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Capítulo 04

Enquanto finalizo mais um dia de trabalho, em minha cabeça não para de se repetir o que aconteceu ontem. A preocupação de Lipe, seu carinho. A ideia que teve para me manter segura foi o que mais mexeu comigo. E quando enfim chega a hora de ir embora, começo a arrumar minhas coisas sem muita pressa, tentando controlar meu nervosismo. Agora que Felipe virá me buscar todos os dias, vamos ficar ainda mais próximos. Por um lado, será bom, mas por outro...

Meu celular apita, avisando que chegou uma nova mensagem.

"Já estou aqui fora te esperando, docinho."

Um sorriso surge em meu rosto.

— Você parece feliz. — Me assusto com a voz de meu chefe. — Desculpa não queria te assustar — ele diz. — Você tem um sorriso lindo, Ana. Boa noite, até amanhã. — Ele sempre faz questão de me cumprimentar no início e no fim do dia.

— Boa noite, senhor. Até amanhã.

Assim que saio, vejo Lipe sentado no capô do carro, com aquele sorriso perfeito que é capaz de enfraquece minhas pernas. Nos cumprimentamos com um abraço e um beijo na bochecha, e ele abre a porta para mim e em seguida entra. Vamos o caminho todo conversando sobre como foi nosso dia.

***

Estou feliz por poder passar mais tempo com ele, mas também preocupada, pois a cada dia me vejo mais apaixonada. Cada sorriso dele me hipnotiza, e estou sempre lhe fazendo perguntas só para ouvir o som da sua voz. Até quando durmo ele está em meus pensamentos. E dessa forma a semana passa rapidamente. Hoje já é sexta-feira.

Já dentro do carro, Felipe liga o rádio.

"Agora vamos curtir a música dos Tribalistas, 'Velha Infância'", diz o locutor. "Sei que ela ainda toca o coração de muitos apaixonados."

A música começa a tocar. Sempre que a ouço, penso em nós; em como seríamos juntos. Lipe me olha por um breve momento, e sinto que nos conectamos nesse olhar. Mas talvez tenha sido só imaginação minha.

Quando ele para em frente a minha casa, eu solto o cinto.

— Muito obrigada, mais uma vez. — Em vez de beijar sua bochecha, como sempre faço ao me despedir, acabo beijando seus lábios. Assim, sem pensar. E quando me afasto, vejo que Felipe está completamente imóvel. Nem mesmo eu sei como reagir.

Saio do carro o mais rápido que posso e não olho para trás em nenhum momento. Me tranco no quarto enquanto me xingo em pensamento por ter sido tão impulsiva. Ficou bem mais do que claro que ele não gostou. Como posso ter sido tão burra? Eu estraguei tudo. Resisti a semana toda para fraquejar agora.

Eu só paro de me lamentar pelo que fiz quando ouço o celular vibrar com uma nova mensagem. E meu coração acelera ao ver que é dele. Será que vai pedir para que eu esqueça o que aconteceu? Dizer que foi um erro?

Desbloqueio o celular e decido enfrentá-lo de uma vez.

Lipe: Ana, por que saiu daquele jeito? Você nem me deu a chance de processar tudo.

Ana: Eu me deixei levar. Me desculpa.

Lipe: Me beijar foi tão ruim assim a ponto de você me pedir desculpas?

Ana: Não é isso. É que sei que nossa amizade é muito mais importante. Não quero estragar tudo. Sinto que joguei fora nossos anos de amizade.

Lipe: Quero conversar com você pessoalmente. Posso ir aí?

Ana: Pode sim. Minha mãe saiu com as amigas após o trabalho, então podemos conversar tranquilamente.

Lipe: Ok. Daqui a vinte minutos estou aí. Até mais.

Ana: Até.

Não acredito que tudo isso está acontecendo. Tenho que me arrumar, é tudo em que consigo pensar. Corro para o banheiro, tomo um banho, coloco um shortinho jeans curto e uma camiseta branca, penteio meus cabelos e passo um bom perfume. Meu estômago está se revirando de ansiedade. Saber que estaremos sozinhos nessa casa me deixa ainda mais nervosa. Assim que chega a mensagem dele me avisando que já está na porta, vou atendê-lo.

— Entre, por favor.

Suas mãos estão no bolso, o que me faz deduzir que está nervoso. Eu o conheço muito bem e sei cada mensagem que seu corpo me envia. Ele se senta no sofá e eu faço o mesmo. Ficamos nos encarando por alguns segundos até ele sorrir. Isso só pode ser um bom sinal.

— Ana... — diz meu nome como se fosse uma linda melodia, e sua mão acaricia minha bochecha. — Não fuja mais de mim, por favor. A gente sempre conversou sobre tudo. O que você estiver pensando, quero que me fale. Nada vai estragar nossa amizade. Você só precisa ser sincera comigo, assim como sempre sou com você. Entendeu?

— Lipe... — Meu olhar se fixa em seus lábios.

— Sim.

— Eu quero muito te beijar novamente.

...FELIPE...

Se soubesse que seria tão bom assim buscar Ana todos os dias, teria tido essa ideia antes. Nem sei por que não havia pensado nisso. Sempre que se aproxima o horário de encontrá-la, me sinto ansioso. Como estou agora.

Assim que estaciono em frente ao seu trabalho, saio do carro, me sento no capô e mando mensagem avisando que já estou aqui. E não demora para ela aparecer. E enquanto a observo, penso que preciso dizer a ela como fica linda de roupa social. Nos cumprimentamos com um beijo e um abraço, como de costume, e seu cheiro me preenche por inteiro; tão doce quanto ela. E como eu o amo.

Durante toda a semana, seguimos com essa rotina. E eu nem vejo os dias passarem. Logo ao entrarmos no carro, ligo o rádio. Somos nós dois apaixonados por música, sendo essa apenas mais uma das várias coisas que temos em comum, e assim que a canção começa a tocar, sinto uma vontade imensa de olhar para ela. E por alguns segundos nossos olhos realmente se encontram e sinto um frio em meu estômago. Eu me pergunto se ela teria sentido o mesmo.

— Muito obrigada, mais uma vez. — Ela sorri. E que sorriso perfeito.

Ana aproxima o rosto do meu e me surpreende com um beijo nos lábios. Ela me beijou! Eu não sei o que fazer. Fico paralisado. E como se minha reação — ou sua ausência — a assustasse, Ana sai rapidamente do carro e me deixa sozinho.

Eu nunca namorei, e a única mulher com quem cheguei a pensar em ter uma relação mais firme partiu meu coração. E, desde então, ninguém mais me fez sentir. Mas esse beijo, tão rápido e casto, fez algo mudar dentro de mim. Com Ana tudo parece melhor.

Estaciono o carro na garagem, entro em casa, vou para o meu quarto e me deito na cama. A indecisão paira sobre a minha cabeça. Mandar uma mensagem ou fingir que isso nunca aconteceu? Será que ela vai querer alguma coisa séria? Eu não vou consegui oferecer isso a ela, mas mesmo assim quero ficar ao seu lado e sentir mais uma vez seus lábios nos meus e seu corpo em meus braços. De todas as mulheres, Ana é a única com quem me preocupo em machucar. Não quero que ela se decepcione comigo. Não imagino minha vida sem ela. Depois de ficar minutos me remoendo sem saber o que fazer, decido mandar uma mensagem.

Após combinarmos que irei lá para conversarmos pessoalmente, me levanto, com a empolgação tomando conta de mim, separo uma roupa, tomo um banho, escovo meus dentes, arrumo meu cabelo e me perfumo. Meu coração está acelerado e eu não entendo por quê.

Estou indo conversar com Ana, a minha amiga. Mas nunca me senti assim antes. Respiro fundo, tentando me acalmar, e saio e tranco a porta. E torcendo para que tudo dê certo e que eu não me arrependa depois, caminho até sua casa. 

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