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Capítulo 6 - Atrevida

Vittorio

Depois da proposta completamente insensata que fiz para Chiara, decidi me afastar ao máximo dela. Não quero ser levado por emoções, como aconteceu quando a vi no saguão da mansão. Convidei Theodoro para um almoço de negócios discreto, um lugar onde pudéssemos conversar em particular.

— O retorno repentino de Chiara para casa me parece muito suspeito — Theodoro comentou.

— Ela está sob vigilância constante. Nada passará despercebido.

Quando um dos meus homens me ligou para informar que a Chiara estava voltando para casa, uma mistura de sentimentos me atingiu. De alguma forma completamente inesperada, Chiara exerce controle sobre mim, o que é difícil de aceitar. Agindo sem pensar e impulsivamente, me vi estendendo um convite sem motivo para ela me acompanhar de volta para a Itália. Felizmente, ela recusou.

Não é uma ideia sensata colocá-la diretamente no centro dos nossos problemas, onde a ligação entre ela e Don Antônio poderia ser facilmente descoberta. Isso é algo que jurei evitar a todo custo. É uma dívida com Don Antonio. Ceder à atração emocional que, de maneira bastante insana, sinto por ela, poderia comprometer as promessas que fiz para mim mesmo e para minha honra.

— Claro. Estamos assegurando isso — Theodoro concordou — Não podemos correr riscos justamente agora, tão perto das eleições.

— Como está a disputa pela refinaria? Ganharemos?

— Os russos estão pressionando em alguns setores estratégicos e tentando passar a nossa frente nesses negócios. Mas está tudo sob nosso controle.

A máfia russa tem se infiltrado gradualmente em negócios que antes eram exclusivamente nossos, tornando crucial manter nossa influência sobre setores-chave da economia, como o setor de combustíveis. Por isso, é imperativo não nos curvarmos a eles.

— Não podemos permitir perder mais um centímetro de terreno para esses maledeto. Faça o que for necessário, capito?

— Estamos observando cada movimento deles — respondeu Theodoro com firmeza.

Enquanto ouvia atentamente as informações de Theodoro, não pude evitar que pensamentos sobre Chiara se infiltrassem em minha mente. Era algo inadequado, algo que eu deveria reprimir. O que estaria Chiara fazendo neste momento?

— Parece que sua mente está distante — observou Theodoro, quebrando minha reflexão.

Tentei disfarçar meu estado de espírito com uma expressão neutra e respondi:

— Apenas preocupações com os negócios.

O que eu não poderia compartilhar com Theodoro era a luta interna que eu travava. Entre minha lealdade à família, aos negócios e uma atração que não deveria existir. Eu tinha um legado a proteger e não permitiria que nada se interpusesse em meu caminho. Especialmente quando se tratava da filha de Don Antonio, uma jovem com metade da minha idade.

Uma ligação telefônica mudou o curso da conversa. Henriqueta estava do outro lado, informando sobre a presença de Chiara no antigo quarto de Débora. Não demorei a compreender o que aquilo significava.

— Preciso retornar à mansão — avisei a Theodoro com urgência — Continue conforme planejamos. Espero que isso seja suficiente para afastar Chiara de seu namorado.

— Imagino que tenha outros planos para sua protegida.

Theodoro não demonstrou curiosidade quanto a esses supostos planos, e entendi que ele buscava apenas orientações para os próximos passos. Era compreensível, já que ele estava encarregado de nossa organização no estado.

— Sim. Chiara tem um destino a cumprir, e Rafael Borges não faz parte dele.

Não demorou até eu chegar à mansão.

— Ela ainda está lá? — indaguei a Henriqueta.

— Sim, Senhor Castellani.

— Ela costumava fazer isso antes?

Era uma pergunta crucial e esclarecedora.

— Sim, sempre ia ao quarto da Senhora Débora — confirmou Henriqueta, corrigindo-se em seguida — Mas ela nunca ficou tanto tempo lá. Desde que voltou para casa, está lá.

Não havia dúvidas: Chiara estava procurando algo. Avancei pelo corredor que levava aos quartos da mansão com discrição. Não queria que ela escapasse e também necessitava de um certo tempo para manter meu temperamento sob controle. Não me reconheço desde o momento em que coloquei os olhos em Chiara.

Segurei a maçaneta e empurrei a porta com calma. Chiara não estava à vista. Me aproximei do closet e a encontrei sentada no chão, cercada por caixas e papéis.

— Não vou perguntar o que está fazendo. Suas intenções estão bem claras, concorda?

— Não há motivos para me esconder enquanto busco informações sobre a minha própria mãe. Tenho todo o direito de fazer isso. Algum problema para você, Castellani?

Chiara responde com uma irritação evidente, e sua voz carrega uma nota de desafio como uma afronta direta. Ela não recua, não demonstra receio em me confrontar. O atrevimento dela está testando minha paciência, e não tenho certeza de até quando conseguirei manter a calma.

Eu a encaro com um olhar firme, transmitindo um aviso não verbal através da minha expressão. Tento comunicar que não tolerarei insubordinação, que ela deve lembrar o seu lugar. No entanto, Chiara não desvia o olhar, e suas palavras ecoam entre nós, como um desafio direto que não pode ser ignorado.

— Você está certa. Porém, se deseja encontrar informações sobre a suposta fortuna deixada por Débora, eu posso ajudá-la.

— Não confio em você. Não posso confiar em alguém que nunca demonstrou preocupação por mim.

Respiro profundamente, lutando para manter o controle. Ela não se curva, não hesita em me encarar com olhos que transmitem uma mistura de obstinação e convicção ao se erguer, como se quisesse afirmar seu espaço diante de mim.

— Estou no Brasil por sua causa, Chiara.

— Você está aqui apenas porque se sentiu ameaçado de alguma forma. Ainda não entendi a razão por trás disso, mas é apenas questão de tempo.

— Prometi que cuidaria de você e a orientaria até que fosse capaz de tomar suas próprias decisões. E irei até o fim para cumprir minha palavra.

— Desta vez, não — Chiara respondeu com um olhar de repulsa — Não sei a quem você fez essa promessa e não me importo. Mas vou deixar esta casa, e você não precisará mais se preocupar comigo. Não carregará mais o peso dessa responsabilidade em seus ombros.

Ela não aguardou por uma resposta, deixando o quarto e espalhando tudo pelo chão do closet. Senti a raiva se alastrando dentro de mim novamente.

Eu sou Vittorio Castellani, um homem acostumado a controlar as circunstâncias ao meu redor. No entanto, Chiara, de alguma forma, continua a me desafiar a cada momento.

A ligação de Theodoro vem em um bom momento.

— Está feito. O peixe pegou a isca.

— Ótimo. Irei providenciar para que Chiara volte ao apartamento.

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