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5

ANGELINA

O olhar duro e determinado que a supervisora dá para Laura me faz tremer de medo dos pés à cabeça, e eu sei que ela também fica com um pouco também, mas minha fiel amiga não arrasta o pé do lado do meu lado, enquanto eu não digo através do olhar que está tudo bem e que ela pode ir. Mesmo que eu sinta dentro de mim que há alguma coisa errada acontecendo no ar, não deixo que ela perceba isso, pois não quero que continue aqui por ser teimosa e cabeça dura demais, e com isso acabe arrumando mais problemas quando não deve. Só de não ser nenhuma treta relacionada com nossa professora bruxa, eu já fico menos nervosa, por saber que não será dessa vez que vão conseguir expulsar Laura da escola.

Apesar do olhar desconfiado de uma menina que tem apenas quinze anos de idade, mas a mesma esperteza de uma de vinte, entre as duas pessoas mais velhas do que nós, Laura sai arrastando os pés para fora da salinha abafada com bastante má vontade e lerdeza, como se não quisesse me deixar sozinha com aqueles dois ali. Mas o que eles poderiam me fazer de tão mal dentro de uma escola? Nada demais, é o que eu penso em minha de forma silenciosa.

-Eu vou deixar o senhor conversando com a menina sós. Leve o tempo que precisar, ela já não estava em aula mesmo, então não irá fazer diferença.

A supervisora diz com um tom de voz totalmente diferente de como havia falado comigo e com Laura há alguns minutos atrás, ou qualquer outra pessoa que já tenha falado na vida. A altura de suas palavras era baixa e extremamente respeitosa, como se ela estivesse falando com alguém muito importante ou com uma pessoa de quem ela tivesse medo. Mas quem é esse homem para que, até uma das mulheres mais bravas da escola, abaixe a cabeça para ele desse modo?

-Eu não vou demorar de qualquer forma. Só vou dizer o que tenho para dizer e meter o pé logo desse inferno, por que isso daqui quente para desgraçar.

Ele balança os ombros com descaso e aponta a cabeça em direção a porta, em um recado silencioso para que ela deixe o local imediatamente. E surpreendentemente a supervisora casca grossa o obedece sem nem titubear, ela some das nossas vistas no mesmo segundo feito fumaça. Caramba... isso foi muito sinistro! Eu penso na mesma hora.

Agora resta apenas nós dois dentro da sala. Eu permaneço quieta, observando o cara da mesma forma que ele também me olha de volta, porém em seu rosto há algo a mais, tipo uma máscara de frieza e até mesmo acho que de raiva, como se ele estivesse muito bravo comigo, mesmo que eu não saiba o motivo para isso.

O que será que ele deve estar pensando nesse momento? O que foi que eu fiz a esse estranho, para que ele queira falar comigo agora? Essas e um monte de outras perguntas rodam e giram sem parar em meu cérebro, me deixando bastante curiosa e com certo receio de saber o que ele quer comigo.

-Olha, eu não tenho um pingo de paciência para perder tempo contando historinhas para entreter crianças, ok? Até porque eu já tô de saco cheio de ter que ficar correndo de um lado para o outro, me escondendo por causa de um erro que o idiota do seu pai cometeu e que agora respingou até para o meu lado.

O homem cospe irritado, como se eu soubesse do que ele está falando, porém eu não entendo nada. Não faço a menor ideia... De que erro ele está falando que o meu pai cometeu?

-Se o burro do meu irmão não tivesse juntado os trapos com aquela cadela interesseira da sua mãe, apenas por que ela ficou grávida de você, ele não teria sido burro o bastante e ficado ganancioso com o decorrer dos anos, ao ponto de mexer com um negócio que ele nunca levou jeito. Mas agora a merda já tá feita e não tem mais conserto.

O homem de meia idade, com uma aparência de ter uns quarenta e poucos anos, fala com a voz ofegante e cansada, parecendo exausto de tanto tocar nesse assunto, ao mesmo tempo em que passa a mão sobre a careca brilhante e suada por várias vezes com gestos ansiosos, como se estivesse quase à beira de uma explosão de nervos a qualquer instante.

-Ele sabia muito bem das regras antes de entrar nessa furada... vacilão morre cedo aqui no morro Paraíso. E X9, dedo duro, é queimado no meio dos pneus lá em cima na gruta pra todo mundo ver e servir de exemplo pra não repetir a dose.

-O-o que...

-O Atroz acabou de mandar executar teus pais, menina. Vê se acorda! E ele não tava errado não. Teu pai além de perder grande parte da mercadoria que devia entregar, que custava uma grana pesada, ainda por cima dedurou todo o esquema pros "homens" lá de baixo.

-N-não...

-E tua mãe foi junto porque sabia de tudo, é claro. Então eles botaram fogo nos dois no meio de uma pilha de pneus, mais ou menos há umas duas horas atrás.

-Não pode ser...

-Acredite ou não essa é toda a verdade, mesmo que você não goste criatura. Seus estão mortos pirralha. E o pior é que os capangas do Atroz logo depois da execução foram atrás de mim, e mandaram eu me virar pra cuidar da fedelha da minha sobrinha de doze anos, que eu nunca tinha visto antes na vida, senão iriam meter uma bala na minha cabeça se eu não lidasse com o problema sem envolver o conselho tutelar nisso.

Minha mente está em choque e eu não consigo pensar ou dizer nada além da palavra não repetidamente dentro da minha cabeça. Isso não está acontecendo... não pode ser verdade... Não! Meus pais não estão mortos... eles não podem me deixar assim....

-Eu não posso mais fugir ou tentar desobedecer às ordens que vieram de cima senão perco a cabeça. Então agora eu vou ter que bancar a droga da babá e cuidar de uma criança esquisita que eu nem conheço direito. Por isso ouça com bastante atenção ao que eu vou te dizer agora sua pirralha, se eu estou sendo obrigado a ter que te abrigar debaixo do meu teto, é melhor você ficar muito esperta e não me tirar do sério, pois senão... o bicho vai pegar para o teu lado!

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