Cap 3
Quase não acredito no que meus olhos viam, ali... Diante de mim... Meu pai! aquele homem bondoso que na minha infância até meus irmãos nascerem era o meu melhor amigo, aquele homem que tantas vezes chegava em casa cansado do trabalho, mas que tinha sempre um tempo disposto a me dar atenção, a conversar comigo, a me dar conselhos quando eu aprontava alguma travessura, aquela figura tão importante e que tanto me fez falta durante minha vida.
- Pai? Será que realmente estou diante do senhor mesmo? Ou será que se trata de alguma alucinação? A sensação que tenho é de estar vivendo um pesadelo, já não sei mais o que é real ou o que não é Digo meio confuso.
- Filho, meu filho! Venha dar um abraço no seu velho pai, e descubra! Assim saberá que estou aqui de verdade! Diz meu pai...
Olho para mim, cheio de feridas, descalço e sujo, barba e cabelos grandes... Sinto uma grande vergonha de me aproximar do meu pai....
- Pai, eu gostaria tanto de abraçar o senhor, mas ... Eu não consigo, não me sinto capaz nem mesmo de olhar em seus olhos... Eu falhei meu pai, falhei com o senhor, falhei com as pessoas que acreditaram em mim, minha vida inteira foi um fracasso, um fracasso colossal! O senhor me ensinou tanta coisa no curto espaço que pude conviver com o senhor, e ...
De repente me faltam palavras para dizer ou expressar tudo aquilo que sinto, quando uma moça muito bonita negra, de cabelos encaracolados e olhos verdes que refletiam uma doçura e uma ternura sem tamanhos e ao mesmo tempo uma serenidade única.
- Diogo, Diogo... Por que você foi fazer aquilo? Tirar a sua vida daquele jeito? Você não tinha este direito! Diz aquela moça.
Dito isso, o peso da culpa parece que aumenta de sobremaneira em mim, a minha vergonha é imensa...
- Então é isso, eu morri! morri quando tirei a minha vida saltando daquele viaduto não é isso?
- É isso mesmo meu filho, você cometeu um grande crime, um atentado terrível contra sua vida, Diz o meu pai.
- Então eu estava no inferno, não é isso? Aquele lugar quente, abafado, atormentado dia e noite por aqueles demônios que me perseguiam e me arremessavam daquele penhasco , e depois voltavam a me perseguir novamente e novamente ! Dia após dia... num ciclo vicioso sem fim... Digo angustiado...
Meu pai se aproximou de mim e segurou em meu ombro...
- Calma meu filho, o seu sofrimento no umbral chegou ao fim, ao menos por enquanto, não precisa se preocupar! aqui você estará bem e seguro,contudo... Ouça o que Marta tem a lhe dizer.
Marta era o nome daquela moça tão bonita e elegante, meu pai se chamava Cláudio, senhor Cláudio...
- Seu pai tem razão Diogo, fique tranquilo, venha comigo, vou lhe levar até o doutor Jacinto, ele vai lhe dar a orientação mais adequada, ele vai lhe dizer o que fazer daqui para frente... Diz Marta.
- Vai meu filho, Marta sempre cuidou muito bem de você, eu vou resolver algumas coisas referentes a sua alta, ao sair daqui, levarei você para viver na minha casa... Diz meu pai saindo.
Eu ainda tinha tanto a falar com ele,tanto a lhe perguntar, mas também não pude deixar de ficar curioso quanto a identidade de Marta, aquela moça era muito familiar para mim, embora não me recordasse de seu rosto,ela não me parecia uma pessoa estranha...
- Diogo, fique tranquilo, terá tempo para rever o seu pai e conversarem, agora vamos ver o dr Jacinto...
Fico curioso em que local eu estava? Quanto tempo se passou desde a minha morte? Como estava minha família? Será que minha esposa havia se arrependido de me abandonar quando soube do meu falecimento? Mas Marta parecia ler a minha mente ao se antecipar e adivinhar o que se passava na minha cabeça.
- Diogo, não posso te dar as respostas que você procura saber agora, apenas o dr Jacinto as tem, tenha calma que logo ele lhe atenderá! Mas como disse anteriormente, você estava no umbral, aquele local de sofrimento em que você passou tanto tempo atormentado, aqui é um dos muitos hospitais do mundo espiritual que recebem almas enfermas e aqui elas são tratadas, e encaminhadas para a colônia espiritual e você irá começar um novo processo... Assim diz Marta.
Mas apenas atiça ainda mais a minha curiosidade, afinal o que houve com as pessoas na terra? Minha esposa? Meu filho principalmente...
- Tudo que posso lhe dizer Diogo é que sou sua mentora espiritual, acompanho você desde o seu nascimento, meu dever era conduzir você durante sua existência, auxiliar nas suas escolhas, lhe intuir boas ideias ... Diz Marta.
Naquele momento aquilo me pareceu um tanto quanto sem sentido, afinal de contas ... parecia mais um papo espiritualista.
- Você... minha mentora? Olha moça, eu até achava que isso era real, agora passo a duvidar, minha vida toda, desde os meus 10 anos foi de muito sofrimento, muita dor e angústia, assumir responsabilidades muito cedo,não aproveitei nada da minha vida, se é minha mentora como diz... Onde estava que não fez absolutamente nada por mim? Onde estava que não me impediu de pular daquela ponte? Você não fez um bom trabalho como mentora espiritual se é que tudo isso mesmo real! Digo com certa convicção.
Diante do silêncio de Marta, encho-me de razão, em minha imensa ignorância acreditando ter ido em cheio nos argumentos... Ledo engano.
Paramos diante de uma porta de consultório, escrito Dr Jacinto...
- Olhe Marta,não quero ser grosso com você,mas acho que já pode ir embora agora,eu falo com o dr sozinho, não preciso mais de sua assessoria, acho que já me ajudou o suficiente, me desculpe mas é a verdade... Digo com certa arrogância.
Marta dá meia volta e senta-se numa cadeira da sala de espera do consultório...
- Tudo bem Diogo, apenas irei esperar aqui fora você sair da sala do Dr Jacinto, ele tem hora marcada com você agora, e depois é comigo, então se você puder se apressar por favor...
- Tudo bem então... Eu então bato na porta...
Fico apreensivo por estar com aquelas roupas sujas , mas não havia escolha.
- Bom dia Dr... Sou Diogo, acho que temos hora marcada!
- Sim... Não vamos perder tempo, pois o tempo é um tesouro valioso! Entre e sente-se! Já estou com o seu prontuário aqui!