CAPÍTULO 3
ZAFIRA — NARRANDO
Num ato impensável, desesperada para não me encontrar novamente com meu marido, corri para as escadas seguindo onde Lael estava e peguei do colo da menina Júlia que brincava feliz com ele, não disse nada somente sair deixando a menina confusa por minha atitude.
— O que aconteceu, Zafira? — interviu ao me ver e bloqueou meu caminho. — Está pálida, sente-se aqui!
— Não, eu preciso ir embora daqui!
— Fiz alguma coisa que não gostou?
— Lorenzo está vindo para Águazul, desconfio que ele já até esteja aqui.
Josefina olhou-me com compaixão.
— Fugir não é o melhor a se fazer.
— Não vou ficar para vê-lo machucar meu filho, Lorenzo não tem amor por ninguém.
Perdia meu tempo nessa conversa, por mais que ela saiba o que passei, não consegue entender minha decisão, pois não sentiu as dores e a humilhação. Não a julgo por optar pela decisão mais fácil e aparentemente sábia, que é ficar e recebê-lo.
— Zafira..
— Josefina, não ficarei aqui!
— Tá, deixe-me ajudá-la, sei de um lugar que você pode ir, vai ficar segura lá.
LORENZO ALMONTE — NARRANDO
Inspiro o ar de Águazul que me faz lembrar da minha deliciosa esposa, esse tempo longe dela foram uma tortura diária para meu pau que só deseja ela, mas meu tormento logo terminará, estou de volta na minha cidade, vim para ficar definitivamente ao lado da minha esposa.
— Qualquer que me ligar passe para Márcio, ele vai me substituir por uns dias, vou estar com minha esposa, não quero ser interrompido — dou ordens.
Os negócios estão a cada dia crescendo e se expandindo, minha fortuna só aumenta, quero usufruir toda ela com Zafira e no futuro próximo com nossos filhos.
Estou dentro do carro preto blindado, tomo cuidado com meus inimigos de negócio, a cidade de Águazul não é exatamente uma calmaria sem "vilões" sentados em suas cadeiras confortáveis. Pelo fato de ter cortado laços com a maioria que tinham parceria com meu falecido pai, me tornei o alvo deles.
— Olhe ao redor! — mando.
Desço do carro, as pessoas curiosas ficam olhando e quando me reconhecem rapidamente mudam seu foco. Nunca me esforcei em ser simpático com nenhuma pessoa que mora aqui, faço e gosto de tudo do meu jeito, se quiser mudar o nome da porra do nome dessa cidade eu mudo, porque ela e minha e o poder me exalta.
As luzes da casa estão apagadas, talvez queira me fazer uma surpresa, sorriu malicioso com essa expectativa. Uso minha chave e entro, tudo está um completo silêncio, não ouço som de ruído algum. Subo as escadas e vejo nos quartos e não há sinal da minha Zafira. Mandei que estivesse na nossa cama.
Há somente um lugar que ela pode estar. A casa de Tânia, a desgraçada que me presenteou com seu anjinho.
Alguns minutos depois ..
— Lorenzo, você voltou finalmente — seu sorriso é imenso, não movi um músculo sequer para a abraçar, a deixo no vácuo com seus braços abertos. — Teve uma boa viagem?
— Quero saber de Zafira! — digo cortando sua conversa irritante. — Chame ela agora, Tânia!
Ela me olha confusa, parece não saber da minha esposa.
— AGORA! — elevo minha voz.
— Ela não está aqui, Lorenzo! — gagueja.
— Onde ela está? — indago.
Tânia me olha receosa, me aproximo dela e seu silêncio faz mil pensamentos em mente a respeito de Zafira.
— Responda!
— Não está na casa de vocês?
— Vim de lá, Tânia!
Com expressão pensativa ela me olha, rapidamente acerto seu rosto com um tapa alto e estalado.
— Não sabe onde Zafira está caralho? — pergunto, a pegando do chão onde foi parar pelo impacto.
— Solte minha mãe, Lorenzo — aparece a vergonha da família. — Sei onde Zafira está.
Ouvindo-o dizer o que me interessa soltei Tânia, e fui até ele, Bruno falta se borrar diante de mim.
— Onde? — pergunto seco.
— Na casa de Josefina — responde.
— Quem é ela?
— Nossa prima, elas se conhecem desde pequenas.
Não recordo desse nome, mas seja lá quem for vai ser interrogado por mim.
— Vou ligar para ela, Lorenzo. Zafira logo vai estar aqui para recebê-lo — diz Tânia.
Mesmo com um lado da face vermelha, ela não perde sua pose de dama riquinha que se humilha para ter dinheiro.
— Eu mesmo a buscarei — digo.
— Não Lorenzo, deixe que ela vai vim…
Se aproxima de mim, tem o telefone em seu ouvido. Seus olhos estão muito expressivos, algo incomum nela, ela sempre tem um ar superior e desdém com todos.
— Devia usar meu dinheiro no que você realmente precisa, Tânia, como uma cirurgia plástica, essa maquiagem não tá tendo muito efeito.
Ela pisca, pega em seu rosto, seu ponto fraco é receber críticas sobre sua aparência.
— Você vem comigo! — digo para Bruno.
— Também irei — diz Tânia.
Minutos depois..
Na casa da tal Josefina que parece ter saído pelo cú, Zafira não está. A mulher está muito nervosa e não me encara, isso é um dos sinais quando alguém está mentindo.
— Cadê ela? — a primeira vez que refiro a palavra a ela. — Onde está se escondendo?
— Não sei de nada, Almonte, ela só saiu, não disse para onde ia — diz com voz falha, suas mãos tremem. — Parecia assustada, depois que falou com você.
Ando até ela, e subitamente foi se afastando, Bruno a bloqueou por trás e isso a fez dar um pulo no lugar.
— Está mentindo, Josefina!
— Almonte..
Vejo a menina que estava no quarto de cima brincando, ela está muito assustada e tem seus olhos arregalados.
— Como é o nome da sua filha?
Agora ela me encara com pânico, ela não me responde, para a encorajar vou até a pequena menina.
— Qual seu nome pequena?
— Júlia, senhor! — diz e dá sua mão para que eu a aperte. Muito corajosa, apesar que mostrar estar com medo. — Veio pegar tia Zafira e o Lael?
— Quem é LAEL? — rosno.
A menina sai correndo para perto de Josefina. Tânia me olha pávida, todos tem expressão dessa forma, nenhum se atreve a responder.
— Tira a menina daqui! — digo para Bruno, que rapidamente faz.
Não queria no meu primeiro dia na minha a Águazul matar ninguém, mas vejo que não será possível que isso aconteça. Pego minha arma, a destravo e miro em Josefina.
— Você não quer contribuir comigo…
— Ela .. foi de carro para a rodovia..
— Rodovia? — questiono. — Não me passaram nem uma compra feita por Zafira, tudo que faz é monitorado por mim.
Ela abaixa a cabeça e começa a chorar.
— Você deu passagem para ela? — ela nega balançando a cabeça. — Responda!
— Sim eu dei, ela estava tão apavorada quando soube de você que ia voltar, fiquei com pena e ofereci ajuda.. ela sofre muito, e tem o Lael… — se explica, querendo justificar a bosta que fez.
E mais uma vez ouço esse nome, se for o que penso, os dois vão morrer queimados. Depôs acabo de vez com a família Mendonça.
— Obrigado, Josefina!
Por um segundo ela respirou aliviada, e depois caiu sobre o chão, sujando a mármore branca com sangue. Um tiro certeira em seu peito.
— Se eu não conseguir alcançar Zafira, vocês dois estão mortos! — aviso.
— Vou cuidar desse cadáver, Almonte — diz Bruno.
Hora de cobrar uns favores, ligo direto para a federal, ela não pode estar muito longe.
ZAFIRA — NARRANDO
Olho a todo instante pelo espelho do carro, observando se estou sendo seguida, Lorenzo não pode me encontrar, ele pensa que já tentei fugir uma vez, o que não aconteceu, tudo foi um engano.
Lael dorme tranquilamente na cadeirinha, meu pequeno não faz ideia do que está acontecendo. Devia estar na rodoviária, mas me atrasei acalentando Lael que começou a chorar de repente, somente depois que dormiu que continuei. Não peguei roupas nem nada em casa, Lorenzo poderia estar lá me esperando, só me arrisquei a pegar o carro.
Piso bruscamente no freio ao ver várias viaturas no meio da pista, o que há com a polícia federal? Sou obrigada a descer do carro, quando faço meu corpo paralisa vendo Pedro o chefe da guarda vindo em minha direção. Ele é amigo de Lorenzo.
•Lembranças•
— Os declaro marido e mulher, pode beijá-la meu filho!
Declara o padre, selando a continuidade do meu inferno, a sentença dura que é agora ser esposa desse homem. Seus lábios exigentes atacam os meus, um beijo desnecessário por haver várias pessoas nos olhando, um selinho é o suficiente, mas como sempre Lorenzo mostrando sua possessividade.
— Parabéns Almonte, conseguiu conquistar a mulher mais linda de Águazul! — o homem fardado elogia.
— Obrigado Pedro! — agradeceu, deram um aperto de mão. — Só não fique encarando minha esposa, se não vou ter que arrancar seus olhos cor de bosta semelhantes a do cavalo que uso na minha fazendo.
•Momento atual•
— Senhora, Almonte! — diz e puxa minha mão e a beija, eu logo a puxo. — Sempre tão linda, continua a mesma, Zafira.
— Porque está bloqueando a rua? — pergunto.
— Recebi ordens para fazer isso — diz.
— Eu preciso passar, tenho um compromisso.
Ele sorrir, ajeita sua farda no corpo fingindo limpá-la e volta a me encarar, seus olhos azuis são chamativos, pele morena clara é um homem de poste bonito, entretanto é tão podre quanto Lorenzo quando abre a boca.
— Não posso fazer nada — diz.
— Vai recusar o pedido da mulher de Lorenzo Almonte? — digo tentando o persuadir.
— Não farei isso justamente para agradar ao Almonte — diz rindo cinicamente com certeza da minha expressão de desespero.
Sem trocar mais palavra alguma com Pedro, entro no carro sentindo terror, Lael ainda dorme, penso em alguma saída para nós dois, mas nada veem em minha mente além de coisas horríveis. Choro em silêncio.
Minutos se passaram, falhei na tentativa de voltar para Águazul e contornar a situação, mas ainda tinha Lael, o maior medo que sentia não era por mim e sim por meu filho, a reação de Lorenzo ao descobrir que basicamente escondi a existência do seu filho. Será que ele quer ser pai?
Me assusto ao ver Pedro batendo na janela do carro, descansava minha cabeça no volante. Hesitante sair do carro, antevendo Lael.
— O que quer Pedro?
— Não quero nada senhora, mas seu marido com certeza quer uma excelente explicação.
Apontou para trás de mim, virei imediatamente. Fechei meus olhos orando para que fosse só mais um maldito pesadelo, aversada pela figura a pouca distância de mim, sairia correndo se meu filho não estivesse dentro do carro.
— Justo hoje que planejava uma noite romântica, você resolve fugir, Zafira — seu tom de voz é horripilante.
— Por favor! Me deixe… — sussurrei.
Abrir meus olhos. Ele sempre com a expressão dura, fria no rosto, sem esboçar bondade alguma, ele parecia maior que antes, mais forte e cruel. Sua mandíbula trincou, ao vim se aproximando de mim, dando passos furiosos. Pedro e sua tropa se atentaram em dar caminho para os demais carros que residiam ainda aqui, eles foram passando pelos lados.
Apavorada abrir a porta do carro para tentar fugir, mas não consegui concluir o que minha mente planejou, meu braço foi puxado abruptamente por Lorenzo.
— Quer salvar a porra do teu amante, Zafira? — bradou, me empurrando para longe do carro, resultando em um desequilíbrio em minhas pernas trêmulas.
Cair na rua. Me encolhi apavorada que me batesse, mas ele somente me pegou pela parte da nuca, machucando meu couro. O som do choro de Lael tirou sua atenção de mim.
Levantei rapidamente para o impedir de abrir a porta do carro, mas Tânia veio me segurar.
— Não faça mal a ele, por favor! — pedir.
Debati-me para que minha mãe me soltasse, Lorenzo abriu a porta de trás,
onde meu bebê estava, meu coração parou por uns minutos vendo arma em sua mão.
— Que porra! — bravejou, saiu do carro segurando-o nos braços.
Meu coração martelava dentro do meu peito, Lorenzo guardou sua arma e ajeitou Lael, e me olhou com ódio, se conseguisse me mataria dessa forma.
— Esse é Lael, Lorenzo — diz minha mãe. — Não é o amante de Zafira, mas sim o filho lindo de vocês dois, meu neto.
— Cala a porra da boca! — pegou novamente seu arma e apontou para nós duas. — As duas vão sofrer, você, Tânia, por não fazer o que mandei que era para cuidar que Zafira ficasse na linha fazendo tudo direito. E você minha linda esposa por tentar novamente fugir de mim e principalmente por OUSAR ESCONDER MEU FILHO!
— Lorenzo, me dê Lael — pedi chorando, o que importava agora não eram suas ameaças e sim meu filho.
— Não vai tocar nele, vai ter que fazer por merecer Zafira. Voltei para casa e vou colocar ordem nessa porra!