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Goodbye, water

Victor Elliot Krum.

Nasceu em 28 de outubro de 1982 na cidade de San Francisco, perdeu os pais ainda criança, vítimas de um acidente aéreo e fundou a própria empresa aérea aos 25 anos, se tornando milionário e dono da segunda maior empresa de jatinhos particulares aos 30 anos.

Ele era mais do que um exemplo de superação para ser seguido e era mais do que um rostinho bonito.

Mas tinha que admitir que fui atraída primeiro pela beleza, me apaixonando de vez depois de pesquisar a fundo a biografia dele e reler diversas vezes.

- Então era apaixonada por ele? - Conrad pergunta, segurando o riso como se tivesse acabado de ouvir uma piada.

- Rob tinha fotos dele espalhadas por todo o quarto. Tinha uma mesma que ficava num porta-retrato.

- Camille - Censuro sério.

- O quê você fez com aquela foto? - Em meio aos caos que se instaurou em minha vida depois, não fazia ideia do que aconteceu com muito de meus pertences.

- Leah deve ter jogado fora - murmuro.

- Duvido. Você era mais ciumenta com as fotos do que as maquetes - Ela espalma as mãos sob o balcão sorrindo nostálgica - Lembro que você ficava folheando as revistas, atrás de alguma matéria dele e quando achava, mesmo que a foto fosse minúscula, já ganhava seu dia - Ela volta a mexer a salada de batatas - Acho que você tinha até um álbum que você fez apenas pra isso...

- É. Eu tinha - E considerava como um tesouro, enquanto sonhava que um dia trabalharia junto com Victor Krum.

- Isto que é obsessão - Conrad comenta.

- Não acho que ela era obsessiva por causa disso - diz Camille sem olhá-lo.

- Como não, Camille? Você mesmo disse que ela tinha várias fotos dele.

- É coisa de criança, principalmente quando é um crush. Vai me dizer que nunca fez isso?

- Não - Camille sustenta o olhar dele, antes de olhar para mim e voltar a mexer a sala de batatas - Foi assim que John Lennon foi morto e outros artistas.

Camille dá uma breve risada.

- Conrad, estamos falando de uma criança com uma paixonite.

- E você acha que começou como a obsessão de Mark Chapman? -

O silêncio se instala rapidamente, se tornando tenso em poucos segundos.

- Cami - Chamo levantando - Quer ajuda?

Ela desvia o olhar do marido.

- Tira as batatas do forno pra mim?

- Tá. Tudo bem - Vou até o fogão, vestindo a luva térmica antes de abrir o forno embutido e tirar de lá uma forma com batatas recheadas.

Camille arruma a mesa para o jantar, enquanto Conrad se ausenta para lavar as mãos, neste curto período apenas nos entre olhamos, terminando a função antes dele voltar.

Nos servimos em silêncio, até que reparo que Conrad para de se servir e olha com atenção a cozinha, parecendo estar em busca de alguma coisa.

- Quer alguma coisa? - Camille pergunta.

- A carne.

Breve pausa constrangedora.

- Robbie não come carne. Na verdade, crescemos sem comer carne.

- Não é por quê ela está aqui que não vou comer carne, Camille.

- Gente, por mim tudo bem - digo me obrigando a colocar um sorriso no rosto.

Sem dizer nada, Camille se levanta, voltando para a cozinha.

- Mal passado, querida - diz Conrad, elevando um pouco a voz, voltando a atenção para o prato, onde dá uma garfada na batata - Não sei como vocês ficam sem comer carne - Ele volta a me olhar - A mãe de vocês obrigava vocês a não comer?

- Ela nunca fez isso. Ela só nos contou a verdade sobre o abate.

- O animal precisa morrer pra gente comer - diz sarcástico - Qual a parte terrível nisso? - Sustento o olhar dele, antes de baixar o olhar para o prato.

- Não sei - Eu sabia, mas não queria entrar em uma discussão no qual sabia que não ganharia, mesmo com os melhores argumentos.

- Quer um conselho? Volte a comer carne. Não tem ideia do que está perdendo.

Camille volta minutos mais tarde com um prato com dois bifes grandes, nos meus olhos ainda crus. Conrad se delicia dos mesmos, ignorando completamente nossa presença, me fazendo lembrar de um leão comendo ao olhá-lo.

Observando Camille perto dele, tinha certeza que era bastante desafiador, viver com uma pessoa que não tinha os mesmos ideais e chegava a ser a contraditória. Relações como essa, não iria muito longe, dizia isso com toda convicção com base do relacionamento de Maggie e Leah, que após 15 anos, chegou ao fim devido a uma traição com um homem com os ideais que Maggie procurava todo aquele tempo e que não conseguiu que fizessem parte de Leah.

Será que Leah se culpava, por não ter aberto mais sua mente?

Por não ter aberto mão de certas coisas? Certos hábitos?

Se pudesse fazer tudo diferente, será que faria por amor à Maggie?

Por alguma razão ou por acreditar que 15 anos, não eram míseros 15 dias, sentia que Leah se pudesse mudaria tudo e encontraria um jeito de continuar ao lado de Maggie.

Era onde ela gostava de ficar.

- Pode deixar comigo - diz Camille, após o jantar, arrumando os pratos dentro da lava-louças - Já era para estar deitada.

- Não somos mais crianças.

- Lembra do jeito rápido que Leah nos colocava pra dormir? - Ela pergunta rindo.

- Não tinha nem um boa noite - Sorrio de volta - Ela simplesmente só verificava se tínhamos entrado no quarto e desligava a luz.

- Isso com certeza me traumatizou.

-Diferente de Maggie, não é?

Camille sorri.

- Ela sabia como contar e atuar uma história.

Sorrimos juntas.

- Não queria que elas se separassem.

- Até hoje não acredito que a Leah foi substituída pelo Johannes. O Johannes!

- Sempre tive a impressão que ele não toma banho - comento baixo - Ele tinha um cheiro...cítrico.

Ela se aproxima mais de mim.

- Sabe que também já tive essa impressão? - sussurra de volta.

Nos entre olhamos, antes de cair na risada.

- Pelo menos somos uns hippies cheirosos.

- Sem dúvida alguma disso.

- Camille! - Conrad chama do quarto - Pode pegar a toalha pra mim?

O sorriso some do rosto de Camille.

- É melhor ir levar a toalha. Se estiver com dor e precisar de analgésico, só me chamar.

Assinto, indo na direção contrária que a dela.

Em meio a pouca penumbra do quarto de hóspedes solto o ar dos pulmões, antes de abrir uma das malas e pegar meu pijama.

O sono não veio depois do banho quente, muito menos depois de mudar de posição quatro vezes na cama.

Acabei desistindo e encarando quase que sem piscar o teto do quarto, acabando por me pegar pensando em Victor Krum que, não havia mudado muito tempo.

O tempo havia sido generoso com ele. Quer dizer, Maggie sempre dizia que o tempo era com a pele negra, demorávamos para envelhecer.

Acabou que entrei no velho Google só para saber o quê Victor Krum andou fazendo nos últimos anos e não foi surpresa ler, que sua empresa havia aumentado.

A sede era em San Francisco, mas não havia se limitado apenas ali, tinha ido para a Inglaterra, Paris, Japão e Brasil.

Victor havia conseguido correr atrás de seu sonho.

- E eu? - sussurro no escuro, voltando a olhar para o teto.

A pergunta pairou no ar por longos minutos, intermináveis até, enquanto relembrava tudo que havia feito naqueles últimos anos.

Todas as frustrações, medos e ferimentos no meu corpo.

Tudo para estar em destaque e conseguir aplausos, que não me adiantaram nada depois de um erro.

Sabia que em algum lugar dentro de mim, tinha aquela menina de 6 anos, que ainda sonhava em ser aeromoça e que logo depois, se imaginou trabalhando ao lado de Victor Krum.

E foi nela que me agarrei naquele momento.

Puxando-a do fundo de uma piscina, onde a escondi durante aqueles anos. Salvando-a do esquecimento, junto com meu sonho.

Meu sonho de ser aeromoça.

No qual não iria mais desistir, correria atrás dele, assim como Victor correu, venceria mais uma vez o medo e me sentiria mais do que realizada, quando dissesse: “Faço parte da tripulação”.

Um sorriso surgiu automáticamente em meu rosto e um peso foi tirado das minhas costas.

A solução de tudo estava todo aquele tempo ao meu alcance e simplesmente não via, com todas as cobranças que colocava em cima de mim.

Tamanho era o alívio que estava sentindo dentro de mim, que mal consegui dormir, pulando da cama assim que o dia amanheceu.

Ainda no quarto, espero impaciente ouvir algum barulho vindo dos demais cômodos e quando finalmente ouço Camille cantarolando baixo, saio rapidamente do quarto, a encontrando na sala, procurando algo na estante média de madeira.

- Cadê você - dizia baixo, procurando algum livro específico - Cadê... - Quando ela me nota a poucos passos dela, reprimi um grito, dando um passo para trás, levando a mão até o coração - Você quase matou de susto, Robbie.

- Não vou mais saltar - digo com a voz firme.

Camille continua procurando, distraída.

- Isso é bom, Rob - Ela para abruptamente, voltando a me olhar - O quê foi que disse?

- Que não vou mais saltar de sei lá quantos metros. Estou abandonando definitivamente esse esporte - Ela continua a me olhar, sem esboçar qualquer reação - Diz alguma coisa.

- É isso que você quer?

- Nunca quis pra início de conversa.

Ela dá de ombros.

- Então está tudo bem. A vida é curta demais para estar perdendo tempo com algo que não gosta, Rob.

- Obrigada por me apoiar - digo novamente para sua surpresa.

- Irmã é pra isso, eu acho - Ela afaga meu braço, voltando a atenção para a estante - Agora, onde foi que eu coloquei aquele livro sobre as cores... - diz para si.

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