Capítulo 3.1
VIOLLETA
Quando termino de acertar tudo naquela tarde, saio para um passeio na empresa para conhecer melhor o ambiente onde trabalharei. Optei por não ler o contrato, pois não estava em condições de reclamar ou exigir alguma coisa, estou precisando do dinheiro o quanto antes, caso contrário serei despejada ou pior.
Estou muito cansada, Carlota não deu trégua me fazendo andar por horas, mostrando cada canto dessa empresa. Por último, o sr. Ferrari me convidou para almoçar para falar sobre os termos que continham no contrato, me senti envergonhada por ter mostrado meu total desespero para a vaga de emprego, desse modo ele pensaria que estou desesperada, mas, é exatamente esse o caso, eu estou mesmo.
Na manhã seguinte, antes mesmo do despertador tocar, quando o sol ainda não mostrava os seus primeiros raios, me levantei ansiosa com a bendita entrevista. Queria impressionar o meu possível chefe, mas isso seria imprevisível por ser minha primeira vez, então nem sei ao certo o que fazer ou dizer. Porém, tenho uma certeza em mente, quero dar o meu melhor, impressionando-o com minha eficiência, qual pretendo me destacar profissionalmente e ao menos assegurar minha próxima semana de sobrevivência.
Antecipadamente vou ao banheiro iniciando meu banho, em seguida faço minha higiene da melhor maneira que posso. Antes de me vestir vou até a cozinha, e preparo um café bem rapidinho para beber antes de sair. Enquanto a água ferve, volto para o quarto apanhando o vestido branco que escolhi na noite anterior. Ele é bastante justo ao meu corpo; gostei dele pois apesar de marcar demais, ele não tem decote, deixando um ar de elegância e nada vulgar. Não quero causar as impressões erradas.
Termino de me vestir, depois volto para a cozinha para finalizar o café. Assim que me delicio de alguns goles da bebida energética, guardo tudo no seu devido lugar, para então partir. Quando percebi já estava mais que na hora de sair de casa, para completar os ônibus estavam demorando para chegar.
Maldito azar.
O coletivo chegou alguns minutos a mais do suposto e com esse trânsito lento nunca chegaria a tempo na entrevista. Como já estava perto das Empresas Ferrari resolvi descer, pronta para caminhar um quarteirão com saltos de quinze centímetros, e foi exatamente isso que fiz, e exatamente às sete e cinquenta e cinco entro — às pressas — no hall enorme e luxuoso que havia visitado ontem. Depois que me identifico na entrada, Carlota me conduz apressada para dentro do elevador, pois eu já estava atrasada para a entrevista, e ela deixou bem claro que o chefe não tolera atrasos.
Péssima primeira impressão, eu já estava ficando preocupada.
Depois que sou anunciada, Carlota me dá passagem para entrar na sala. Devido o nervosismo me obrigo a caminhar, tento fazer o mínimo de barulho quando fecho a porta atrás de mim. Levanto o meu olhar, ao fundo vejo o homem que poderá me contratar como sua secretária, de costas olhando a paisagem pela a janela de sua sala.
Estando tão desesperada em aceitar o emprego mal tinha reparado no homem. Agora que tinha aqueles segundos para apreciá-lo percebi que deveria ter feito isso antes. O terno marca a extensão de seus ombros fortes e largos, suas pernas são bem torneadas evidenciadas pelo tecido sob medida. Sua postura é bonita, altiva, e ele fica muito bem contra os tons acinzentados com o verde das árvores do parque à distância. Era como se ele fosse feito especialmente para ocupar aquela sala, para ocupar o topo do mundo.
Era de uma beleza um tanto intimidadora.
— Bom dia, sr. Ferrari.
— Bom dia, srta. Santi — cumprimenta, virando-se. Seu olhar percorre meu corpo como no dia anterior, e por um segundo me arrependo de ter escolhido aquele vestido ao invés do mesmo de ontem que marcava bem menos. — Você parece bem esta manhã.
— Eu estou. É bom acordar sabendo que não vou morrer de fome na semana seguinte — digo e imediatamente me arrependo de novo. Não é adequado falar aquele tipo de coisa para um chefe! E mesmo assim, o sr. Ferrari me oferece um sorrisinho de canto muito divertido.
— É bastante curioso ouvi-la dizer isso. — Sem saber se devo questionar, decido por ficar em silêncio, então ele novamente fala. — Eu quero ter certeza de que você está consciente de como as coisas funcionam por aqui, não será um trabalho simples, pode exigir… grande parte do seu tempo.
— Senhor Ferrari, não precisa tentar me assustar — digo com um sorriso gentil. — Eu tenho uma boa ideia de como é e não me importaria nem um pouco de ter o que fazer durante um dia tão longo.
O sorriso dele se abre um pouco mais, como se eu tivesse contado alguma piada ou ironia interna que só ele conhecia, isso me deixou um pouco apreensiva, porém se eu quisesse alguns trocados para sobreviver teria que dançar conforme a música.
— Nosso almoço ainda está de pé? — pergunta colocando as mãos nos bolsos. Ele fica menos assustador com a postura mais relaxada.
— Claro, sr. Ferrari.
— Muito bem, então. Carlota irá te instruir agora pela manhã com o básico, e durante o almoço eu irei te instruir com o “intensivo”, se é que posso chamar assim.
Por que parece que não estamos falando da mesma coisa?
— Estou aqui para aprender, senhor — respondo o mais polida e agradavelmente possível.