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Cap 4

Em minha ignorância e pequena capacidade de compreensão entro no consultório e sento-me, antes de fechar a porta, ainda vejo Marta ali sentada na cadeira com a mesma expressão serena de sempre aguardando sua vez.

- Então doutor, eu ainda não sei bem ao certo por que estou aqui, tudo bem, sei que morri, mas  continuo vivo! Isso é bem controverso, então por que eu precisaria de um médico? 

O Dr Jacinto permanece em silêncio,  observando meu prontuário... com um semblante sério...

- Doutor, a minha vida inteira foi de sofrimento e dificuldade, já sofri tanto  quando estava vivo, será que continuarei sofrendo aqui no outro mundo também? pergunto.

Antes que eu possa continuar a falar alguma coisa mais e narrar a minha história de sofrimento, sou interrompido pelo dr Jacinto, que desejava me fazer algumas perguntas e bem... O que viria acontecer dali em diante, seria com certeza a maior vergonha que já imaginei passar um dia em toda minha existência, eu iria descobrir que nem todos os remédios tem sabor agradável e que às vezes é necessário o sabor amargo de um remédio para um resultado de cura mais eficaz...

- Bem... Diogo da Silva Chaves,  37 anos quando faleceu no plano terreno, confere?

- Sim senhor, foram 37 anos bem difíceis... Digo até ser interrompido.

- Por favor senhor Diogo, limite-se a responder o que eu lhe perguntar, quando eu perguntar alguma coisa da sua vida, o senhor me responde, afinal o tempo é muito valioso, ele não para e não volta, sempre avança.... vamos continuar...

- Sim senhor, me desculpe... Digo com visível constrangimento.

- Vejo aqui que o senhor não possuía vícios! não jogava, não bebia, não fumava e nem fazia uso de nenhuma substância química! isso é um ponto positivo para o senhor!  porém...

Meu coração bate tenso e acelerado, eu embora não soubesse exatamente o que poderia ser um problema, ou pelo menos não queria perceber o que seria o meu problema, sabia que havia algo sim errado e o que vem logo a seguir  foi uma série verdades jogadas na minha cara de uma maneira  que eu me senti apresentado a uma versão de mim que eu sempre finge desconhecer.

- Bom senhor Diogo, eu não gosto de rodeios, não sou do tipo que  diz palavras bonitas para agradar, o senhor talvez saia daqui magoado comigo, mas o que vou lhe dizer é algo necessário, na terra, e eu digo no plano terreno, o mundo material, quando o corpo não vai bem, se procura por um médico, ele vai lhe avaliar e lhe receitar o melhor medicamento, o melhor tratamento, mas aqui no mundo espiritual, o papel de um médico é avaliar suas enfermidades da alma, e  tratamento é apenas sugestivo, cabe ao paciente que possui o seu livre arbítrio  seguir a risca ou não, mas na certeza que o senhor sairá daqui medicado... medicado com a verdade...

Fico por um instante sem entender, mas assumo o risco, do que possa vir ...

- Estou aqui doutor pra lhe ouvir, a vida me calejou de tantas coisas... Digo insistindo na minha postura...

-" A vida lhe calejou.... " a vida lhe calejou de quê senhor Diogo?  Bem, vamos lá! O senhor em 37 anos, deixou o quê de legado? Quais foram suas grandes realizações?  O que você  fez  em 37 anos vivendo na terra com tantos recursos que possui? me diga! Estou ansioso para lhe ouvir, embora já sei até as suas respostas...

- Dr... bem... A vida foi muito difícil para mim! Perdi meu pai  muito cedo, tive de assumir responsabilidades que foram delegadas a mim muito jovem!  Não tive foco para me dedicar nem ao trabalho e nem a estudar, tive de cuidar de meus irmãos e ajudar minha mãe a criar eles... a minha vida não foi fácil não! acho que nunca fui feliz ! Casei com uma mulher que acho que nunca amei, ela me abandonou assim que a coisa apertou, levou nosso filho sem me deixar ao menos me despedir!  Justifico até mesmo com certa indignação... Mas...

Dr Jacinto coloca o prontuário sobre a mesa, tirando os óculos e guardando no bolso do seu jaleco, e passa a mão no rosto...

- Senhor Diogo venha comigo por favor... Eu poderia lhe dizer o que o senhor tem de ouvir, mas vejo que o senhor no fundo é um bom homem... venha comigo por favor... Diz o Dr Jacinto se levantando e abrindo uma porta por trás do consultório.

Pela curiosidade eu o acompanho... e vamos caminhando por um corredor que dá acesso uma área imensa, algo parecido com um aeroporto,  era uma estrutura enorme... o céu azul no céu, chegava a doer em meus olhos que não estava acostumado após tanto tempo o escuro com tamanha luminosidade, mas que lindo era aquele azul do céu....

- Então Diogo, veja aquilo! aquilo vindo do céu! 

Quando olho, vejo um tipo de veículo  flutuante que lembrava uma nave , ao mesmo tempo que lembrava um ônibus, mas que parecia não ter propulsão, nem um motor que o fizesse funcionar...

- Que fantástico! que veículo é este? Pergunto.

- O veículo não importa, o que importa é o que tem dentro dele... Diz Dr Jacinto..

De dentro do veículo começam a sair pessoas, muitas pessoas...

- Sabe quem são estas pessoas? Acredito que não, não é?

- Não dr... Não faço a menor ideia... digo.

- São pessoas que desencarnaram, ou faleceram,  mas diferente de você, elas  passaram pelo processo de forma natural, não foram privilegiadas como você em vida física, elas passaram por provações, dificuldades, algumas moravam na rua, algumas nasceram com doenças terríveis...  Diz o Dr Jacinto.

- Mas dr... eu...

- Mas nada Diogo! Não tente argumentar onde não há argumentos, você teve pai e mãe, perdeu seu pai, mas tinha dois irmãos além da sua mãe, você tinha 3 motivos para lhe impulsionar através do amor a alçar seus objetivos... Você tinha casa, tinha uma família para dar suporte... Qual mesmo foi o seu grande problema familiar? Pergunta o Dr Jacinto..

Eu não encontro respostas para aquele questionamento, Minha mãe foi uma guerreira que fez de tudo por cada um de nós para que nunca nos faltasse o alimento, e que estudasse-mos, eu por ser o mais velho cuidava dos menores quando mamãe trabalhava, mas nunca me obrigou a nada, nunca me pressionou a nada e meus irmãos cresceram me admirando como irmão mais velho... 

- Vamos Diogo, quero te mostrar outra coisa, depois vamos voltar ao consultório, o próximo local irá abrir os seus olhos ainda mais... diz o dr Jacinto.

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