♥CAPÍTULO TRÊS♥ Ah, que Deus me ajude nesse lugar.
Alex.
09:01 ― Centro de Detenção Provisória II Guarulhos ― Refeitório ― São Paulo ― Brasil.
Após pegarmos as nossas bandejas com comida, se isso for chamado de comida mesmo, seguimos para uma grande mesa vazia.
― Não se preocupe com a comida, pode ter uma aparência horrível, mas até que tem um bom gostinho. ― Falou se sentando.
― Certo. ― Me sentei também.
― Vamos comer.
Ele começou a comer e olhei para o meu prato, parecia um tipo de sopa, só que não é sopa. ― Com muito medo eu coloquei na boca sentindo o gosto, até que não é ruim.
― Pela sua cara gostou. ― Falou rindo.
― É boa. ― Ele acenou.
Começamos a comer em silêncio, do nada o refeitório é invadido pelos outros prisioneiros.
― Já estava na hora deles chegarem. ― Falou despreocupado.
Claro, ele já é acostumado, eu sou a carne nova no pedaço, puta merda!
― Bom, eu vou te dar um conselho, nunca olhe nos olhos dos outros prisioneiros, eles vão achar que você está querendo confusão.
― Entendi, obrigado pelo aviso.
― De nada.
Soltei um pequeno suspiro e terminei de comer.
― Está vendo aquele grupo ali? ― Apontou e virei a cabeça para ver.
Vejo um enorme grupo se sentando em uma mesa após terem pegado suas refeições.
― Sim, o que tem? ― Perguntei olhando para ele agora.
― Eles são os novos líderes da prisão, temporariamente.
― Como assim temporariamente? ― Ele deu um gole do suco e soltou um suspiro.
― O líder dessa prisão é o diabo, ele está na solitária por matar um policial. ― Fiquei surpreso com essa informação. ― Toda vez que ele fica na solitária, os outros presos brigam entre si para ser o novo líder temporariamente. Então, tome muito cuidado para não chamar atenção deles, todos eles gostam de uma carne nova.
Engoli seco.
― Você gosta de me deixar assustado, não é? ― Ele riu.
― Não, eu estou te avisando como as coisas funcionam por aqui, os policiais não tem poder neste lugar. O diabo foi para a solitária porque ele quis, acho que queria dar um tempo, eu não sei. A única coisa que eu sei é que ele não é homem para brincadeira, tome cuidado para não acabar sendo morto por ele, obedeça e talvez você viva.
Respirei fundo várias vezes para não chorar.
― Porque foi preso? ― Perguntou cruzando os braços.
― Os malditos policiais colocaram um quilo de maconha na minha mochila da faculdade e falaram que era minha. ― Ele riu negando com a cabeça.
― Isso sempre acontece, em todas as cadeias sempre vai ter alguém que foi preso injustiçadamente.
― E você? ― Ele me olhou. ― Porque foi preso?
― Matei o meu pai. ― Falou sem remorsos. ― Ele abusava da minha mãe, então eu perdi a cabeça e o matei sem pena alguma, algo que eu não me arrependo.
― Quanto tempo você está aqui?
― Semana passada fez três anos. ― Olhei para ele em estado de choque.
― Tanto tempo assim. ― Ele riu.
― Queridinho, todos aqui tem pena máxima, chegam até a trinta anos de cadeia.
Eu queria saber o meu, quanto tempo irei ficar aqui? Aquele delegado de merda não falou nada, só ordenou que me trouxessem para esse lugar.
― E você? ― Olhei sem entender para ele. ― Pegou quanto tempo?
― Eu não sei, o delegado que ordenou que me trouxessem para cá não falou a minha pena. ― Ele ergueu uma das suas sobrancelhas.
― Então quem vai decidir isso é o diretor, ele vai ficar de olho em você e depois pode te chamar para dizer a sua pena. ― Acenei com a cabeça sem muita motivação.
― Ora, carne nova no pedaço. ― Tomei um susto com uma voz atrás de mim.
Virei para ver quem era e vi um jovem bem bonito por sinal.
Ele é um pouquinho alto, o mesmo é branco e tem cabelo castanho claro, a cor dos seus olhos é um azul bem claro, o deixando mais bonito ainda.
― Ah, Baby, esse é o Alex, chegou ontem aqui na prisão. ― Falou a bonequinha apontando para mim.
― Hum. ― Ele me olhou. ― Cuidado, anjinho, pode acabar sendo comido por alguém.
Meu corpo todo tremeu de medo com isso.
― Bom, eu vou indo, tchauzinho. ― Ele foi embora nos deixando sozinhos novamente.
Olhei assustado para o meu companheiro de cela que riu.
― Ele está com ciúmes de você. ― Franzo a testa.
― O que? Porque?
― Lindinho, você é bem burrinho. ― Ele apoiou seus cotovelos na mesa e me olhou sorrindo. ― Você é lindo demais, até superou o Baby, ele notou isso e ficou irritado.
― Agora pronto, além de eu ser preso por causa daqueles infelizes, um jovem me odeia por eu ser um pouco bonito, ainda corro risco de ser estuprado, que vida boa. ― Cubro o meu rosto com as minhas mãos frustrado com tudo isso.
A vontade de chorar é grande demais.
― Oh, amorzinho, não fique assim, eu vou te ajudar, pode contar comigo. ― Falou colocando a mão em meu ombro.
― Como você vai me ajudar? Se um cara quiser me estuprar, o que vai fazer? ― Perguntei com lágrimas nos olhos.
― Irei tentar te ajudar, Alex, eu gostei de você, você se parece comigo quando eu cheguei nesse lugar, o Baby me ajudou, agora eu vou te ajudar.
Soltei um suspiro com isso.
― Obrigado. ― Ele sorriu para mim. ― Você pode me dizer o seu nome? Ficar chamando você de bonequinha é estranho pra mim.
Ele riu.
― Pode me chamar somente de B.
― Tudo bem então, B.
― Vamos levar os nossos pratos, irei te explicar as tarefas que precisamos fazer.
― Certo.
Levantamos com as nossas bandejas e segui ele, olhei os prisioneiros no refeitório e vi aquele negão do outro lado me encarando sorrindo.
Virei um alvo.
― Porque aquele cara não para de me encarar? ― Perguntei muito assustado para o B.
― O apelido dele aqui é Negão, ele sempre pega todos os novatos, se o sexo for bom pra ele, você se tornar exclusivamente dele.
― C-Como sabe disso? ― Perguntei.
― Bom, eu já transei com ele, o mesmo não gostou muito, graças a Deus. ― Riu sozinho. ― Eu não queria ser dele mesmo, na verdade, eu não quero ser de ninguém, mas se alguém me quiser, eu não posso recusar.
― E por que não? ― Perguntei sem entender.
Todo mundo tem escolhas.
― Porque eu não quero morrer. ― Falou sério. ― Alex, você reparou que não tem muitos jovens aqui, não é?
― Ah, sim. ― Concordo.
― Todos foram mortos por não obedecer os outros prisioneiros, eu e os meus amigos estamos vivos por obedecer, você vai ter que parar de ser orgulhoso, aqui dentro ninguém tem escolhas. ― Falou sério para mim. ― Estou te avisando para o seu próprio bem.
Acenei com a cabeça em concordância sem conseguir falar mais alguma coisa, entregamos as bandejas sujas e ele me puxou para fora do refeitório.
― Aqui todos trabalham, quer dizer, menos o diabo e o Baby, mas o resto tem que trabalhar.
― Quais são os trabalhos?
― Tem de tudo, você pode trabalhar na cozinha, pode trabalhar na lavanderia, limpar os banheiros.
― Você trabalha em que?
― Prefiro lavar as roupas, no banheiro é capaz de um deles aparecer e te estuprar, já aconteceu comigo. ― Fiquei assustado com isso.
― Você ficou bem? ― Ele acenou com a cabeça.
― Sim, só com algumas dores no cu. ― Deu de ombro. ― Também tem uma enfermaria aqui, é uma bosta, mais até que dá pro gasto.
― Certo.
Como alguém pode ser tão calmo? Ele deve ter sofrido tanto aqui que se acostumou com esses tratamentos horríveis.
Ah, que Deus me ajude nesse lugar.