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6

ANGELINA

Não, não, não... isso não pode ser verdade. Todas as palavras que esse homem estranho, esquisito e velho está me dizendo são apenas mentiras e mais mentiras para me enganar, porque ele acha que eu sou somente uma criança burra e idiota que não sabe de nada... mas eu sei sim! Ele está mentindo, inventando uma história sobre meus pais terem morrido só pra me assustar, mas eu não caio nessa!

-É mentira!

Eu grito desesperada e cheia de revolta por causa do absurdo que ele acaba de me dizer. Não aceito que ele continue falando um monte de bobagens sobre os meus pais que nem sabem que ele está aqui dizendo essas coisas para mim sem nenhum motivo.

-É tudo mentira sua, seu velho mentiroso e barrigudo! Meus pais nunca me dei...

Eu não consigo sequer terminar de falar a frase quando sinto o peso de uma enorme mão acertar minha bochecha esquerda com um tapa tão forte e rápido, que minha cabeça gira no mesmo instante fazendo com que eu perca o equilíbrio. Eu caio no chão de repente e um gosto amargo logo atinge minha língua. É sangue! Eu estou sangrando! É o que percebo quando levo uma mão até a altura da boca, e coloco os dedos sobre o cantinho esquerdo dos meus lábios que está ardendo muito. Seu tapa me machucou...

-Primeira lição que você precisa aprender, sua pirralha nojenta! Nunca... mas nunca mesmo... nunca levante sua voz quando falar comigo, está me entendendo?

O homem ruge em voz alta como um trovão, totalmente assustador e muito maior do que eu, quando se aproxima tão perto de mim, que posso sentir o cheiro de suor vindo dele bem perto do meu nariz.

-E a segunda lição que tem que saber, jamais me chame de mentiroso ou desobedeça às minhas ordens. Por que se isso se repetir novamente... saiba que será a última vez, pois este será o seu último dia respirando nessa terra, me escutou bem? Eu quebro o seu fino pescocinho se me desrespeitar dessa forma como acabou de fazer agora, pirralha. E eu não estou brincando!

Ele me ameaça como um louco, apontando um dedo dentro da minha cara e falando com a voz transtornada, cheia de ódio e rancor, pingando pura violência em cada sentença que pontua, enquanto balança as mãos no ar de modo veloz e agitado, como se estivesse fora de si ou usado alguma coisa para ficar estressado.

-Eu te fiz uma pergunta, sua idiota! Não é uma garota surda, então responda quando eu falar com você! Eu perguntei se você escutou as minhas regras e se entendeu tudo o que eu disse?

O homem volta a me encher de medo quando grita de novo comigo, querendo que eu resposta sua pergunta. Porém, eu estou tremendo de tanto pavor, pânico e terror, que não consigo formular pelo menos uma frase em minha cabeça confusa e perdida diante de tantas revelações, e tudo o que consigo fazer é apenas me encolher ainda mais no meu canto jogada no chão e gaguejar alguns sons que não fazem nenhum sentido ou lógica.

-E-eu... eu... eu...

-Você quer que abra a sua de um jeito mais fácil e rápido para poder me responder, pirralha?

-N-não... não.

-Então responda imediatamente o que te perguntei, garota burra!

-E-eu escutei... e... e entendi as regras, senhor. E-eu... juro!

Eu finalmente consigo dizer algumas palavras para o responder, pois estou morrendo de medo de levar mais um tapa violento de sua enorme mão de velho, enrugada e gorda, que está muito perto do meu rosto nesse momento, preparada para me bater outra vez se eu não fizer o que ele manda.

-Ótimo, isso é o que eu queria ouvir.

Ele resmunga enxugando o suor do rosto com as costas das mãos, enquanto se ergue no lugar, parecendo ficar muito maior do que eu, apenas uma menina pequena e magricela ajoelhada no chão. Tudo dentro de mim está tremendo. Eu sinto uma enorme dor em meu coração ao perceber pouco a pouco que esse homem realmente parece estar me dizendo a verdade. Meus pais não vão me buscar nunca mais na vida. Eles simplesmente me abandonaram e agora esse velho que eu jamais vi antes, e que diz que é o meu tio, irmão do meu pai, que vai ser a pessoa que vai me tirar da minha antiga casa e me levar para outra que eu nem sei onde fica, para morar com ele.

E isso me deixa terrivelmente apavorada e com uma grande vontade de sair correndo até minhas pernas arderem de tanto cansaço. Eu quero fugir para o lugar mais longe que existi no mundo, para alguma montanha ou algum buraco escondido onde ninguém possa me achar, e até que eu possa esquecer que meus pais morreram e que esse tal de Marcos não é a pessoa responsável por cuidar de mim a partir de agora.

Mas isso parece impossível, é o que eu concluo ao olhar com os olhos baixo, vermelhos e cheio de lágrimas que eu estou segurando para não deixar cair na frente desse cara mau e violento, pois sei que se eu fizer isso, chorar feito um bebezinho diante dele, com certeza esse será mais um motivo que ele terá para achar que pode me bater de novo, mesmo que isso não seja verdade.

Então eu aperto as duas mãos unidas uma contra a outra como se fizesse uma prece silenciosa em minha mente, e mudo de postura por estar com as pernas dormente de permanecer na mesma posição por muito tempo. Eu me forço a engolir o choro, o medo, a raiva, e o pavor, quando me levanto do chão e paro diante dele, sem ter um pingo de coragem para olhar nos olhos ou no rosto desse tal de tio Marcos. Eu apenas balanço a cabeça para cima e para baixo, como uma afirmação muda de que farei como ele disse. Não sou tão burra ou idiota só por que sou criança, para saber que não tenho outra alternativa a não ser que tenho que obedecê-lo cegamente, pois caso contrário, sofrerei as piores consequências.

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