Capítulo 7 - Decepcionada
Chiara
Saí do quarto com uma mistura de raiva e frustração em relação a Vittorio. Ele sempre conseguia atingir um nervo sensível dentro de mim, despertando emoções conflitantes que eu mal sabia como lidar. A forma como ele me olhava sempre me tirava do eixo.
Voltei para o meu próprio quarto, mas logo percebi que não conseguiria permanecer ali por muito tempo. Minhas emoções estavam à flor da pele, agitadas. A cada pensamento em Vittorio, uma onda de sentimentos conflitantes me envolvia, tornando impossível me concentrar em qualquer outra coisa.
A irritação ainda fervilhava em mim. Não consegui encontrar nenhum vestígio dos negócios da minha mãe. Revirei gavetas, olhei por todos os cantos em busca de algum documento que pudesse estar relacionado à sua situação financeira. Mas nada, nenhum indício que pudesse dar sentido à sua história.
Deslizei meu dedo pelo visor do meu celular e disquei o número de Rafael, buscando um pouco de consolo em sua voz. No entanto, ele atendeu com uma voz apressada, dizendo que estava em uma reunião de trabalho e não podia conversar naquele momento. Era algo que eu compreendia, afinal. Mas mesmo assim, a sensação de desânimo se intensificou dentro de mim.
Deixei o celular de lado e afundei na cama, abraçando um travesseiro. O turbilhão de sentimentos relacionados a Vittorio e às incertezas sobre minha própria vida me deixava completamente exausta.
Não desci para o jantar quando Henriqueta me chamou. Ainda estava tentando acalmar os pensamentos tumultuados que teimava em me atormentar. Já passava um pouco das vinte horas quando o silêncio foi rompido por uma batida leve na porta do meu quarto, que se abriu lentamente após isso. Olhei para cima e vi Vittorio parado ali. Seu olhar, normalmente tão intenso, naquele momento parecia diferente, mais suave.
— Posso entrar? — ele perguntou, sua voz soando tranquilizadora, quase inesperadamente calma.
Assenti, surpresa por sua abordagem menos imponente. Ele permaneceu de pé no meio do quarto, sua presença imponente dominava todo o ambiente.
— Chiara, eu entendo que estamos em lados opostos de muitas coisas. E que minha presença aqui pode não ser bem-vinda. Mas gostaria de propor uma trégua, pelo menos por enquanto.
Franzi o cenho, desconfiada de sua mudança de atitude.
— O que você quer dizer com trégua? — perguntei, cautelosa.
Vittorio respirou fundo, como se ponderasse cuidadosamente suas palavras.
— Eu gostaria de conhecer o seu namorado. Aquele pelo qual você está tão disposta a desafiar tudo isso. Acho que seria um gesto de paz entre nós, um sinal de que podemos tentar compreender um ao outro, mesmo que em mínima medida.
Fiquei surpresa com sua sugestão. Era a última coisa que esperava de Vittorio. Uma parte de mim queria recusar a proposta, mas outra parte, curiosamente, estava intrigada. Afinal, ele estava propondo um encontro com Rafael, algo que eu havia desejado, mesmo que secretamente.
— Por que você faria isso? — indaguei, cautelosamente.
Ele olhou diretamente nos meus olhos, seus próprios olhos mostrando uma sinceridade que eu não estava acostumada a ver.
— Porque eu quero tentar conhecer esse rapaz por quem você acredita estar apaixonada. E, talvez, eu comprove que estou errado sobre ele.
Fiquei quieta por um momento, processando suas palavras. Talvez, apenas talvez, houvesse mais nuances em Vittorio do que eu havia percebido.
Decidi dar uma chance à proposta de paz.
— Tudo bem, eu aceito.
Peguei meu celular e liguei para Rafael, ansiosa para contar a ele sobre a ideia de Vittorio. No entanto, ele não atendeu. Tentei novamente, mas só ouvi o som de chamada perdida.
— Ele não atendeu — comentei, frustrada.
Vittorio levantou uma sobrancelha.
— Talvez ele esteja ocupado. Mas isso não precisa nos impedir de irmos até lá, certo? Afinal, parece que tenho um pouco de tempo disponível.
Fiquei surpresa com sua sugestão, mas, afinal, ele estava certo. Não precisávamos depender apenas de uma ligação.
— Tudo bem, vamos lá — concordei.
Saímos do meu quarto em silêncio, a tensão ainda pairando no ar, mas de uma forma diferente. Havia algo novo entre nós, uma espécie de acordo não declarado.
Um dos carros já estava nos aguardando no jardim, e seguimos juntos até o prédio onde o meu namorado, Rafael, morava. Meus passos eram carregados de tensão, como tambores de expectativas ecoando no meu peito. Vittorio parecia tão focado quanto eu, como se estivesse meticulosamente planejando cada palavra que diria.
Finalmente, alcançamos o prédio e eu toquei a campainha do apartamento de Rafael, sentindo meu coração disparar. A porta se abriu, e o que eu vi me deixou sem palavras. Uma garota estava ali, usando apenas um sutiã vermelho e uma saia muito curta. Minha mente entrou em turbilhão, tentando entender a cena diante de mim. O que estava acontecendo ali? E quem era aquela garota?
Fiquei paralisada, incapaz de encontrar palavras. Por sorte, Vittorio tomou a dianteira, afastando a garota da porta e entrando no hall do apartamento, conduzindo junto com ele.
— Quem é você? — a garota perguntou com um tom de desdém.
Minha surpresa era tão grande que me impedia de responder. Vittorio rapidamente respondeu à pergunta.
— Nós é que devemos perguntar quem é você, garota! — Vittorio respondeu com desprezo.
— Melhor eu chamar o Rafa — A garota respondeu com uma indiferença desconcertante.
Ela se virou e caminhou pelo corredor, enquanto eu ainda me encontrava atordoada, observando a cena com uma sensação de incredulidade e esperança de que aquilo fosse algum tipo de mal entendido.
— Vamos procurar por ele — Vittorio falou, segurando minha mão e seguindo atrás da garota.
Hesitei, um pressentimento incômodo me alertando de que a cena que estava por vir não seria agradável. No entanto, Vittorio me conduziu pelo corredor estreito. Antes que a garota pudesse alcançar o quarto, Vittorio abriu a porta de repente, revelando uma visão chocante.
Rafael estava na cama com outra garota, e não havia dúvida sobre o que estava acontecendo. Ambos estavam nus, envolvidos em um ato íntimo.
Meu grito saiu estrangulado.
— Rafael! — exclamei, minha voz embargada.
Rafael só pareceu perceber a minha presença quando meu grito ecoou pelo quarto. Ele se afastou bruscamente da garota, que parecia atordoada com a súbita interrupção. Num movimento rápido, Rafael começou a vestir às pressas um par de jeans sobre o corpo nu, seu rosto refletindo choque e surpresa.
Enquanto a garota tentava recompor-se, Vittorio disse de forma ríspida:
— Não há mais nada para ver aqui. Vamos embora.
Ainda sentindo uma mistura de choque e embaraço, eu o segui de maneira quase automática. Não sabia bem o que fazer ou dizer naquele momento. Eu me sentia como se estivesse em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
Caminhamos em silêncio pelo corredor do prédio, enquanto Rafael se aproximava de nós, desesperado para explicar a situação.
— Chiara, por favor, deixe-me explicar! Não é o que você está pensando!
Vittorio me puxou com firmeza, me afastando de Rafael.
— Já chega. O estrago está feito. Vamos embora, Chiara.
Eu olhei para trás uma última vez, vendo Rafael com a expressão de desespero estampada em seu rosto. Eu queria ouvir sua explicação, queria entender o que estava acontecendo, mas naquele momento, a sensação de humilhação e confusão eram avassaladoras.
Segui Vittorio até o carro, as emoções tumultuando dentro de mim. Enquanto nos afastamos do prédio, não consegui conter as lágrimas. O caminho de volta foi silencioso e, ao chegar em casa, saí do carro quase sem sentir minhas pernas. A vergonha e o choque ainda estavam presentes, enquanto eu tentava processar tudo.
O meu celular tocou enquanto eu atravessava a porta principal da mansão. Era Rafael, tentando desesperadamente falar comigo. Eu olhei para o visor por um momento, indecisa sobre atender.
— Não posso aceitar que ainda mostra indecisão, mesmo após a cena que acabamos de presenciar, Chiara! — Vittorio apontou de maneira rude.
— Não se preocupe, Vittorio. Não há mais chance alguma de que eu volte para o Rafael.