Capítulo 3
Fernanda:
(...)
Fazem exatamente uns seis meses que eu comecei a sonhar com o homem de preto, começa sempre com pesadelos horríveis, mas sempre no final ele aparece junto com a Lua enorme, aí vira um sonho bom e depois frustrante, apesar dos começos inovadores é sempre a mesma coisa no final.
É normal sonhar, né!?
Agora sonhar de diversas formas possiveis com um homem que você nunca viu na sua vida e que sempre tem a lua nas costas, começa a se tornar estranho.
E isso está me deixando deprimida, pois eu comparo todos os caras com o homem de preto, eu só quero saber de olhar para a lua e sonhar acordada com o cara.
Os sonhos estão se tornando mais intensos e mais frequentes, e eu cada vez mais assustada, surtando na verdade.
Mas isso acaba hoje.
Eu moro com meus pais, e hoje graças a Deus eles e meu irmão foram vizitar a minha tia materna, a tia Louis, em uma cidade vizinha.
Se eles estivessem em casa poderiam me tomar por uma louca.
- Agora vamos tirar isso a limpo, dona lua! - eu digo assim que abro a porta do meu quarto - a senhora vai ter que me dizer toda a verdade! - falo enquanto caminho no corredor da casa.
Abro a porta dos fundos que dá para o nosso quintal espaçoso, com gramado e flores.
- Eeeei! LUAAAAAA! ÉÉ VOCÊ MESMOO! - grito com a lua feito uma doida, como se ela realmente pudesse me ouvir - O QUE VOCÊ QUER DE MIM? O QUE O SEU AMIGO QUER DE MIM? SERÁ QUE NÃO PODEM ME DEIXAR EM PAZ? NÃO VÊEM QUE ME INCOMODAM? DIZ PRA AQUELE CHAPADO DE PRETO IR SE APARECER PARA OUTRA PESSOA PORQUE EU NÃO ESTOU MAIS INTERESSADA!
Me silenciei por alguns segundos, dando tempo para a lua.
Eu sei que parece loucura, mas meus sonhos também parecem uma loucura, então eu não tenho nada a perder.
- Já que você não tem decência de me responder - gente que loucura né a coitada não tem nem boca - diz para o seu parceiro que venha! Aquele palhaço de preto! Eu o desafio a aparecer na minha frente agora! Aquele covarde idiota que pensa que eu tenho uma BOLA DE CRISTAL!
É, a lua provavelmente não ouviu, já o vizinho começou a acender e apagar a luz do quarto.
- O QUE FOI SEU PEDRO? - gritei para o coitado que só queria paz, mas como eu DISSE, hoje eu estou louca!
Eu me cansei de todos aqueles sonhos idiotas.
- Não quero mais ele nos meus sonhos! Não quero mais você nos meus sonhos, entendeu? Entendeu dona lua? Eu não aceito vocês na minha cabeça! Estou cansada dos dois! Tchauuuu!
E aí eu volto para dentro como se tivesse tirado um imenso fardo das minhas costas. Deito em minha cama e durmo tranquilamente.
Trabalhei o resto da semana mais leve e muito mais dedicada. Pisquei para todos os caras bonitos que passavam perto de mim e me sentia a gostosona. Durante a noite eu dava umas olhadas torta para a lua como se aquilo realmente fosse capaz de entimidá-la.
Na noite de Sábado, eu e as meninas combinamos de ir para a balada, eu sei que não é novidade, mas para mim parece que é a primeira vez em muito tempo que eu vou me divertir.
Alizei meu cabelo castanho claro e o usei solto, vesti um vestido rodado até os joelhos azul marinho, junto com uma sandália alta preta, usei pulseiras, brincos e um colar, sendo todos prateados com algumas esmeraldas verdes. Passei uma maquiagem pesada e chamativa e me senti linda. Estou vestida para matar!
- Uau! - Bia me analisou por alguns segundos, assim que cheguei na porta da casa dela, ela usa uma saia branca e uma blusinha amarela, está linda com os cabelos soltos - miga, casa comigo?
- Bia pensei que gostasse do Rick! - me confundo - Ou do Willian?
- Que se dane! To pensando seriamente em virar lésbica - Gargalho.
Nos encontramos com a Juliana, e fomos felizes para mais uma noitada.
Hoje eu me sinto diferente, de alguma forma eu acho que os sonhos me deixaram em paz, e lá no fundo da minha alma, apesar de eu não admitir, eu me sinto triste. Não entendo o porque e porisso eu não me importo.
Ansiosa e animada eu vou dançar.
Os jogos de luzes, as mãos se agitando, e eu me requebrando.
Me solto na vibe da música e deixo o som levar meu corpo pra onde quiser.
Numa parte isolada da boate eu vejo alguém me sondando enquanto eu danço. Eu não consigo ver seu rosto, pois as luzes atrapalham e eu não tenho certeza se realmente há alguém lá, mas vai que é algum gatinho que está interessado em mim?
Eu vou parando meus movimentos lentamente sem tirar os olhos daquela parte, quando uma luz ilumina bem no meu alvo, eu estremeço e meus pelos arrepiam desde a ponta do dedão até os fios de cabelo.
Eu o vi.