Capítulo 3.2
Entro no seu luxuoso carro, e ele dá a volta para o lado do motorista, saindo do prédio, fico olhando a paisagem para não ficar mais nervosa do que estou, tudo fica em total silêncio, não me contendo com tamanha curiosidade. Carlota havia sido muito paciente comigo, me ensinou várias coisas sobre a organização da secretaria de Ferrari e até então não foi nada tão complicado que me fizesse ficar nervosa como estava agora ao lado de meu chefe.
Encaro pelo canto dos olhos o seu maxilar travado enquanto olha para a estrada. Nunca em minha vida conheci alguém tão agradável aos olhos. Sou madura o suficiente para não confundir as coisas, tenho certeza absoluta que um homem como ele jamais teria olhos para uma garota como eu. Enquanto ele dirigia carros esportivos, eu era espremida no transporte público. Enquanto ele deveria dormir com várias mulheres, eu estava descobrindo agora como era realmente estar perto de alguém do sexo masculino. Era enervante, mas instigante.
Olho disfarçadamente para as suas mãos em volta do volante, ele o aperta com um pouco de força, deixando à mostra as suas veias. Por um momento imagino qual seria a textura delas na pele… Como seria ser afagada por aquelas mãos… Elas são tão grandes... Oh, céus o que estou pensando? Isso nunca me aconteceu, nunca tive esse tipo de comportamento. Estou me sentindo uma depravada, quase como o homem da banca! Eu tinha de me conter, preciso respeitá-lo. E se ele for casado, ou tiver uma namorada?
Também não vejo resquícios de uma aliança em seu dedo, porém isso não significa que ele não tenha alguma mulher. Uma perfeita encarnação de Apolo como aquela era impossível que estivesse sozinho.
Quando chegamos ao restaurante, fico com receio pois está vazio, não há clientes, apenas um garçom, e assim que sentamos na mesa fazemos nosso pedido. Fico sem jeito de comer na frente de alguém tão importante, além do mais, posso sentir seu olhar queimar minha pele, pois desde quando nos sentamos o sr. Ferrari não tira seus olhos de mim, e de repente, fala:
— Não sou de enrolação, então vou direto ao assunto, Srta. Violleta. — Levo um susto quando ouço seu tom de voz bem mais grave que dê horas atrás. — O contrato que você preferiu não ler antes de assinar não era referente a um emprego na firma.
Engasgo com o suco que bebia. Ele deve está caçoando de mim, não está falando sério, visto que ele continue impotente, com ar de poder e confiança, indago:
— Como é?
— Era um contrato de casamento.
Era como se eu tivesse sido pega de surpresa por uma avalanche, e coisas assim eram impossíveis. Minha mente estava em negação.
— O senhor está brincando comigo? — pergunto ainda tentando parecer jovial esperando que não passasse de um absurdo.
— Não, não estou.
— Deve ter algum engano, pois não estou à procura de um casamento, se assinei aqueles documentos foi porque pensei que fossem cláusulas que falavam sobre o emprego, sr. Ferrari — digo pronta para me retirar da mesa, mas ele segura meu pulso com força.
— Você não entendeu, senhorita, mas eu vou lhe explicar melhor... — Ele faz um sinal com a mão, e no mesmo momento vejo, entrar no restaurante, homens fortemente armados. Fico trêmula por não entender o que está acontecendo. — Acho que não fomos formalmente apresentados, e como já tenho sua assinatura posso contar judicialmente com sua… discrição.
Fico estática olhando aqueles homens enormes preencherem o estabelecimento vazio. Onde foi que me meti? O que está havendo?
— Sou Ettore Ferrari.
O nome não me é nem um pouco familiar e ao perceber isso, ele solta um suspiro aborrecido.
— As notícias não chegavam no seu orfanato? — indagou retoricamente.
— Como sabe que eu… ?
— Eu sei muito sobre você, Violleta, mas o que me deixa intrigado é, na verdade, não saber nada.
Fecho meus punhos para conter o tremor nas mãos, tudo em volta indica perigo. Quero correr, fugir, mas a porta parece estar do outro lado do mundo com dois cães armados de terno guardando-a. Um dos homens entrega um envelope amarelo para Ettore sobre seu ombro e ele o pega sem deixar de olhar para mim largando-o sobre a mesa.
— Você não tem sobrenome, não tem raízes… Tem o nome comum de um orfanato no meio do nada e quer que eu acredite que chegou até aqui por coincidência?
— O senhor me trouxe aqui para me humilhar?
— Quieta, eu não terminei. — Ele me corta sem nenhuma delicadeza. — Você não tem para onde voltar, e não tem o que perder. Sabe o que isso parece, menina?
— Sei sim, que estou desesperada, mas a julgar pelo circo armado aqui chego à conclusão de que nenhum desespero no mundo vale isso! Passar bem, sr. Ferrari, seja lá quem você for! — Levanto-me pronta para ir embora e nunca mais chegar perto dele, meu corpo inteiro vibra de adrenalina e terror, e tudo isso se intensifica quando dois dos homens me agarram e me forçam a sentar novamente na cadeira. Sinto as lágrimas ameaçarem cair, minha garganta arder.
— Você não tem nada além dessa sua maldita beleza, Violetta — sussurrou ele. — Você sendo ou não espiã da Camorra, dos sicilianos ou da polícia, eu vou me aproveitar disso. Se for dos Petrov, ah, será o começo do seu fim.
Ele falava comigo como se eu fizesse alguma ideia do que ele estava se referindo, como se eu soubesse do que se trata!
— Camorra? Petrov? Mas do que é que você está falando?!
Ele apenas se recostou à cadeira tirando um grosso charuto do bolso, acendendo-o sem a menor pressa sob meu olhar aterrorizado e confuso. A fumaça subiu sinuosa entre nós, e senti um frio em minha barriga quando vi a escuridão em seu olhar, percebi que apesar de não saber do que aquilo se tratava, eu estava na presença de um homem extremamente perigoso.
— Sou Ettore Ferrari, como já disse. — Mais fumaça subiu. — Bem-vinda à ‘Ndrangheta, bella mia.
Dio mio, o que está acontecendo?
Imediatamente fico de pé novamente, meu corpo reagindo inconsciente para se preservar, e todos apontam suas armas para mim. Ettore, com um pequeno aceno, pede para irem baixando. Ele se levanta, e se aproxima de mim só então evidenciando o quanto era grande. Seu dedo pousa sobre minha face, seus olhos percorrem meu rosto com raiva e apreciação misturados, sinto minhas pernas fraquejarem. Sem muita paciência, e com brutalidade me puxa pelos cabelos. Fico em choque, totalmente imóvel com a respiração dele soprando sobre minha boca e a dor na raiz dos fios. Um homem não deveria tratar uma mulher com tal agressividade. Solto gemidos de dor, quando o seu aperto aumenta.
— Agora mesmo vamos passar pelo seu apartamento, para pegar alguns pertences que você queira levar. — Sua voz era calma, mas todo o conjunto daquela situação a fazia ficar ainda mais assustadora. — Hoje mesmo você se muda para minha casa.
Ainda com sua mão em volta do meu cabelo, saí me arrastando para fora do restaurante me jogando dentro do carro sem cuidado algum, fazendo-me bater a cabeça na porta do carro, como se eu fosse um saco de lixo sem importância.
Sem conseguir mais segurar o choro — que até agora estava guardado —, deixei que saísse de uma vez. O silêncio dentro do carro só era quebrado por meus soluços e tudo o que eu queria era que alguma coisa magicamente acontecesse que me possibilitasse de fugir dali.
— Poupe suas lágrimas, você ainda nem viu nada, querida. Aconselho que você guarde isso para depois. — Para o meu desespero ele prontifica.
Lembro-me perfeitamente das palavras da cozinheira do orfanato, seu último conselho como um aviso sutil.
“Sua beleza sem cautela pode acabar sendo sua ruína, querida”.
Fico sem conseguir acreditar na realidade dos fatos, estou sendo levada contra minha vontade, e mesmo estando tão pouco tempo com esse ser diabólico, posso afirmar que meu pesadelo apenas começou