CAPÍTULO 5
ZAFIRA — NARRANDO
Abro novamente meus olhos e tento focar minha visão em algo, a claridade perturba minhas pupilas fazendo-me fechar as pálpebras.
Escuto o ranger da porta e desperto-me olhando em direção no momento em que alguém entra por ela, meu coração acelera. Não consigo explicar o misto de sentimentos que sinto, o pior é o medo que falta rasgar meu peito ao meio.
— Levante-se — era Lorenzo.
Por mais que quisesse desgrudar minha carne doída daquele chão gelado, eu não conseguia, precisava de ajuda para manter-me em pé, mal mexia-me, fiquei na posição desde o momento em que cansei de gritar para que me tirasse de lá. Ao menos sei se desmaiei, desconfio por não lembrar direito de como fui parar no chão, e a dor que sinto na parte de trás da minha cabeça próxima a nunca, me faz ter certeza.
— Zafira…. Agora….. não …
As palavras dele ficaram embaraçadas em meus ouvidos, e aos pouco longe.. muito longe .. Minhas pálpebras pesaram e mais uma vez sabia que ia ser levada pela escuridão.
Algum tempo depois ….
Uns pingos de água morna escorriam por minha fonte passando por minha bochecha, isso me impulsionou a abrir meus olhos para descobrir o que acontecia.
Não sinto mais o chão duro em meu corpo, e sim algo macio e confortável. Aos poucos consegui enxergar um pouco dois vultos em minha frente, pisquei algumas vezes até conseguir reconhecer ser Lael no colo de uma mulher.
— Me dê meu filho….
Levantei bruscamente minha cabeça do travesseiro, ignorei a dor que sentia. A mulher deu uns passos para trás, aparentemente assustada.
— Dê ele para ela, você é surda.
Era minha mãe. A mulher rapidamente colocou Lael em meu colo, abracei ele apertado, sentindo grande alívio de tê-lo novamente em meus braços.
— Como pode ser tão burra, Zafira!
— Mãe, não quero ouvi-la.. — somente estava agora eu e ela, a mulher saiu.
— Vai acabar morrendo por suas petulância, tem que saber aproveitar …
— Aproveitar o que? — minha voz está saindo baixa. — Por favor me deixe.. quero descansar.
Coloquei Lael do meu lado, e fiquei de lado, a dor quase me fez gemer, mas para mim o importante era amamentá-lo da maneira mais confortável para ele.
— Passou dois dias dentro daquele porão.
— Dois dias? — para mim não pareceu tanto tempo assim, deve ser porque a maior parte do tempo fiquei desacordada.
— E mais um para conseguir abrir os olhos, foi alimentada por uma sonda, parecia que estava morta — mostrou aflição. — Sua febre não quer baixar.
Meus olhos ardem por esse motivo, mas me esforço para ter eles abertos.
— Ele é um monstro!
— Você provocou isso!
— Claro que vai defendê-lo, é dono da fortuna que mantém seus luxos.
Já me acostumei a não ter apoio da minha família, isso não me afeta, não mais.
— Não diga besteiras, você é minha filha.
— Não é necessário que faça discurso, mamãe, vou sobreviver a isso.
Cada palavra que digo, sinto dor em minha barriga por puxar a respiração. Consigo ver na mesinha próxima a cômoda, alguns soros e outros medicamentos.
— Se quer sobreviver, terá que rever suas atitudes como esposa — ela está preocupada em me manter viva, pena não ser por ser sua filha.
— Você não é a melhor para dar esse conselho — a faço lembrar de como agia com meu pai.
— Escute, Lorenzo vai mata-lá…
— Quem vou matar?
Apertei o pano em cima do meu corpo. Lorenzo usava uma roupa comum, estava apenas de sandálias, nunca o vi assim, se não fosse nú pronto para me ferir.
— A minha filha. Você exagerou, Lorenzo!
— Quem é você mesmo, Tânia? — rebateu, minha mãe abaixou a cabeça e se afastou quando ele veio para perto da cama.
Minha respiração acelerou ao encarar seus olhos frios, Lael estava concentrado alheio ao que acontecia, o bico do meu seio doía pela maneira que sugava, parecia faminto ou apenas sentiu minha falta.
— Jamais mataria minha mulher. Ela é preciosa para mim, mãe de Lael e dos meus outros futuros filhos — mostrou um pequeno sorriso, se sentou na cama. Me arrepiei toda ao dizer filhos no plural.
— Me perdoe, ver Zafira nessa condição me deixou assustada — fingiu Tânia.
— Não perca seu tempo tentando mostrar que se importa — disse com desdém. — Nos dê licença, quero aproveitar a companhia da minha mulher.
— Quer que fique com Lael? — ela perguntou.— Para fazerem as pazes.
Como ela fala isso? Sua expressão ao dizer essa última frase, foi tão clara quanto a água.
Abracei Lael, olhei pedindo silenciosamente para que Lorenzo não concordasse com aquilo, precisava do meu filho, ele é minha fonte de força e coragem para lutar.
— Não, Tânia — ele respondeu. — Quero ele aqui, isso deixa minha mulher feliz, e a mim também.
Tânia balançou a cabeça e saiu do quarto fechando a porta atrás de si. Engolir em seco, vendo-o se levantar e ir trancar a mesma, ninguém nos incomodaria, porque tranca-la?
— Sentir sua falta, amor — olhou-me com ternura, isso era novo. — Quase a tirei na mesma noite de lá, mas foi necessário, para não esconder nada de mim.
Subiu na cama ficando na posição de cachorrinho, virou meu corpo deixando-me de peito para cima, Lael tirou sua boca do meu seio e sentou-se sorrindo. Parecia que ele havia crescido.
— Sentir sua falta — sussurrou novamente isso.
Abrir a boca atômica sem saber o que dizer para agradá-lo, seus braços estavam em cada lado do meu corpo, estava em cima de mim, sem apoiar seu corpo no meu. Seu rosto estava próximo, sentia sua respiração contra meu rosto.
— Não precisa ficar nervosa, já recebeu seu castigo — beijou minha bochecha, fechei meus olhos assustada, e beijou também meus lábios, os abrindo com seus dentes. Ele puxou meu lábio inferior e o sugou, abrir meus olhos vendo-o que me encarava enquanto fazia isso, sua mão repousou num lado do meu rosto o segurando, e me fez correspondê-lo, movi minha boca para a dele. O medo por um momento sumiu, do meu rosto sua mão foi para os fios do meu cabelo, segurando-os carinhosamente.
— O que está fazendo? — perguntei, puxando o ar necessário.
— Sendo gentil — quis voltar a me beijar, mas Lael se meteu em nosso meio, abraçando o rosto dele. Lorenzo virou para o lado levando Lael junto, olhei admirada por vê-lo sorrindo, brincando com o filho.
Não tinha como esquecer o que ele fez comigo, me deixou quase maluca dentro daquele porão escuro, nunca mais quero voltar para lá.
— Você não vai dormir comigo e sua mãe — reclamou brincalhão. — Só vai nos atrapalhar como fez agora, danadinho.
Fiquei ouvindo a conversa entre eles, Lael parece gostar dele e isso me deixa apreensiva.
O tempo passou e os dois dormiram, cautelosa me levantei da cama, a febre cessou, somente tinha que tomar cuidado na hora de andar, demorei dois minutos até sentir firmeza de meus pés sobre o chão.
A dor em minhas nádegas até o momento não sentia, era como se estivesse adormecida.
— Até usando esse vestido largo é gostosa.
Rodei os calcanhares voltando em direção a cama, ao ouvi-lo. Devagar ele saiu da cama, colocou os dois travesseiros ao redor de Lael, para evitar uma queda.
— Lorenzo ….
Seus olhos inexpressivos me davam tanto medo, não sabia o que ele faria, mas, era mais provável coisas ruins para me machucar.
— Sim, Zafira — chegou até mim, me puxou para perto do seu corpo. — Espero que tenha aprendido, e que esse castigo tenha sido o suficiente.
— Foi o suficiente — disse rapidamente, ele me abraçou.
— Não quero machucá-la, não mais — sussurrou em meu ouvido. — Você me deu o melhor presente, e quero retribuir sendo bom para você.
Ouvir atentamente, criando uma pequena expectativa.
— Mas, tem uma pequena condição.
— Qual? — disse num fio de voz, temendo o que sairia de sua boca, tudo tem um preço.
— Que seja a mulher que quero — disse ele, pegou cada lado do meu rosto. — Obediente, carinhosa, disposta a fazer tudo que eu quero e necessito.
Maior parte de suas condições era relacionada à sexo.
— Tenho medo de você…
Ele me silenciou.
— Tenha somente quando fizer alguma coisa que não me agrada, Zafira. Em outros momentos pode ser a mulher que desejo.
— Não serei capaz…
— Essa é sua chance de viver feliz — continuou "propagando", o que mais quero é ser feliz com meu filho, mas ele não estava em meus planos. — Ninguém mais se machucaria ..
— Machucou mais alguém além de mim?
— Não lembro o nome dela, pensei que havia morrido, porém está viva e se recuperando no hospital.
Quem poderia ser? Esforcei-me para pensar em alguém que pudesse ter dado motivo para que ele tentasse contra a vida.
— Porque fez isso?
— Ela a ajudou a fugir, não a deixaria ilesa.
Meu coração tremeu.
— Josefina — disse baixinho.
— Esse é o nome dela.
As lágrimas rolaram pelo meu rosto, por um mísero segundo pensei em bater nele, mas isso me prejudicaria, não queria ficar mais nenhum dia sem meu filho.
— Faça o que quero, seja espontânea — limpou meu rosto. — Deixarei vê-la pelo menos uma última vez.
— Pretende matá-la?
— Sim, amor! Ela merece..
— Não, Lorenzo.. por favor.. eu faço qualquer coisa, mas deixe-a em paz.. somente eu sou culpada por tudo, ela não queria me ajudar.
— Zafira, você é tão boazinha — aperta minha bochecha, passa por mim. — Mas já estou decidido, quero aquela vaca morta.
Andei desesperada até ele que estava na porta pronto para terminar sua atrocidade, não duvidava que iria nesse momento para o hospital.
— Lorenzo …. Faça amor comigo — não pensei em outras palavras, ele segurou a porta e olhou para mim. — Quero senti-lo dentro de mim… me faça sua…
— Amor, nosso filho pode acordar — ele mostrou um sorriso safado, tenho certeza que não se importa por Lael está aqui.
— Ele está apegado no sono..
— E seus machucados? — estava me testando.
— Cuide deles por mim, eu quero você!
Lorenzo tinha expressão cínica, e satisfação em seus olhos. Ele fechou a porta e veio lentamente novamente para perto de mim.
— Isso que quero, Zafira — passou com seus dedos pela alça de cada lado do vestido grande que cobria todo meu corpo.
— Não vai mais machucá-la?
— Isso vai depender do que mais você vai fazer depois que ficar completamente nua.
Revirei os olhos toda arrependida quando sugou fortemente meu seio.
— Tudo depende de você, Zafira. Vamos para o outro quarto!