Capítulo 6
Capítulo 6
Jasper Rizzo não era o tipo de pessoa que passava despercebida. Quando ele entrou pela primeira vez no Colégio Fitzgerald, todos os olhares se voltaram para ele, mas não por sua aparência física ou pela expectativa comum de um professor novo. Havia algo nele, uma presença imponente que se manifestava mesmo em seus gestos mais sutis, algo que fazia com que os outros se sentissem pequenos diante de sua seriedade.
Aos 34 anos, Jasper trazia consigo uma aura de mistério. Alto, de postura impecável, seus cabelos claros levemente desgrenhados lhe conferiam um ar despretensioso, contrastando com suas roupas meticulosamente bem escolhidas. Sempre vestido de maneira elegante, mas sem ostentação, ele se destacava dos outros professores de Bullut. Para uma cidade pequena e modesta, onde quase ninguém tinha pretensões ou ambições além dos limites estabelecidos, Jasper parecia pertencer a outro mundo.
O que intrigava ainda mais os alunos e professores era sua vida fora da escola. Ele nunca falava sobre sua vida pessoal, e quando alguém tentava perguntar de onde ele vinha ou o que o trouxe para Bullut, Jasper desviava habilmente o assunto. Diziam que ele possuía uma grande fortuna, algo que era quase impossível não notar. O relógio caro no pulso, o carro importado estacionado discretamente em uma rua pouco movimentada, tudo indicava que Jasper era muito mais do que um simples professor de literatura em uma cidade esquecida.
Para aqueles que trabalhavam no Colégio Fitzgerald, sua presença não passava de um mistério envolto em camadas de especulação. Alguns diziam que ele tinha sido um grande acadêmico em uma universidade renomada, mas que abandonara a carreira para viver em reclusão. Outros sugeriam que ele viera de uma família rica e influente, mas que, por alguma razão desconhecida, havia decidido se afastar de seu legado. Havia até rumores de que Jasper estava fugindo de algo, ou de alguém.
No entanto, apesar de todas essas teorias, uma coisa era certa: Jasper era reservado, e sua privacidade era impenetrável. No tempo livre, ele não socializava com os outros professores nem participava das reuniões ou eventos comunitários que eram tão comuns em Bullut. Ao final das aulas, ele desaparecia sem deixar vestígios, e ninguém sabia onde ele morava ou como passava seu tempo fora da escola.
Aqueles que se aproximaram dele mais de perto logo perceberam que Jasper era um homem de poucas palavras, mas de muitas camadas. Suas respostas, sempre educadas, nunca revelavam muito. Sua expressão, séria e controlada, raramente mudava, e seus olhos azuis, intensos, pareciam sempre guardar um segredo que ninguém jamais desvendaria. Samy, como tantos outros alunos, sentia-se intrigada por essa presença quase magnética, mas havia algo mais. Em seus poucos encontros com ele, ela sentiu que Jasper não era apenas uma figura enigmática por escolha, mas que ele escondia uma tristeza profunda, algo que o distanciava do mundo ao seu redor.
Era evidente que Jasper tinha visto mais do mundo do que qualquer pessoa em Bullut. Ele falava com uma profundidade que transcendia os limites da pequena cidade e seus dramas banais. Quando ensinava, suas palavras revelavam uma visão de vida cheia de experiências e complexidades. Ele discutia autores e obras literárias com uma paixão silenciosa, como se estivesse constantemente dialogando com seus próprios fantasmas internos. E isso apenas alimentava o fascínio que todos sentiam por ele.
Houve um momento que marcou a primeira impressão duradoura de Samy sobre Jasper. Após uma aula especialmente envolvente sobre tragédias literárias, ela permaneceu na sala por mais tempo do que o habitual. Os outros alunos saíram rapidamente, mas Samy, perdida em pensamentos sobre o que havia sido discutido, ficou para trás. Jasper, que até então não parecia perceber sua presença, olhou para ela brevemente enquanto recolhia alguns livros de sua mesa.
-Alguma dúvida, Samy?- A voz dele era calma, mas direta. Ele sabia o nome dela, como sabia o nome de todos os seus alunos, mas havia algo mais naquela interação. Não era apenas uma formalidade.
Samy hesitou. Ela não tinha uma dúvida propriamente dita, mas havia algo nas palavras dele durante a aula que a tocara de maneira que ela não conseguia descrever. Ela se sentia estranhamente conectada à ideia de tragédias inescapáveis, das escolhas que nos levam a lugares sombrios, mesmo quando acreditamos estar no controle.
-Você acredita que as pessoas podem fugir do que são destinadas a ser?- perguntou, mais como um pensamento em voz alta do que uma pergunta direta.
Jasper parou por um momento, como se refletisse sobre a profundidade da pergunta. Seu olhar se suavizou, mas havia uma sombra por trás dos olhos azuis, algo que ela não conseguia identificar.
-Às vezes, lutamos contra nosso destino,- ele começou, escolhendo cuidadosamente as palavras. -Mas nem sempre vencemos. No entanto, a beleza da vida está em continuar tentando, mesmo quando as probabilidades estão contra nós.
Ele a olhou por mais um momento, e então voltou a arrumar seus livros, como se a conversa tivesse chegado ao fim. Samy saiu da sala com a mente cheia de novas perguntas. Havia algo naquela resposta que a deixou inquieta, algo que a fez perceber que Jasper, por trás de sua aparência calma e controlada, carregava suas próprias batalhas. Talvez ele entendesse mais do que ela imaginava sobre as prisões invisíveis que a cercavam.
Ao longo dos meses que se seguiram, Samy começou a prestar mais atenção nele. Não apenas como professor, mas como pessoa. Ela notou os pequenos detalhes: a maneira como ele sempre se afastava das conversas triviais, como seus olhos pareciam se perder em algum lugar distante durante os intervalos, e como ele nunca falava sobre o que o levou a Bullut. Mesmo assim, ela sentia que, de alguma forma, suas vidas estavam entrelaçadas por algo maior do que apenas as aulas de literatura.
Jasper Rizzo era, sem dúvida, uma figura enigmática. Um homem cuja seriedade e reserva o isolavam dos outros, mas cuja presença era impossível de ignorar. Ele parecia carregar o peso de um passado desconhecido, algo que o diferenciava de todos os outros em Bullut. E, por razões que Samy ainda não compreendia completamente, ela sabia que ele desempenharia um papel crucial em sua própria busca por liberdade.