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01 - Jahi Gad

Jahi Gad

Em um mundo onde a nossa existência não passa de história de terror, mito e fábula, é sempre perigoso ter que adentrar ao mundo humano para conseguir recursos importantes para a manutenção de minha pequena matilha.

Minha companheira é uma loba diferente, o cheiro adocicado que exalava dela não é de uma simples ômega, havia algo a mais nela que transcendia o que realmente Freya deve ser. Uma magia muito mais antiga do que a espécie que somos. Ao vê-la deitada no enorme ninho que ela havia preparado há algumas semanas vinha me deixando ansioso, a gestação do nosso bebê estava terrivelmente acelerada.

Por esse motivo decidi nos afastar de tudo e principalmente da matilha a qual fazíamos parte. Deixamos a nossa ilha Hailuoto para trás, quando vários outros lobos passaram a ter muito interesse em como Freya cheirava.

Realmente a minha companheira se tornou muito mais atraente para mim, devido a nossa ligação. Mas ela também ficou sedutora para outros lobos da nossa matilha e isso me incomodou, além de me deixar bastante temeroso com a nossa segurança.

Comecei a ficar assustado com a segurança da minha pequena loba que se sentiu ameaçada e desde então ela não conseguiu retornar para seu “eu” humano. A mantendo em seu estado animal há mais de três meses.

Nos tornamos nômades apenas para que Freya possa ficar em segurança assim como nossos filhos ou filho, ainda não temos certeza de quantos bebês teremos, mas pelo cheiro que ela estava exalando, tenho a sensação que será apenas um filhote.

Olho para a minha companheira deitada em seu ninho, no fundo da toca que consegui encontrar e transformar em nosso refúgio. Caminho até ela e com cuidado para não levar outra mordida, sorrio ao ver os seus olhos em minha direção, vendo se não baguncei o seu trabalho. Freya se tornou meio obsessiva com a forma que cada um dos panos que ela havia escolhido para formar o seu ninho estavam arrumados. O que me faz sorrir, sei que minha linda loba será uma ótima mãe protetora como é de seu instinto.

Me aproximo dela me abaixando para ficar próximo aos seus olhos e poder conversar com ela por um instante.

— Acha que consegue voltar, meu amor? — Pergunto para a loba deitada.

Ela estava exibindo a sua enorme barriga e a via com uma respiração cansada, sabia que seu parto vinha se aproximando e isso começava a me preocupar. Um rosnado baixo e um suspiro é a sua resposta a minha pergunta.

— Tudo bem, tenho que ir à cidade comprar mantimentos para você, acho que logo a nossa toca terá um novo habitante. — Digo fazendo um carinho atrás de sua orelha.

Ouço um ganido baixinho, aquilo me deixa tranquilo de uma forma inexplicável, é algo que me deixa feliz, sei que minha companheira está bem.

— Prometo não demorar! — Digo e saio de seu ninho com cuidado.

Olho novamente para a loba que estica as suas patas se espreguiçando e deita a sua cabeça em um dos travesseiros que escolheu para se tornar parte de seu ninho. Seus olhos se fecham e meu lobo parece inquieto em deixar nossa companheira aqui.

“Não a deixe”

Ele insiste mais uma vez rosnando em minha cabeça, sinto o fogo da transformação em meu peito, mas forço o controle para não me tornar um lobo enorme agora, afinal preciso ir a uma farmácia e comprar algumas coisas para ter aqui assim que nossos lobinhos nascerem.

Viro de costas quando noto que ela finalmente pegou no sono. Tento ser o mais rápido que posso para chegar a Oulu. Olho para todos os turistas que passavam por mim, assim que chego no centro da cidade e puxo o capuz do meu casaco para esconder um pouco o rosto do frio e volto as memórias antigas:

Havia se passado apenas alguns dias que Freya havia saído do seu cio, precisei afastá-la de toda a nossa matilha, já que o cheiro dela se tornou atrativo a todos os lobos, até mesmo aos que já tem as suas companheiras, o que chamou a minha atenção.

— Isso deve ser alguma maldição ou feitiço lançado sobre ela, não tem outra explicação! — Ouço um dos médicos da nossa alcateia dizendo.

— Mas por quê? — Pergunto intrigado.

— Você sabe que sua companheira é de uma alcateia que tem o costume de usar a magia, não é? — Apenas concordo com a cabeça. — Pode ter acontecido algo…

Essa conversa nunca saiu da minha cabeça e a decisão de sair da matilha foi a escolha certa ou seria morto assim que estivesse distraído. O pai de Freya é o alfa de nossa alcateia e assim que nos unimos pelas bençãos da deusa Selene, devia me tornar o líder da alcateia por minha companheira ser a filha mais velha.

Mas tudo isso perdeu o sentido quando todos estavam muito interessados a me matar apenas para acasalar com a minha companheira.

Entro na farmácia e começo a escolher o que precisaremos assim que ela entrar em trabalho de parto, estava com uma cesta em minha mão e escolhia várias coisas até que comecei a sentir aquela queimação em meu peito novamente, algo estava errado. Ergo a minha cabeça e via apenas mais alguns pouco clientes fazendo suas compras.

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