Capítulo 3.3
Ettore sobe pessoalmente comigo ao apartamento e somos escoltados por dois homens de preto até a porta descascada do meu dormitório. Percebo o olhar enfadado dele pela mobília simples e até mesmo sobre as coisas que comprei com tanto apreço para fazer daquele pequeno quarto um lar.
— Você vai esquecer desse buraco de ratos tão rápido quanto pisou aqui — comenta esparramado sobre uma cadeira frágil que quase sumia por seu tamanho. Apenas devolvi o dito com um olhar fuzilante ao passo que enfiava meus poucos pertences na mesma mala que trouxe.
Olho rapidamente pela janela e penso se seria bem-sucedida se pulasse dela e corresse o mais rápido que pudesse para qualquer lugar. Talvez de volta para o orfanato, ou para baixo de qualquer ponte da cidade onde pudesse me misturar aos mendigos até que Ettore Ferrari esquecesse de minha existência.
— Eu não sou uma espiã — digo em voz alta, mais para mim.
— Claro que não é — responde ele, mas vejo o lapso de descrença em seu olhar.
Quando tudo já está pronto saímos do apartamento, Ettore mais uma vez me joga dentro do carro, durante o caminho para o destino que me aguarda, já pensei várias vezes, em abrir a porta e me jogar para ver se tinha alguma chance de escapar, mas quando me lembro dos homens armados, logo esse pensamento cai por terra. Se não morresse com a queda, seria com uma bala na cabeça.
Olhando a paisagem com lágrimas nos olhos, mal pude perceber que tínhamos chegado tão longe da cidade, estamos em um lugar cheio de árvores, de longe posso ver um lago, entramos em uma trilha de pedras com flores bonitas, mais à frente consigo ver um grande portão, com um muro extremamente alto, com cabines e homens armados, quando chegamos mais perto os portões são abertos, e quando passamos pelas muralhas de concreto, posso contemplar um lindo jardim com flores de todos os tipos, bem no centro tem um linda fonte jorrando água, tudo se completa com a linda mansão.
— Vai descer ou vai querer que eu te tire daí? — Mal pude perceber que o carro já tinha estacionado.
— Tenho minhas próprias pernas! — digo saindo do carro. Ettore me olha feio, mas não diz nada, um dos homens pega minha pequena bolsa, enquanto ele vai na frente, me deixando para trás. Outro capanga de terno me segura fortemente pelo braço, me conduzindo para o interior da casa.
Não consigo parar de admirar a beleza desse lugar, se fosse em outras circunstâncias, com toda certeza, ficaria muito feliz por conhecer um lugar tão bonito como esse, a linda mansão e seu encantado jardim. Porém só conseguia pensar se aquela casa seria minha gaiola de ouro ou meu matadouro.
Ettore abre a porta, e quando passo por ela fico morta de vergonha, pois vejo pessoas que devem ser sua família, todos me olhando. Há uma menina de cabelos escuros que parece ter a mesma idade que a minha, também um rapaz muito bonito que se parece muito com Ettore, provavelmente seu irmão, e a mulher loira e mais velha deve ser sua mãe, em um canto mais afastado, vejo um homem bebendo alguma coisa. O formato do rosto é idêntico ao de Ettore, como uma versão mais velha e experiente dele, com certeza é seu pai.
— Olá, me chamo Bianca, sou a irmã mais nova de Ettore! — A menina vem até mim se apresenta, mas não falo nada. Ela está sorrindo gentil, enquanto eu estou prestes a desmaiar de medo. — É um imenso prazer conhecê-la.
Não consigo responder.
— Olá querida, sou Sandra, a mãe de Ettore, aquele ali é Pietro, irmão dele, e ali no canto, é Domenico, o pai. — A senhora diz, enquanto aponta para cada um. Fico pensando se todos são doidos, ou se não sabem que estou aqui contra minha vontade. — Parece que finalmente acertou na escolha, querido, ela é realmente muito agradável aos olhos.
Sua expressão não muda. Está carrancudo, fechado. Encaro a todos num pedido silencioso de ajuda, mas nenhum deles parece entender, e se o fazem, ignoram com perfeição.
— Vamos Violleta, terá a vida toda para conhecer a famiglia, vou lhe mostrar onde vai ficar.
— Querido — chama a mãe —, se quer fazer isso logo, teremos que resolver as festividades. Não podemos casar o herdeiro e não contar a ninguém…
— Mais tarde, mamma.
Não tenho tempo de contestar, Ettore agarra o meu braço, me puxando rumo às escadas, todos ficam olhando a cena, mas ninguém diz uma palavra! Passamos por vários corredores até chegar em uma porta dupla, poderia facilmente me perder aqui, quando passo por elas há mais um corredor, e no final dele, Ettore abre uma porta me jogando em cima da cama no centro do cômodo.
Era enorme e macia, coberta por seda e tecidos finos, mas me senti como um saco de batatas, literalmente largado sobre eles.
— Na primeira oportunidade que eu tiver, eu fujo. Quando você desviar o olhar, eu não vou mais estar aqui. — Atrevo-me a dizer, mas assim que termino de falar, Ettore me agarra pelo pescoço, levando-me até a parede, apertando com toda força, me deixando sem ar.
— Ah é? — ameaça ele. — O que você acha que vai acontecer se você tentar fugir? Hein? Você acha que vão te dar um tiro na cara e acabou por aí? Você deveria saber que assim que tentar sair daqui sem a minha permissão, sua morte vai começar e vai durar por muito, muito tempo.
Arranho seu braço numa tentativa de que ele me solte, mas é em vão, pois ele aperta com mais força. Meus pés estão suspensos do chão, estou sufocando e minhas lágrimas molham sua mão, mas Ettore parece não se importar, e apenas quando estou perto de perder a consciência ele me solta, e sem forças, caio no chão. Ele me puxa pelo cabelo, encostando a boca em meu ouvido e falando:
— Se por acaso ousar me contrariar de novo será o seu fim, está me ouvindo? — Não tenho forças para responder, então apenas balanço minha cabeça, confirmando sua pergunta. — Muito bem, não foi tão difícil, agora você vai ficar aqui sem sair desse quarto, assim a ragazza pensa nas consequências da sua afronta.
Ele me larga, e mais uma vez vou de encontro ao chão frio. Sem ter forças para caminhar, vou me arrastando até a cama, pego o travesseiro e me aconchego nele. Meu pescoço dói, ainda posso sentir suas mão em volta, me apertando. Não foi assim que as imaginei sobre mim.
Entre as lágrimas e soluços, fecho meus olhos, para fugir deste terrível pesadelo, mas, quando abro novamente, caio na triste realidade. Isso aqui não é um pesadelo, é muito pior, estou no inferno sem ao menos merecer estar nele.