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Capítulo 2

João

Eu acabei de chegar no Brasil, de novo.

Às vezes eu me canso dessa rotina, apesar dos meus familiares e amigos pensarem que viajo tanto por ser um desocupado, minha realidade não é bem assim.

- João, vai ficar quanto tempo dessa vez? - Minha irmã pergunta quando estamos tomando o café da tarde junto de nossa mãe.

- Laurinha, cuida da sua vida. - Digo rindo enquanto mordo um pedaço da torta de galinha que minha mãe prepara muito bem. - E o Lukas?

- Em breve ele irá para Dourados, estamos expandindo nosso negócio. - Minha mãe diz meia triste.

- A senhora nunca vai se acostumar não é? - Laura diz abraçando-a.

- Não... Meus filhos todos aos poucos vão para longe de mim. - Uma lágrima solitária desse pelo seu rosto.

Ah, não!

- Ô mãe, pare com essa choradeira! Acabei de chegar de viagem e sou recebido com tristeza? - Me levanto de meu lugar e vou até ela lhe dar um beijo na bochecha.

- Filho, quando que você vai dar orgulho para sua mãe e formar uma família? Você é meu filho mais velho, tem que dar o exemplo para seus irmãos! - Essa conversa fiada de novo?

- Mãe, ainda não apareceu a moça certa. - Digo para evitar um longo discurso.

Eu não sou velho! Não estou nem perto de me casar, e quando chegar a hora a moça vai ter que ser perfeitamente gata!

Olhos azuis, morena dos cabelos lisos e macios, barriga chapada com um piercing sexy, lábios carnudos e vários outros atributos.

- No quê você está pensando, seu pervertido? - Laura.

- Em minha futura esposa. - Digo me fazendo de homem sério.

- Bom menino, aí quem sabe você pare com essa folia de não parar em lugar nenhum, hora aqui outra em Portugal.

- Mãe, espereis com paciência no Senhor e o mais ele fará!

- Não brinque com essas coisas!

- Estou falando sério!

- Aham.

- Você não me ama mais?

- Hã?

- É assim que você me trata depois de meses sem me ver?

- Nem sei do que você está falando.

- Nem eu. - Gargalho.

***

Depois de algum tempo com minha mãe e minha irmã, vou vizitar meu pai e meu irmão no escritório.

- Onde está o Lukas? - Pergunto depois de abraçar meu pai.

- Seu irmão anda muito distraído, o término com a Sara o deixou muito confuso, em um momento é o garanhão, em outro um adolescente sofredor. - Conta meio chateado.

- Não adianta, ele não tem alma de lobo igual ao lobão aqui. - Gargalho.

- Pois saiba que você não é nem de perto o lobo que eu era na juventude.

- De que adianta? Se uma loba mais inteligente que você o caçou? - Digo me referindo à minha mãe e ele gargalha.

- Dê graças a Deus, ou você não teria nascido.

- Verdade.

- João, já que está aqui trate de trabalhar!

- O que te faz pensar que eu não trabalho? - Pergunto indignado.

- Vá apresentar uma residência para uma possível cliente, locação, pode fazer isso? - Aff.

- Como se eu nunca tivesse feito isso antes. - Reviro os olhos.

Odeio quando insinuam que eu não trabalho.

Só acho que não sou obrigado a dar satisfação de tudo o que eu faço. Afinal de contas eu não peço dinheiro ao meu pai, como ele acha que eu sobrevivo? Lógico que eu trabalho. Só não posso dizer o que eu faço.

- João? Isso foi um sim?

-Sempre é um sim. - Afinal de contas sempre faço isso para ele.

- Vistas um terno, pode ser? - Faça-me rir.

- Pai, não abuse da sorte, estou lhe fazendo um favor! Não sou seu funcionário! - Pisco.

- Como ousa vir me ver vestido assim, parecendo um bad boy?

- De novo essa conversa? Pai, aproveite enquanto o seu filhão está no país, ficarei muito pouco tempo dessa vez.

- Vá logo fazer o que eu te pedi. - Pede estressado.

Ele não gosta nenhum pouco quando o assunto é esse. E nem eu.

Por que eu não posso viajar de um país para o outro quando bem entender?

Arg.

Eu já sou crescido, não sei porque ele se importa. Acho que o fato de eu não depender dele o deixa assim.

***

- Gabriela! - Leio o nome da cliente no formulário. - Gabriela Do Valle.

Espero que seja gata, assim não será tão cansativo.

Afinal de contas não estou no Brasil a passeio, como faço parecer.

Estou com o carro da minha mãe em frente à residência que irei apresentar, um lugar confortável e agradável, porém humilde.

Fico com o carro estacionado em frente à residência esperando que a tal Gabriela chegue.

Já fazem uns dez minutos que estou aqui, será que essa Gabriela não tem compromisso?

Estava marcado para as cinco horas da tarde, já são cinco e dezoito!

Espero que seja gata.

E solteira, óbvio.

Depois de mais dez minutos esperando um táxi para bem atrás de mim, e então uma moça loira desce completamente apressada segurando algumas sacolas.

Deve ser a Gabriela.

Me olho no retrovisor, dou uma ajeitada no cabelo, esfrego minhas mãos, pego a pasta e desço do carro.

- Mas senhor, precisa me devolver o troco! - Diz em um tom autoritário.

O taxista diz alguma coisa e então sai cantando pneus, deixando a moça extremamente irritada.

- Gabriela? Você é a Gabriela? - Pergunto me aproximando, e à cada passo que eu me aproximo é um grito que meu coração dá dentro do meu peito.

Ela não é gata, ela é perfeita!

Olhos claros, cabelos loiros e brilhantes, provavelmente macios, magra no ponto certo, gostosa, na ve3, por está mais para um excesso de gostosura em suas pernas, mas não chega a ser demais.

- Sim, sou eu, aquele velho desgraçado levou meu troco! - A gatinha tem boca suja?

- Ele o quê? Levou seu troco? - Pergunto olhando na direção em que o taxista se foi, nem sinal dele mais.

- Maldito! - Ela diz com os olhos vermelho de raiva.

Eu fico meio sem jeito. Ela deve estar precisando muito do troco dela.

- Quanto foi que ele levou? Posso lhe dar. - Digo pegando a minha carteira do bolso da jaqueta que estou usando.

Gabriela me olha com uma expressão perturbada.

- E quem é você? Esquisitão! Por que acha que eu quero esmolas de você?

- Me desculpe! Calma! Eu sou quem vai lhe mostrar a residência! Eu vi que ficou muito chateada por ter perdido seu troco que queria lhe ajudar! Mas, retiro o que disse, pode ser? Será que a senhorita gostaria de conhecer a residência? - Digo tentando ser o mais agradável possível.

Já vi que essa gatinha é descendente de tigresa.

- S- sim, me desculpe, você não tem nada haver com os meus problemas. - Me sorri tentando parecer gentil mas ainda consigo enchergar perturbações no fundo de seu olhar hipnótico.

- Por favor, me acompanhe. - Digo ignorando meus pensamentos sobre ela.

Do tipo: eu adoraria domar essa tigresa, ao mesmo tempo em que eu pergunto: o quê lhe aflige tanto, doçura? Me conte que eu terei o maior prazer em lhe ajudar.

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