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Rejeição

Mia acordou com a animação de Nicolas, querendo conhecer todo aquele mundo novo. Ela mesma ainda queria dormir, mas sabia que seu filho não ficaria mais quieto e se forçou a levantar e cuidar do pequeno.

— Olha só quem está todo animado! — Exclamou Jane, ao ver os dois descendo as escadas.

-— Eeeeeh, tia! — cumprimentou, Nicolas, em forma de alegria.

— Bom dia, Jane! Ele acordou com a corda toda e parece que vocês também levantaram cedo. — Cumprimentou, Mia.

Sim. Na verdade, nem dormimos. Josué já saiu e eu também terei de ir.

— O que está acontecendo, Jane?

— Houve um ataque na floresta de Zandia, ao lado da Alcateia vizinha. Parecia um assentamento, não sabemos exatamente, pois tudo se queimou.

—Eram dos nossos? — Perguntou Mia, preocupada.

— Até o momento, parece que não, mas só tem cinzas. — Explicou Jane.

— Entendi. Tomara que tenha sido um caso isolado — desejou, Mia.

— Sim. O café está na mesa, fique à vontade, podem passear, só não saiam da cidade, pois pode ser perigoso, já que ainda não sabemos o que aconteceu.

— Está bem, obrigada. Vá tranquila e se precisarem de ajuda, é só me chamar.

— Tá bom, até logo e divirtam-se, viu Nicolas.

Nicolas sorriu e deu tchau para a tia e se virou para ir tomar o café, parecia ter fome,as assim que ficaram sozinhos, perguntou para a mãe:

— Mãe, como o papai vai achá a gente?

— Seu pai, mas porque isso agora, Nicolas, você nem conhece seu pai?

— Conheço sim, ele sempre vai me ver, disse que é nosso segredo. — Respondeu Nicolas, aborrecido com a mãe, abaixando a cabecinha e fazendo bico, com os bracinhos cruzados.

Mia paralisou, olhando para o filho sem saber se aquilo era verdade ou só invencionice de criança. Agachou-se até ficar da altura do menino e olhando em seus olhinhos, perguntou:

— Isso é mesmo verdade, meu filho? Seu pai te visitou? — Tentou passar confiança para o filho, segurando em seus ombros.

— Sim, mamãe. Ele diz que pareço com ele e que num vai dexá ninguém fazê mal pa gente.

Mia pôs os dedos tampando a boca e sufocando um soluço, levantou-se, segurando o choro e tentou fugir um pouco da gravidade do assunto.

— Vem, vamos tomar o café e continuamos a conversar lá, tá bom?

— Tá bom, mamãe. Fica tiste não, mamãe. Papai tamém gosta muito de você.

Ela sorriu triste para seu filho, pois ele nunca iria compreender que o maior dos perigos que corriam, era justamente com seu pai. Aquele homem não sabia o que era respeitar uma criança, não sabia amar e era bom que ele não soubesse onde eles estavam.

Sentaram-se à mesa e havia até uma cadeira mais alta para Nicolas, que olhou a mesa cheia de quitutes, com olhos gulosos. Mia serviu-o e ajudou-os a comer, enquanto também tomava seu desjejum.

— Agora conta, mamãe, ele vai achá a gente?  Você dexô o dereço pá ele.

— Seu pai é muito esperto filho, fique tranquilo, ele nunca vai perder quem ele gosta.

Nicolas ficou satisfeito com a resposta, mas sua mãe estava estarrecida em saber que o ser odioso, que tanto mal lhe fizera  nunca a abandonara, mas agora assediava o próprio filho.

Terminaram de comer, ela resolveu conhecer as proximidades da casa do Alfa e distrair um pouco o filho. Saíram pela porta da frente e seguiram pela rua principal. Haviam casas espalhadas, lojas, jardins bonitos e arborizados e pessoas passavam.

Nicolas achava tudo lindo, principalmente por ter sua mãe consigo e não precisar ir para a creche. Passava pelas pessoas e acenava sorrindo, sem perceber a carranca das pessoas quando olhavam para eles.

Mia, no entanto, reparou e em determinado momento, parou, diante de três mulheres que cochichavam.

— Bom dia, está acontecendo alguma coisa estranha? — Perguntou para elas, sem desconfiar de nada.

— Estranha é você, que mal chegou e já está enfurnada na casa do Alfa. 

— Sim, ele nos convidou para ficar lá, até termos nossa própria casa — explicou ela, querendo ser educada.

— Não sinto cheiro de macho em você, és viúva ou mãe solteira? — Perguntou outra, jovem e muito bonita.

— Não tenho companheiro. — Mia desconfiou que não estava sendo bem vinda e puxou Nicolas para trás de suas pernas.

— Você não tem vergonha não, sua vadia, desavergonhada, que já se jogou na cama do nosso alfa.

— Não te queremos aqui, sua fêmea promíscua.

Mia foi se afastando para trás, tentando colocar distância entre as mulheres e proteger seu filho, que já estava assustado, mas as mulheres falavam cada vez mais alto, chamando atenção das outras pessoas.

— Essa vadia quer desvirtuar nosso Alfa. Fêmea promíscua aqui não tem vez.

— É, vai embora, piranha!

Então veio a primeira pedra e Mia se virou de costas, protegendo Nicolas e tentou correr, mas estava cercada. Se encolheu no chão, protegendo o filho com o seu corpo e recebendo as pedradas.

— Que morram, mãe e filho, de vadia não nasce coisa boa…

— Éh, vamos proteger nosso alfa.

Já tinham sido jogadas muitas pedras quando um rosnado forte foi ouvido,  e todos pararam, dando passagem para um homem muito forte, que estava com seu lobo à flor da pele.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntou o homem, aproximando-se de Mia.

— É essa meretriz aí, que está pervertendo nosso alfa! — Gritou a jovem bonita.

— Tinha que ser você, né Suellen? — Bradou o homem, enfurecido.

Ele se abaixou ao lado de Mia e puxou seu braço aguentado para que, de debaixo dela, saísse o menino que, por sorte, não havia sido atingido. Nicolas olhou para sua mãe e viu que ela estava muito ferida e desacordada e ficou muito preocupado, começando a chorar e chamar

— Mamãe, mamãe, acóda!

— Calma, garoto, vou levar sua mãe para o hospital, ela vai ficar bem.

— Vocês machucaram a mamãe —  acusou ele, olhando para as mulheres — meu papai vai matá vocês.

As mulheres riram:

— Você não tem papai, menino.

— Tenho sim e ele vai nos achá e pegá você. — Então olhou para o céu e começou a gritar — PAPAI! PAPAI!

— Calma, garoto, venha, vamos levar a mamãe para o médico — o homem carregava o corpo de Mia desacordado e foi seguido por Nicolas — esperem o castigo do Alfa pelo que fizeram com sua amiga de infância. — Pronunciou o homem, se afastando.

Todos que ainda estavam  parados no lugar, entreolharam-se e focaram na tal Suellen, percebendo que podiam ter cometido um erro. Suellen no entanto, deu um sorrisinho maldoso e falou para si mesma:

"Essa daí? Já era, ninguém toma o Alfa Josué de mim, ele será meu, só meu"

*****

Nos confins da floresta, em outro continente, o homem acordou assustado, ouvindo os gritos de seu filho: Papai, papai. Levantou-se correndo, lavou o rosto e refletiu sobre o chamado. Parecia um pedido de socorro, seu filho parecia estar chorando, só que não vinha do local onde ele estava morando com sua mãe.

Preocupado, vestiu-se com um gesto e sumiu, aparecendo dentro da casa onde seu filho morava com a mãe, mas estava tudo vazio. Ela havia ido embora.

— Acho que vou iniciar minha cobrança mais cedo e sumiu novamente.

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