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02 - Jahi Gad

Jahi Gad

Mas um homem com os cabelos brancos em um coque me chamou atenção. Volto a minha atenção para as minhas compras sentindo o cheiro de magia que exalava dele, o odor ocre deixava claro que ele não era um homem comum, deve fazer parte de algum círculo mítico que existe na imensidão desse universo.

Nervoso e ansioso, pego somente o necessário e vou em direção ao caixa para pagar minhas compras queria sair daquele lugar o mais rápido, mas em vez de voltar pelo mesmo lugar que vim, escolho ir por um novo caminho, para evitar que ele encontre o caminho até a minha toca.

Depois de rodar meia cidade e parar em um café, tenho certeza que ele não estava me seguindo. Não conseguia mais sentir o odor que sai daquele desconhecido. Decido voltar para a minha toca e ver como estava a minha companheira. Saí da cafeteria e olhei para todos os lugares. Ergo um pouco as narinas para confirmar e, de fato, não conseguia mais o sentir.

Meu lobo dentro de mim estava agitado, podia ouvi-lo rosnando e tentando me impulsionar para frente. Ele desejava que retornasse para a nossa toca rápido, é como se estivesse prevendo o perigo que estava a espreita.

Volto para a minha toca ansioso para rever a minha linda loba branca. Caminho para dentro da minha toca e então volto a sentir o odor daquele homem novamente. Para o meu desespero ele estava lá, deitado no meu ninho e com a minha companheira presa com o braço dele envolvendo o seu pescoço e uma adaga apontada em direção à barriga protuberante de minha companheira. Dou um passo a frente e o vejo apertar o seu pescoço.

— Muitos erros cometidos… — Ele começa dizendo. — Não se preocupe Jahi, seu filhote nascerá, darei a chance para que esse bebê mostre ao mundo lupino o quão valioso é. — Diz e vejo minha companheira se contorcer em dor.

Dou um passo a frente para poder ver melhor se ela estava bem e então sinto a presença de outra pessoa que acerta um golpe em minha nuca, fazendo com que caísse de joelhos de frente para minha companheira que começa a uivar com dor.

Com os olhos vidrados no que acontecia com a Freya. O grunhido alto da loba branca a minha frente me deixa ansioso e tento me aproximar, respiro fundo sentindo o meu peito queimando. Os rosnados do meu lobo me deixam ainda mais irritado com esse maldito apertando a minha companheira como estava.

O uivo de Freya me deixa desesperado e a forma que aquele homem apertava a sua barriga, forçando o nascimento do meu pequeno lobinho me deixou transtornado. Darei a minha vida para proteger a minha família e tenho certeza que quando o pai de Freya souber que alguém foi enviado para nos matar, ele entrará em guerra.

Mas antes que pudesse me aproximar do ninho da minha loba protetora sinto o primeiro impacto no meu corpo, o som oco de vários disparos não impede que entre no círculo que ela havia feito com tanto carinho a espera dos nossos filhotes.

Cambaleio e sinto a dor percorrendo por todo o meu corpo, não tenho forças e o meu lobo uiva desesperado por não poder salvar a companheira pela ligação que nossa deusa Selene abençoou há tantos anos!

Caio perto de suas patas e vejo o seu pelo tingido com o seu sangue, ouço o choro de minha loba e a lágrima que escorre em seu pelo, faz com que me martirize por não proteger a minha família os deixando vulneráveis.

— É uma menina… — Aquele desgraçado diz.

Ergo a minha pata dianteira tentando alcançar Freya, sua fisionomia de desespero estava estampada. Aquele maldito aperta o seu pescoço mais uma vez.

E depois de muitos meses Freya consegue voltar ao seu estado humano, seu rosto estava banhado em lágrimas.

— Me perdoe Jahi, não esqueça eu te amo mais que tudo… — Ouço um disparo oco.

Fico sem reação ao ver aquele homem com a arma apontada agora em minha direção. Minha companheira é lançada a minha frente sem vida, seus lindos olhos que um dia tinham um tom achocolatado agora estava sem brilho e sem alma.

Meu lobo emite um uivo cortante, deixando a sua dor e mágoa pela perda rasgar o silêncio que se fez dentro daquela toca, o lugar que escolhi para ser o meu lar e o recinto que imaginei ser a nossa pequena fortaleza. Mas falhei terrivelmente com a mulher e a loba que amo.

— Pode matá-lo, se aquele beta idiota acha que pode me enganar, ele está muito enganado, essa pequena será a ruína dele! — Ele diz.

Ergo o meu olhar uma última vez para o céu estrelado que tanto a minha companheira amava e via sobre nós a luz que entrava pela abertura no fundo da nossa toca, o lugar onde será nos descanso para a eternidade. Selene estava esplendorosa cheia e vermelha.

Minha filha, minha pequena lobinha com a pele tão linda como a lua e com uma penugem sobre a sua cabeça com a mesma cor que a nossa deusa. Sorrio para a divindade que nos banhava com a sua luz e sou grato por tudo o que experimentei até aqui.

Olho mais uma vez para a minha companheira, sinto o cano da pistola em minha têmpora e meu lobo traz um pensamento do fundo da minha mente.

Deixando claro em nosso leito de morte que a profecia se cumpriu naquela noite!

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