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ANGELINA

-Acho bom mesmo as duas pirralhas nojentas e fedidas darem o fora daqui! Pois na minha sala de aula não entra esse tipinho de gente...

A professora cospe em tom furioso mais uma ofensa as nossas costas, como se não bastasse as que já fez até agora, e imediatamente eu sinto Laura vibrar de tanto ódio e raiva ao meu lado, como se fosse explodir feito uma bomba a qualquer segundo, e louca para voltar aonde a gente tinha deixado a professora para trás, há alguns segundos, e quebrar as pernas dela no pau.

-Amiga, esquece ela, ok? Não vale a pena correr o risco de ser expulsa por pouca coisa.

-Eu sei... mas isso é tão... é tão frustrante, Angelina. Ter que ficar me segurando para não voar naquela cara horrorosa de mocréia dessa quatro olhos! Porque você sabe muito bem como eu gosto de resolver as coisas...

-Tudo na base da pancadaria e da porrada, né dona barraqueira?

Ela resmunga contrariada e eu a respondo com uma piada, que também não deixa de ser verdade, fazendo com que ela role os olhos com descaso, mas ria logo em seguida, com o ar menos pesado e tenso, por termos já nos afastado da sala de aula onde deveríamos estar agora.

-Você sabe que é mais forte do que eu essa necessidade que existe dentro de mim, amiga.

Ela brinca bagunçando meus cabelos e puxa de leve uma mecha dele para me provocar.

-Além do mais, foi assim que eu aprendi desde pequena a me defender e as pessoas que com quem eu me importo também nessa vida, principalmente umas baixinhas muito lentas que não sabem abrir a boca para responder a altura quando alguém a ofende ou a agride.

Laura dá de ombros e eu concordo com um balançar de cabeça para cima e para baixo, sabendo que a indireta que ela lançou no ar foi exclusivamente para mim, pois eu nunca fui uma pessoa de responder mal a ninguém, e muito menos de partir para a agressão nas diversas vezes em que precisava fazer isso. Mas minha amiga me conhece muito bem e sabe do que está falando, se não ela não estiver por perto para me proteger ou me ajudar do jeito durão e casca grossa que é, então eu estou perdida sem saber como agir e ou que falar diante de uma situação de perigo ou risco para mim mesma.

-Você é a melhor amiga que existe no mundo, Laura. Eu sei que não sou muito forte como você, ou tão rápida, ou até mesmo inteligente da mesma maneira, mas eu quero que você saiba que eu sempre vou fazer qualquer coisa que eu puder por você. Não importa o que, você sempre estará em primeiro lugar no meu coração, como a irmã que eu sempre sonhei em ter na minha vida, está bem?

Eu digo estendendo o dedo mindinho em sua direção, Laura para de andar ao meu lado de repente e me encara por alguns segundos com a boca apertada em uma linha fina e firme, e em seguida, vejo seus olhos de um castanho cor de mel um pouco mais escuro que os meus, ficarem vermelhos e se encherem de lágrimas como se ela estivesse segurando o choro nessa hora por causa das palavras que acabo de lhe dizer.

-Você é uma menininha muito emocionada, Angelina. Fica dizendo essas coisas cheias de sentimentos como se fosse morrer amanhã, ou como se estivesse se despedindo das pessoas a sua volta. Você tá doente por acaso ou vai mudar de cidade?

Laura me alfineta com uma risadinha sem graça e provocativa, para tentar disfarçar que ficou tocada com a minha promessa, mas eu não desisto de esperar por sua resposta. Mesmo que ela demore o tempo que for preciso, eu quero ouvir a resposta saindo de sua boca em voz alta. Afinal de contas, nós duas não somos pessoas estranhas uma para a outra. Nós somos melhores amigas há muitos anos, somos almas gêmeas uma da outra, e a pessoa que sempre procuramos para contar nossos segredos todos os dias... Então ela não tem que ter vergonha de falar comigo.

-Laura?

-Tá, tá bem sua chata! Eu sei que você é uma pessoa de coração muito puro e ingênuo às vezes, mas também é minha melhor amiga. E eu vou tentar ser uma boa amiga para você também, sua bobinha. Por que você só tem a mim para te proteger e ensinar as coisas, mesmo.

Ela zomba e ri, como se não se importasse, mas sei que não é verdade. Então Laura estende seu dedo mindinho em direção ao meu e o entrelaça para concretizar a promessa de amizade.

-Angelina! Venha aqui agora, menina!

Pulo de susto quando ouço a voz da supervisora da escola chamando meu nome as minhas costas, e imediatamente me viro na direção de onde vem a sua voz, para encontrá-la fazendo um sinal com a mão para que eu siga os seus passos pelo mesmo percurso.

-Eita... será que a bruxa já foi fofocar lá na direção sobre a gente? Aff... Mas não é possível uma coisa dessas, que bosta Angelina. Mas que mulherinha mais linguaruda... Sabe, às vezes eu tenho uma imensa vontade de cortar aquela língua grande e venenosa dela fora no cerol.

Laura diz com uma risadinha maliciosa enquanto caminha ao meu lado seguindo pelo mesmo trajeto que a supervisora havia feito, e logo percebo que estamos indo para a diretoria. É, pelo visto Laura tem razão, nós estamos encrencadas dessa vez, é o que eu penso comigo mesma já pensando na grande broca que vamos levar da diretora, mesmo não merecendo. Porém eu não digo nada para protestar ou tentam me defender, apenas entro na sala meio abafado por causa do calor do sol quente da tarde, que é amenizado com a ajuda de um ventilador de teto barulhento e bambo, que está ligado na velocidade e gira sem parar acima das nossas cabeças.

Sem muita coragem para encarar a realidade e com medo de estar em apuros juntamente com Laura, vou levantando pouco a pouco os olhos em direção a mesa da diretora, porém, ao invés de encontrar a mulher mais velha e gordinha que sempre ocupa esse lugar, vejo somente a supervisora parada ao lado de um homem que me encara de braços cruzados sobre o peito e o ar bem sério no rosto.

-Laura, deixe os dois sozinhos. A conversa aqui é um assunto de família. Então por favor se retire imediatamente.

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