parecia estar se desenvolvendo lentamente entre eles. Ela se levantou para sair, sentindo que o encontro estava chegando ao fim. No entanto, quando estava prestes a abrir a porta, parou por um momento e olhou para ele.

-Eu sei que tenho um caminho a seguir,- disse ela, com uma coragem que nem sabia de onde vinha. -Mas nem sempre é fácil quando parece que tudo à sua volta está te prendendo.

Jasper se virou para ela, e por um instante, os dois ficaram ali, imóveis, presos naquela tensão que nenhum deles conseguia nomear. Samy sabia que havia uma linha tênue entre eles, uma linha que não deveria ser cruzada. E ainda assim, mesmo sem palavras, algo entre eles já havia sido dito, algo que não podia ser desfeito.

Ela saiu da sala, o coração batendo forte no peito, sabendo que, a partir daquele momento, a tensão entre eles só iria crescer.

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