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3

ANGELINA

-Olha só para o estado em as duas porquinhas estão! Parece que acabaram de sair de um aterro sanitário, que horror! Não vou deixar nenhuma das duas entrarem na minha sala de aula desse jeito. Estão terrivelmente sujas e fedendo a suor de longe.

A professora nos repreende e por um momento tenho que segurar Laura pelo cotovelo para que ela não avance na frente da mulher, lhe acerte um belo soco na cara, e com isso acabe fazendo com que nós duas vá parar na sala da diretora para tomar mais uma advertência de alguns dias. E eu não desejo que isso aconteça com minha melhor amiga, e irmã do coração, e nem comigo mesma, pois não quero ter que ficar dois ou três dias em casa por ter recebido uma advertência muito injusta, pois quem está começando toda a confusão aqui é a nossa professora que não nos deixa entrar em sala de aula para estudar, e não Laura e eu.

Mas todo mundo sabe que quem irá ganhar a razão no final de toda essa história será a pobrezinha da professora que se faz de boa para todos os outros professores, e a boba da diretora que acredita cem por cento nela. Não é novidade alguma e a gente sabe muito bem disso, que a corda sempre arrebenta no lado mais fraco, que são os alunos, vítimas de uma situação preconceituosa de uma mulher que detesta a vida e o trabalho que tem. Mas que culpa as demais pessoas tem disso? Se ela é uma mulher infeliz com o que faz, então que peça demissão e suma logo das nossas vidas, e da nossa escola. Os alunos ficariam muito melhor sem as gritarias e grosserias que ela faz com todos no dia a dia durante a semana.

-Olha aqui sua mocréia de quatro olhos mal amada...

-Laura, não!

Minha amiga dá um passo a frente depois de se livrar da minha mão que segurava seu cotovelo, e aponta o dedo indicador dentro da cara da mulher, que recua um passo para trás, agora com um leve semblante de medo e surpresa na face diante da atitude um tanto arriscada da aluna que é alguns centímetros mais alta do que ela, e que sempre a deixou amedrontada.

-Amiga, não vale a pena discutir com ela. Vamos embora, por favor. Ela é nossa professora e isso vai dar um galho terrível e dos bravos para cima da gente depois.

-Mas eu não quero mesmo discutir com essa bruxa, amiga. Eu quero é dar umas boas bifas bem no meio da fuça dessa doida que está me provocando desde o início do ano.

Laura diz espumando de raiva por completo, ao mesmo tempo que não para de encarar dentro dos olhos escuros e arregalados da professora que parece uma anã baixinha perto da minha amiga, que é uma garota bem alta e forte, devido aos esportes que pratica diariamente no pátio meio esculhambado da escola.

-Amiga pensa comigo por um minuto, você sabe que ela vai inventar um monte de mentiras e não vai dar em nada para ela depois. Mas já para a gente que é aluna, e ninguém defende, as pessoas não vão acreditar no que a gente disser. Então deixa isso para lá e vamos embora daqui.

Eu peço fazendo Laura lembrar da realidade como ela é, ao mesmo tempo em puxo meio desesperada seu braço para trás, para tentar fazer com que ela desista dessa ideia maluca de socar o focinho da nossa professora rabugenta e mentirosa, por mais que eu também ache que ela mereça. E muito! Mas nem sempre podemos resolver todas as coisas do jeito que queremos na vida, então sobra para mim a tarefa de ter que ajudar minha amiga a não se deixar levar pelo nervosismo e pela provocação da mulher mais velha, para que nós duas não acabe em uma enrascada, uma armadilha preparada por essa bruxa de quatro olhos.

-Você nem queria ir para essa aula mesmo, lembra? Tá um calor da peste lá dentro, então a gente pode ficar dando uma volta por aí de bobeira nos corredores, até dá a hora de poder ir embora, o que acha?

Eu insisto mais uma vez, com uma gotinha de suor e receio correndo em um fio pela minha coluna, com medo de que ela ainda assim não escute o eu que estou lhe dizendo. Mas para a minha total surpresa, Laura apenas me olha de rabo de olho, como se estivesse segurando toda a raiva acumulada dentro dela, e estala a língua no céu da boca antes de continuar falando, mas sem abaixar a cabeça ou tom de voz na frente da mulher.

-Está bem, amiga... Você está certa. Eu sei o que essa doida tá tentando fazer ao me provocar desse jeito, mas não vou cair nesse joguinho idiota dela de novo. Eu sou esperta demais para ver que essa mocréia de quatro olhos está querendo me fazer ser expulsa dessa vez.

Ela resmunga contrariada e o rosto torcido de raiva e ódio ao entender o plano que a outra está armando para cima dela. Muita gente sabe que depois do último barraco que Laura teve há umas semanas atrás, ao sair na mão com um garoto do segundo ano do ensino médio que havia me xingado de uns nomes horríveis que eu nem gosto de lembrar, e ter quebrado um dente dele na porrada, quando descobriu o que tinha acontecido comigo, foi a maior treta que rolou para cima dela.

Os pais do moleque vieram com tudo para cima da diretora exigindo a punição máxima para a minha amiga, que havia apenas me defendido do ataque do idiota do filho deles. Mas felizmente ela não pôde expulsar Laura naquele dia devido as regras da escola, que eram claras e diziam que um aluno deveria ter pelo menos três advertências graves para poder ser expulso.

Então naquele dia, por minha causa, minha melhor amiga quase tinha sido chutada para fora da escola somente por me defender, entretanto, apenas ganhou uma advertência, a sua terceira, e agora estava no limite, quase a ponto de ser expulsa novamente. Contudo eu não posso deixar que isso aconteça de jeito nenhum.

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