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Capítulo 4 *NO MEU QUARTO*

BELLA • N A R R A N D O

Vejo a chuva passar e o carro de Teodoro se aproximar de casa, não tive coragem de entrar e fingir ter tido uma manhã feliz, quando o que acontecia era que meu mundo chato estava desmoronando.

Sentada na cadeira de balanço da vizinha que estava viajando, fico remoendo as palavras do estranho que nem o nome sei. A dúvida paira sobre mim, fazendo-me queixar-me do meu jeito, a forma que sou tratada pelas pessoas como se eu fosse uma ninguém, me refiro as da minha idade.

— O que tá fazendo aqui?

Roberta apareceu no meu campo de vista, ela estava ensopada e tinha nas mãos uma garrafa de bebida alcoólica.

— Estava bebendo?

— Eu perguntei primeiro.

— Estou pensando. Agora me responda.

Suas reviradas de olhos e expressão de raiva são normais para mim, estou acostumada. Ela se aproxima, repara a casa, depois senta do meu lado.

— O homem que mora aqui é um estuprador.

— Quê?

— É isso que ouviu, Bella.

Coloca a garrafa em sua boca, engolindo a bebida cor preta.

— O senhor Clayton é um homem honrado.

— É, ele tira a honra das meninas iguais a você.

Inclino a cabeça para o lado, chateada comigo mesmo.

— Ei que foi?

— Não é nada!

— Foi o que eu disse?

Nego balançando a cabeça, começando a chorar feito um bebê que precisa ser pegada nos braços para ser mimado.

— Bella, não quis dizer isso, é que você sabe. É ingênua para algumas coisas.

Explicou-se,mesmo preocupada disse a verdade, não quis voltar atrás.

— Sou ingênua e não consigo me defender.

— Alguma daquelas meninas fizeram alguma coisa com você?

Replicou irritadamente, encarando-me.

— Não.

— Conta logo o que aconteceu!

— Àquele homem do Bar..

Roberta apertou as mãos uma na outra.

— O que ele fez?

— Me trouxe aqui em casa.

— Como assim, Bella?

— Alguém espalhou sobre o que eu vi naquela rua.

Seu cenho franzido mostrou confusão.

— Quem fez isso?

— Não sei, Não sei!

Disse nervosa.

— Somente nós duas sabia, Roh.

— Não, não é só nós que sabemos disso.

Não captei seu raciocínio.

— O pessoal da delegacia, em específico a mulher que fez o acompanhamento.

Minha mente embaralhou.

— Ela não estuda na escola, e porque faria isso se ela é uma mulher da lei.

Roberta suspirou.

— Leandra é filha dela, Bella. E ser uma policial não faz ninguém ser honesto, isso é uma escolha.

Leandra é a patricinha da escola, vice-líder de torcida, dificilmente a vejo por sempre viver rodeada de meninas que lutam pela atenção dela.

— Como sabe disso?

— Avisei que ia investigar, comecei pela mais fácil.

Saiu do balanço.

— Roberta, tem certeza disso?

— Você não contou nada para ninguém, e eu nem de longe me dou com o pessoal da sua escola. Nunca prejudicaria você.

Conseguir sorrir por seu companheirismo.

— Deixando esse papo de sentimentalismo. Me conta, ele fez alguma coisa com você? Que negócio é esse de vim te deixar aqui? Não me esconda nada Bella, conte-me. Eu mato esse cara.

Odeio ter que mentir, tanto para estranho como principalmente para pessoas que amo. Mas, não poderia contar a verdade, por Roberta ser louca e corajosa o bastante para cometer um crime para me salvar. Não é exagero, conheço ela.

— Acho que não chegou nos ouvidos dele, sobre o que espalharam. Ele me salvou.

Olhei para minhas mãos, salvou e não salvou é complicado.

— Salvou?

— Sim, amedrontada pelos papéis espalhados, e também pelos meus adoráveis colegas de turma, sair correndo, quis vim andando para casa. Um homem pensou que eu fosse uma prostituta se quis me pegar à força, o cara do bá me livrou dele.

O queixo de Roberta quase caiu.

— Quer que eu acredite nisso?

— É a verdade.

— O cara pensou que você é uma protistuta?

Afirmei.

— Puta que pariu, mas fácil te confundir com uma personagem de anime pelo uniforme estranho, do que com uma prostituta. Nem cara você tem para isso.

Disse indignada, bebendo sua bebida.

— Para de beber, Roberta!

— Quer dizer que o grandão não sabe de nada?

Riu. Era difícil decifrar Roberta, ela poderia estar falando sério, entretanto você não sabe por sempre usar a ironia.

— Não sabe, e isso é bom.

— Temos tempo para ter prova que aquela aruda da delegacia abriu a boca sobre o caso.

Isso pode salvar minha pele, mas não dessa noite.

— Se ele não fez nada, porque está com essa expressão no rosto?

Suspirei.

— O de sempre Roh, o de sempre.

— Bella, se oponha diante desse pessoal que inferniza sua vida. Se não eu irei me meter e arrancar cabelo junto de aplique daquelas vagabundas, e dos meninos o pau podre. Sabe que não brinco.

Dá medo quando ela fala essas coisas. Não quis dizer nada, acabei de mentir para minha melhor amiga, tenho um "encontro" com um cara perigoso, e tem Everton que estava acabando com minha reputação.

~●~●~●~

A conversa com Roberta foi encerrada quando tia Jenna nos viu do outro lado da rua. A confusão começou por não ter vindo com Teodoro e pôr claramente ele saber que denunciei um cara perigoso o que nem foi ele diretamente, isso fez tia Jenna também saber que Roh andou mentindo para ela.

— Você não pensou, Bella? Nas consequências disso.

Tia Jenna anda de um lado para o outro, ela estava atemorizada, deixando-me mais apavorada sobre o que eles começavam a falar do dono do bá.

— Tia ela estava assustada, viu uma menina ser violentada. Queria que ela fizesse o'que?

Roberta me defende, quanto a mim não consigo dizer nada.

— Viesse para casa, você mentiu para mim.

— Mentiria novamente, Bella fez o que achou certo, tia.

Exaltou-se, se continuar nessa confusão, palavras ditas abrirão feridas.

— Tia, fiz o que achei ser o certo. Não se preocupe, tudo está tranquilo, nada aconteceu.

Falei para acalmar os nervos.

— Mas pode acontecer, Bella.

— Não vai acontecer, ninguém vai encostar em Bella. O pessoal da polícia já estão cuidando disso.

Olhei para Roberta, ela começou a mentir.

— A polícia daqui? — a voz dela saiu incrédula.

— Não, é da cidade vizinha, fiz questão de ir até eles para ter total certeza da segurança da Bella. Por isso não fui à escola.

Não desmentiria a Roberta.

— Tem certeza disso?

— Tenho, não se preocupe.

Assegurou. Tia Jenna sentou no sofá, sua expressão suavizou um pouco, as mãos dela tremiam. Nunca soube direito sobre o passado dela, somente tinha conhecimento que não foi fácil, ela se envolveu com alguém que não devia.

— Vocês duas! — olhamos para o tio Teodoro que somente agora se manifestou. — Não vão sair daqui sem mim ou a Jenna . Isso é uma ordem e quero que sigam ela, só é escola e casa.

Roberta arregalou os olhos, quando eu só fiz concordar.

— Sem objeções, Roberta! — a impediu de falar qualquer coisa. — Para cima, as duas.

~●~●~●~

Em silêncio nos retiramos da sala, subimos as escadas.

— Hoje eu preciso ir a um lugar, Roh.

Disse ao chegar em frente ao quarto dela, que é antes do meu.

— Escutou o que Teodoro disse.

— Eu sei, mas preciso sair.

— Para ir aonde?

Não respondi. Roberta se aproximou de mim, olhando-me severa.

— Não vou ajudar você a sair dessa casa Bella. Vai ficar segura aqui.

Somente Roberta sabia sair despercebida, não sei se sai pela janela ou pela porta, o que não duvido, ela é ousada. Eu já não consigo esconder as coisas.

— Por favor! Quando for sair me chama.

— Quem disse que vou sair?

— Você sempre sai Roberta.

— Hoje não vou sair.

— E seu compromisso?

— Ele vai vim até mim.

Suspirei derrotada. Não adiantava discutir com ela, ela nunca muda sua decisão.

— Muda essa carinha, estou cuidando de você. E Teodoro sabe ser um padrasto megero.

Isso é uma verdade universalmente conhecida por nós duas.

~●~●~●~

O dia passou apressadamente, fazendo-me a cada momento ficar à beira de ter um infarto. O clima em casa ficou tenso, Tia Jenna não quis almoçar, seu semblante preocupado me fez pensar que não era somente pela minha burrice.

— Tia — entrei no quarto dela.

Tia Jenna estava sentada na cama de costas para mim, me aproximei dela, e vi que segurava um pequeno Baú.

— Ainda está com muita raiva?

Ela fechou o baú com o cadeado próprio dele, o colocou debaixo da cama. Virou para mim.

— Não, não estou. Sinto orgulho por você ser tão boa.

Bateu na cama ao lado dela para que eu sentasse.

— Precisa saber, ninguém vem machucar a gente. Não fique aflita. Isso é só uma fofoca, o assunto foi encerrado na delegacia.

Meias verdade me salvaria dela perceber que estou mentindo.

— Você viu ele?

— Quem?

— O serpente.

Sem compreender, balancei a cabeça.

— Não sei de quem fala, tia.

— O homem alto de olhos azuis..

Ela levantou a mão dela e o desenhou no ar. Como ela sabe como ele é?

— O cabelo dele deve estar grisalho e com certeza ainda grande..

Não era da mesma pessoa que falávamos. O sorriso que ela mostrou foi de uma mulher apaixonada.

— Não vi homem nenhum com essas características. Não denunciei o dono do bar, somente disse que vi vários homens abusando de uma menina, só isso.

A expressão da tia Jenna tornou-se embaralhada.

— Não viu esse homem?

— Não vi ninguém, tia.

Atômica ela levantou da cama, depois me encarou, fechou os olhos ao tornar abri-los voltou já não estava mais a mulher confusa, e sim a Jenna, mulher de Teodoro .

— Fico mais aliviada em saber disso — sorriu mas sem total sinceridade. — Vá dormir, amanhã não tem aula, mas por estar de castigo, você e a Roberta vão limpar a garagem.

Expelir revoltada, mas não quis protestar.

~●~●~●~

Andei para meu quarto, olhei para a cabeceira da cama vendo o relógio marcar 22:04 hrs.

Fiquei me torturando, com pensamentos aterrorizantes. O que ele vai fazer comigo, quando chegar e não me ver onde ordenou que estivesse?

Vesti meu pijama de florzinha, Roberta odeia ele, apesar de ser pequeno demais tem valor sentimental para mim.

Deitei na cama me embrulhando, fiquei de peito para cima, os olhos fixos no relógio, aos poucos minhas pálpebras foram pensando,lutei para não ser vencida pelo sono, mas fracassei.

~●~●~●~

Avidei mexendo-me na cama, estava de bruços, ainda ensonarenta. Conseguir ver as horas 00:50 hrs.

Na dúvida, estiquei meu braço para pegar o pequeno relógio. Minha mão chegou a tocar nele, mas de repente ela foi puxada e colocada em minhas costas, machucando meu braço. Apavorada me contorci ao sentir alguém em cima de mim.

— Se gritar, o primeiro que passar por aquela porta, vai morrer.

Estremeci quando identifiquei a voz. Fui virada rapidamente, encontrando aqueles olhos claros que arrepiaram todo meu corpo.

— Esqueceu do seu compromisso, Bella?

Segredou encostando levemente seus lábios nos meus, o que fez meu corpo aquecer por essa aproximação.

— Senhor senhor,eu não…

Tentei falar sem fazer nossos lábios se encaixarem. Isso é insólito, porque essa proximidade? Vai me matar aqui?

Parte do seu corpo estava em cima do meu, a outra fora da cama. Meus braços estavam em cima dos meus seios, seu corpo pesado fazia sentir sensações inexplicáveis.

— Marco — ciciou, atento a meus lábios, meu corpo começava a esquentar, minha respiração acelerava. — Marco Fox! Me chame pelo nome.

Aquilo foi inesperado. Ele é irmão do Delegado, por isso a rapidez e permissão para conversar comigo.

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